25 de Julho de
2007 - Pedro Biondi - Enviado especial* -
Pedro Biondi/Abr - Aldeia Ipatse (Parque Indígena
do Xingu) - Crianças kuikuro brincam
simulando uma luta de huka-huka, enquanto
adultos dançam ou registram as apresentações
Aldeia Ipatse (Parque Indígena
do Xingu) - Visitante no fim de semana de
festa na principal aldeia dos Kuikuro, o cacique
Aritana, representando os Yaualapiti, diz
que não se opõe ao envolvimento
dos jovens do Parque Indígena do Xingu
com a tecnologia – desde que ele não
implique abandonar as tradições.
“Inclusive me entrevistaram
aí hoje, eles são jovens, né?”,
relata o líder, em entrevista à
Agência Brasil. “Eu falei tudo isso
para eles: 'Olha, principalmente vocês
que estão mexendo com essa máquina
aqui, depois não vão se sujar
com urucum [semente usada para tintura vermelha],
não vão querer fazer nada, vão
querer fazer só isso, também
não vale, né? Tem que participar
de festa, participar de cerimônia, fazer
tudo'.”
Após ver imagens
de um Kuarup (festa de celebração
dos mortos) em 1984, ele comenta que os jovens
estavam um pouco envergonhados nas danças
do último sábado (21).
O integrante do Coletivo
Kuikuro de Cinema Jairão (ou Mahajugi)
Kuikuro, 20 anos, diz que as duas atividades
não são excludentes: “A gente
dança também. Como seis realizadores,
vai se revezando com a câmera”.
Jairão leva uma prancheta
com uma lista de perguntas jornalísticas,
em português, aos participantes. Ele
conta que escreve na sua língua e na
dos brancos, além de falar kalapalo:
“Para os mais velhos, é difícil
escrever. Para mim, está fácil
demais. Sou lingüista. Estou estudando
direto. Eu não tenho vergonha de falar
na frente do branco porque o índio
foi o primeiro habitante do Brasil”.
“Escrevo bastante poesia
em português”, conta o jovem kuikuro.
“Com vela. Às vezes compro pilha, boto
a lanterna, fico escrevendo na minha casa,
na oca. ” Recorda trechos de poema elaborado
às vésperas das sessões
audiovisuais e da inauguração
do centro de memória em sua aldeia:
“'Estamos aqui, cinco horas da manhã'
e tal... 'A poeira está incomodando
os brancos.' 'Ontem meu pai foi pescar'...”
Ele diz que escreveu em português, mas
pode traduzir. “Quem lê sou eu mesmo.
Meu irmão, a rapaziada.”
Para o jornalista Washington
Novaes, autor de documentários sobre
povos da região, existe um conflito
latente, ainda sem desfecho, entre as novas
e as antigas gerações no Xingu.
No centro dele estariam o consumismo e o abandono
de atividades do cotidiano. “Não se
sabe até quando os velhos vão
aceitar a postura dos jovens”, comenta. “Eles
vão perdendo a autonomia [de saber
fazer todo o necessário à sobrevivência]
e interrompem um conhecimento, uma habilidade.
É o momento em que o conflito se explicita,
e vamos ver em que direção ele
se desdobra.”
Segundo o jornalista, a
educação bilíngüe
é criticada por muitos dos idosos.
Ele diz não ter uma conclusão
sobre a expectativa, de índios mais
velhos, de que a documentação
em vídeo leve os jovens a querer saber
dos mitos e formatos tradicionais. Na Aldeia
Ipatse, boa parte do acervo do centro de documentação
foi recolhido pelo grupo de cineastas.
*O repórter viajou a convite da TV
Cultura.