27/07/2007 - No terceiro
dia de reunião, a Cooperação
e Aliança no Noroeste Amazônico
(Canoa) abordou a situação dos
povos Yanomami que habitam em Roraima, fronteira
com a Venezuela, apresentada pela organização
brasileira CCPY- Comissão Pró-Yanomami
e pela organização venezuelana
Wataniba - Asociación para el Desarollo
Humano Multiétnico de la Amazonia.
Também estiveram em pauta questões
de autonomia e demarcação de
terras na Colômbia e Venezuela.
Reunida em São Gabriel
da Cachoeira (AM), a Cooperação
e Aliança do Noroeste Amazônico
- Canoa - discutiu na quarta-feira, 25 de
julho, a questão da educação
entre os Yanomami, os povos do rio Orenoco
(Venezuela) e do rio Miriti (Colômbia)e
abordou questões de autonomia e demarcação
de terras. Do lado brasileiro, a Terra Indígena
Yanomami se localiza no norte do Amazonas
e a noroeste de Roraima e faz fronteira com
o sul da Venezuela. Os representantes da CCPY,
Marcos Wesley e Clarisse Jabur, traçaram
um quadro considerando diversas questões,
sobretudo em relação ao território
e à educação. Em relação
ao território, os Yanomami vêm
sofrendo com a invasão garimpeira.
Estimativas recentes dão conta de que
existem em torno de mil garimpeiros em terras
Yanomami, invadindo lugares sagrados, degradando
a floresta, trazendo doenças entre
outros males. As ações que a
Polícia Federal e a Fundação
Nacional do Índio (Funai) tem feito
eventualmente para retirada dos garimpeiros,
não são eficazes, pois de acordo
com Wesley, o que deve ser feito é
implementar um serviço de inteligência
em Boa Vista para coibir o abastecimento desses
garimpos nas terras indígenas.
A coordenadora do projeto
de educação da CCPY, Clarisse
Jabur, explicou que a educação
se baseia no "resguardo" da cultura
Yanomami. Esses povos ainda mantém
muito vivas suas tradições e
língua. "Os Yanomami decidiram
que a escola será um ambiente para
adquirir conhecimento da sociedade envolvente
de modo que esse conhecimento possa ser utilizado
por eles para proteger os seus territórios".
No lado venezuelano, os
Yanomami, tal como no Brasil, também
vem sofrendo por causa da garimpagem ilegal
nas suas terras. O agravante é que
os territórios Yanomami na Venezuela
não são reconhecidos oficialmente
pelo governo. O antropólogo José
Antônio Kelly, da Wataniba, explicou
que as terras tradicionais desses povos estão
em reservas de proteção permanente,
que na Venezuela denominam-se “Reserva de
Biosfera”, e em parques nacionais. Essas reservas
foram criadas com intenção de
proteção total daquelas paisagens,
sem levar em consideração que
eram habitadas tradicionalmente por povos
yanomami. Kelly informou ainda que vários
povos indígenas da Venezuela têm
projetos de demarcação de suas
terras, mas até o momento nenhuma delas
foi reconhecida oficialmente. Ele acredita
que o movimento indígena venezuelano
deveria exercer maior pressão no governo,
mas isso não ocorre porque a grande
maioria das lideranças são funcionários
do Estado e isso os impede de entrar em embates
com as políticas estatais.
Nas apresentações
de outros grupos que vieram da Venezuela também
se destacaram os Piaroa, que vivem em comunidades
no rio Orenoco (que corta a Venezuela de sul
a norte). A organização Wataniba
tem ajudado esses povos a organizar suas escolas
a fim de oferecer uma educação
“própria” (como dizem) para suas comunidades.
A Fundação
Etnollano apresentou seus trabalhos junto
a diversas comunidades do rio Orenoco, especialmente
no que tange à saúde da mulher
indígena por meio da Red Siama-rede
transfronteirça que realiza intercâmbio
com diversas instituições privadas
e públicas que atuam com saúde
indígena na Amazônia.
O grupo do rio Guainia (localizado
no sudeste colombiano), formado por assessores
da Fundação Gaia e representantes
das associações indígenas
locais apresentaram o trabalho que vem sendo
desenvolvido em suas escolas comunitárias
que ensinam as línguas nhengatú
e curipaco por serem as mais faladas na região.
Conversa na Maloca
No centro, bancos tradicionais
dos sabedores e ao redor, um círculo
de pessoas: essa foi a proposta de Ivan Matapi,
da Acima - Asociación de Capitanes
y Autoridades Tradicionales Indígenas
del Miriti Amazonas - para iniciar a conversa
sobre a organização político-social
da região dos povos indígenas
do rio Miriti, localizado na Colômbia
próximo às fronteiras do Brasil
e Peru. E explicou: "Esse é o
jeito que nós povos do rio Miriti fazemos
para conversar sobre a vida, trocar experiências
e refletir sobre nossa cultura, fazemos isso
desde o inicio do mundo". . Assessores
da Fundação Gaia e líderes
da Acima falaram dos avanços que os
povos da região do Miriti têm
alcançado em relação
à sua autonomia e gestão dos
seus territórios. Explicaram em detalhes
o reconhecimento do governo colombiano aos
seus projetos de educação, saúde
e gestão territorial. Por meio das
AATIs-Associação das Autoridades
Indígenas (que representam os resguardos
indígenas no governo colombiano) os
povos do Miriti podem negociar diretamente
com o governo colombiano, o financiamento
e a execução dos projetos para
suas comunidades. Porém, todas as ações
devem ter como base seus planos de vida, que
levam em consideração ações
na área da saúde, educação,
gestão, entre outros.
As AATIs se reúnem
com o governo colombiano por meio da "Mesa",
encontro que acontece duas vezes por ano (em
maio e novembro) e tem o objetivo de reunir
povos indígenas e governo num mesmo
debate de igual para igual, a fim de se decidir
o que será feito nos resguardos indígenas.
Até se chegar a esses encontros, todas
as AATIs já se reuniram com suas comunidades
e associações para decidir quais
serão os planos de trabalho para aquela
determinada área.
“Os recursos que o governo
colombiano disponibiliza para nós,
povos indígenas, é descentralizado.
Nós firmamos convênio com o Estado
e executamos e administramos planos de trabalho
e recursos que financiam estes planos”, diz
Ivan Matapi. Com isso os povos da Colômbia
além de administrar todos os recursos
financeiros destinados às suas comunidades,
detêm a responsabilidade de atingir
as metas de qualidade nos serviços
prestados à sua população
que eles mesmos indicam.
"Apesar de ter em conta
que o processo de administração
e gestão do nosso território
já está bem consolidado em relação
à outras regiões da Colômbia
e até mesmo de outros países,
temos a certeza de que para chegar a isso
é necessária uma união
de esforços. Aí entra o conhecimento
dos mais velhos, das mulheres mais velhas,
dos jovens, da assessoria e outros, tudo isso
somado horizontalmente e sempre respeitando
as diferenças", explicou Mapati.
Mensagem aos parentes
Antes de iniciar sua fala,
Ivan Matapi deixou uma mensagem à todos
os indígenas presentes que lutam pelos
seus direitos e melhoria da qualidade de vida
nas suas comunidades.
"Para chegar até
aqui, viajamos nove dias por rio e mais um
dia de caminhada, tudo isso porque viemos
de um lugar muito distante. Durante essa jornada
passamos por diversas comunidades e fiquei
encantado com as magníficas malocas
que vi, com os líderes que conheci
e com as experiências educativas do
Tiquié que agora passei a conhecer.
Ou seja, o intercâmbio proposto pelo
encontro, foi acontecendo desde quando saímos
das nossas terras (...). Ao ouvir tudo o que
vocês relataram aqui na Canoa, principalmente
sobre as dificuldades encontradas na questão
da autonomia, vi um filme passar pela minha
cabeça, porque nós, povos indígenas
do rio Miriti passamos por tudo isso. Para
chegarmos aonde chegamos tivemos que fazer
alianças, promover diálogos
que nos levaram a conflitos, a soluções
até que acertarmos. Mesmo que nosso
país tenha leis que favoreçam
os povos indígenas, muitas delas não
são cumpridas, por isso temos de nos
apropriar das mesmas e lutar com nossas armas,
pois são nossos direitos que estão
em jogo (...). Para as pessoas que estão
aqui, não importa se é brasileiro,
colombiano ou venezuelano, acredito que todos
estão percorrendo o caminho certo.
A única recomendação
que faço a vocês é que
não parem com os processos locais de
autonomia nas suas comunidades. Porque tudo
é um desafio a ser vencido. Nós
demoramos cerca de 30 anos para chegar onde
estamos, e hoje atingimos um estágio
de consolidação que nos permite
avançar na nossa autonomia e governabilidade
das nossas terras".
ISA, Andreza Andrade.
+ Mais
Canoa encerra reunião
e agenda novos intercâmbios entre rios
27/07/2007 - Participantes
divididos em seis grupos agendam atividades
conjuntas. Na pauta, alimentação
tradicional, encontro de mulheres, visitas
a lugares sagrados educação,
formação de professores e saúde
indígena
Ela desceu por diversos
rios do Noroeste Amazônico e chegou
São Gabriel da Cachoeira com o intuito
de promover intercâmbio de idéias
e experiências entre povos, que apesar
de distantes estão interligados pela
mesma história de origem. Também
estão ligados pela geografia, que permite
que a comunicação e a vida corram
pelos rios. Assim foi a Canoa (Cooperação
e Aliança no Noroeste Amazônico),
reunião bianual que aconteceu durante
quatro dias (de 23 a 26 de julho), organizada
pela Foirn - Federação das Organizações
Indígenas do Rio Negro, Fundação
Gaia da Colômbia e Instituto Socioambiental.
Na volta, a Canoa percorrerá os mesmos
caminhos e levará a todas as comunidades
que ao longo do percurso, os resultados e
as novidades que ouviram durante o encontro.
Nesta quinta-feira, 26,
e último dia do evento, os participantes
brasileiros, colombianos e venezuelanos se
reuniram divididos em grupos, de acordo com
os rios em que habitam. Essa dinâmica
serviu para discutir em âmbito regional
quais serão as ações
conjuntas que podem empreender, já
que pertencem ao mesmo rio. Veja abaixo os
resultados apresentados por cada um dos grupos.
Grupo Pirá Paraná,
Tiquié colombiano e Tiquié brasileiro
:: Realizar oficina de Alimentação
Tradicional em Outubro de 2007, na Comunidade
de Cachoeira Comprida (Alto Tiquié
Brasileiro), com participação
de Mulheres do Médio e Alto Tiquié
brasileiro e colombiano e do rio Pirá
Paraná.
:: Percorrer lugares sagrados
do Tiquié desde Serra do Mucura até
Pupunha em fevereiro de 2008, com participação
de representantes das associações
AEITU (Associação da Escola
Indígena Tuyuka Utapinopona), AEITYPP
(Associação da Escola Indígena
Tukano yepa Piro Porã), AEITY (Associação
da Escola Indígena Tukano Yupuri),
AATIZOY (Asociación das Autoridades
Tradicionales Indígenas de la Zona
del Tiquie) e Acaipi (Asociación de
Autoridades Indígenas del Pirá
Paraná).
:: Também em fevereiro
de 2008, realizar acompanhamento da escola
indígena na comunidade de Bella Vista
(Tiquié colombiano), com participações
de professores AEITU;
:: Em maio de 2008, realizar
um encontro de calendário ecológico
no Pirá Paraná (Colômbia)
com pesquisaores da AEITY e Pirá Paraná;
:: No primeiro e segundo
semestre de 2008 (à definir data) realizar
dois encontros de mulheres no Pirá
Paraná, com participação
de mulheres do Médio e Alto Tiquié
brasileiro e colombiano e Pirá Paraná;
Grupo rio Orenoco (Venezuela
e Colômbia)
:: No mês de outubro
de 2007, realizar encontro de mulheres colombianas
e venezuelanas sobre saúde da mulher
indígena. A organização
estará a cargo da Fundação
Etnollano e ORPIA (Organización Regiona
de Pueblos Indígenas de Amazonas);
:: Em agosto de 2007 encontro
de saúde para analisar a qualidade
dos serviços dos promotores de saúde
indígenas Piaroa nas comunidades do
Orenoco colombiano. O encontro será
na comunidade de São Luiz no Içana
colombiano;
:: No primeiro semestre
de 2008, intercâmbio com professores
Piaroa da Venezuela para conhecer o projeto
de educação local (ORPIA e Etnollano);
:: Em 2008, realizar duas
“Canoinhas” com os Curripaco e com os falantes
de Nhengatú do rio Guainia. A organização
será da Fundação Gaia
com apoio de Wataniba (Asociación para
el Desarollo Humano Multiétnico de
la Amazônia) e ORPIA;
Grupo Yanomami (Venezuela
e Brasil)
:: Realizar diagnóstico
em duas regiões Yanomami: na região
de Auarias no extremo noroeste da Terra Yanomami
(na fronteira com a Venezuela) e na Venezuela;
:: Intercâmbio de
Yanomami venezuelano e um assessor da Wataniba
para Boa Vista(RR), com lideres da Hutukara
(Associação Yanomami) e participarão
do curso de professores e gestores Yanomami;
:: Os Yanomami brasileiros
irão para Puerto Ayacucho para realizar
intercambio com os Yanomami venezuelanos;
:: Intercâmbios dos
Yanomami brasileiros com os índios
do Rio Negro em novembro 2007;
Grupo Içana do Brasil
e da Colômbia
:: Em setembro de 2007,
haverá participação de
líderes da Acuris (Asociación
de Comunidades Unidas de el rio Isana y Surubi)
do Içana colombiano, durante a Assembléia
Geral da CABC (Coordenadoria das Associações
Indígenas baniwa e Coripaco) na comunidade
de Coraci no alto Içana brasileiro;
:: Iniciar um diálogo
transfronteiriço em relação
saúde da região. Principalmente
no que tange ao surto de mansolenose diagnosticado
no Içana.
Grupo Rio Negro- (Brasil)
e Guainia (Colômbia)
:: Realizar encontro de
Etnomatemática na Escola Pamáali
em outubro de 2007;
:: Em abril de 2008, participar
da feira de livros de língua Nhengatú,
que será realizada na comunidade de
Tabocal dos Pereiras no rio Negro acima (Brasil);
:: Em julho de 2008, realizar
uma Canoinha Curipaco sobre cartografia história
natural na comunidade de Ponta Barbosa- Guainia.
Grupo Alto Waupés
:: Em 2008, realizar em
Iauaretê, uma oficina de alimentação
tradicional com mulheres indígenas
das comunidades da região do alto Uaupés
brasileiro e colombiano;
:: Em 2008, realizar em
Iauaretê, um encontro de “Piracema”
com participação dos homens
das comunidades da região do Alto Uaupés
brasileiro e colombiano;
:: Também em 2008,
iniciar um diálogo com as comunidades
do alto Uaupés para mapear os lugares
sagrados da região, tanto do lado brasileiro,
como do lado colombiano.
ISA, Andreza Andrade.
+ Mais
"Canoa" desce
os rios do noroeste amazônico e realiza
reunião transfronteiriça em
São Gabriel da Cachoeira (AM)
24/07/2007 - De 23 a 28
de julho, a Cooperação e Aliança
no Noroeste Amazônico (Canoa), formada
por organizações indígenas
e não-indígenas do Brasil, Colômbia
e Venezuela, se reúnem em São
Gabriel da Cachoeira para trocar experiências
que incentivem a adoção de políticas
públicas para contemplar as demandas
dos povos indígenas da região
Abertura da Canoa: Beto
Ricardo, do ISA, Miguel Loboguerrero,Fundação
Etnollano, Edilúcia de Freitas, Secretária
de Educação do município,
Cap. Germano, da Brigada Militar de São
Gabriel da Cachoeira, Domingos Barreto, presidente
da Foirn, Consul da Colômbia Mathias
Vasquez Gonzalez, Ivan Matapi, representante
das AATIS, Martin Vom Hildebrand, da Fundação
Gaia e Rui Melgueiro (Seduc)
São Gabriel da Cachoeira,
noroeste amazônico, é palco da
5ª reunião bianual da Canoa -
Cooperação e Aliança
no Noroeste Amazônico. Trata-se de uma
rede transfronteiriça formada por comunidades
e organizações indígenas
e não-indígenas da sociedade
civil do Brasil, Colômbia e Venezuela,
que compartilham dois objetivos fundamentais:
o desenvolvimento dos direitos coletivos dos
povos indígenas e a conservação
da floresta tropical. A reunião, que
vai de 23 a 28 de julho, tem como objetivo
principal promover o intercâmbio de
experiências e informações,
num esforço para criar um ambiente
favorável às políticas
públicas, que contemplem as demandas
dos povos indígenas.
A organização
do evento está a cargo da Fundação
Gaia Amazonas, da Colômbia, do Instituto
Socioambiental e da Federação
das Organizações Indígenas
do Rio Negro, ambas organizações
brasileiras. O apoio financeiro é da
Rainforest da Noruega. Desta edição
estão participando cerca de 120 pessoas
– número maior do que os que compareceram
às reuniões anteriores - vindas
dos três países.
No primeiro dia, as apresentações
ficaram a cargo de três grupos: a Acaipi-
Associación de Autoridades Tradicionales
Indígenas do Pirá Paraná
e assessores da Fundação Gaia;
a AATIZOT - Associación de Autoridades
Indígenas de la Zona de Tiquié
e assessores da Fundação Gaia
do Alto Rio Tiquié do lado colombiano;
e do Alto e Médio Tiquié do
lado brasileiro, representados pela Escola
Tuyuka, Escola Tukano Yupuri, Escola Tukano
Yepa Pirõ Porã, Atriart (Associação
das Tribos Indígenas do Alto Rio Tiquié),
Coitua (Coordenadoria das Organizações
Indígenas do Tiquié e Uaupés
abaixo), Acimet (Associação
das Comunidades Indígenas do Médio
Tiquié), grupos de agentes de manejo
e assessoria do ISA.
Pirá Paraná
O grupo do rio Pirá
Paraná apresentou as conquistas que
vem obtendo principalmente na questão
da educação, contando com apoio
do governo colombiano. É que o governo
da Colômbia reconhece as AATIS- Autoridades
Tradicionais Indígenas (que têm
estatuto jurídico de associação
sem fins lucrativos e representam os territórios
indígenas) como uma unidade pública
administrativa legitimada pelo Ministério
do Interior colombiano. As AATIS recebem recursos
do governo por meio de um processo de descentralização
que lhes permite realizar a gestão
dos serviços de saúde, educação
e manejo ambiental. Por conta dessa descentralização,
hoje a Acaipi está assumindo cerca
de sete escolas da região, que correspondem
ao ensino fundamental no Brasil. Trata-se
de uma luta de mais de quatro anos, onde os
próprios indígenas rechaçaram
o ensino oferecido pelo governo colombiano
que não respeitava sua cultura. Hoje,
os índios do Pirá Paraná
estão planejando e executando suas
escolas conforme a vivência nas suas
comunidades.
Alto Tiquié
O grupo do lado colombiano
do Alto Tiquié destacou que a iniciativa
de criar uma escola diferenciada nasceu após
a participação em uma “canoínha”
(reunião temática, menor que
a Canoa e anual) que aconteceu na comunidade
de São Pedro no Tiquié brasileiro.
Ao ouvir a experiência da Escola Tuyuka
Utapinopona, o grupo ficou motivado a encontrar
caminhos e construir uma escola para os povos
pertencentes à AATIZOT. Apesar de recente,
hoje a escola desenvolve pesquisa com temas
na tradição indígena
como danças, rituais, benzimentos,
mitologia, entre outros.
Do lado brasileiro, o grupo
do Alto e Médio Tiquié apresentou
os trabalhos desenvolvidos nas escolas diferenciadas
(Tuyuka, Yupuri, Yepa Pirõ Porã)
também em parceria com as associações
de base (Acimet, Coitua e Atriart), sobretudo
na questão da formação
de agentes indígenas de manejo ambiental.
O ensino via pesquisa é uma experiência
que tem se mulplicado em praticamente todo
o rio Tiquié. E tem permitido que as
escolas da região alcancem resultados
positivos nos projetos de sustentabilidade
desenvolvidos no âmbito escolar. A experiência
representa uma abordagem inovadora na criação
de currículos temáticos integrados
com o cotidiano das comunidades indígenas.
Tudo isso permitiu a ampliação
do espaço da “escola” para além
da sala de aula.
Conservação
das paisagens tradicionais
O destaque no encerramento
do primeiro dia de reunião da Canoa
ficou com o líder da Acaipi, Roberto
Marin, que falou sobre a importância
da conservação transfronteiriça
de paisagens e lugares sagrados para povos
que estão na Colômbia e no Brasil:
“Um dia, um velho tatuio me falou de uma serra
chamada Wariro K¡ que se localizava
no Médio Rio Negro. Quando cheguei
em São Gabriel para este evento, um
companheiro daqui me apontou a serra que tinha
forma de mulher deitada, que aqui vocês
conhecem como Bela Adormecida. Então
me dei conta que se tratava do Wariro K¡,
que é como conhecemos na nossa tradição.
Fiquei muito emocionado porque isso prova
que para nós, povos indígenas,
que compartilhamos das mesmas mitologias e
lugares sagrados não existem fronteiras.
Antes dos estados nacionais existia um único
território que pertencia a todos nós”.
Ao longo do evento, que
se encerra em 28 de julho, serão exibidos
alguns filmes que abordam temáticas
comuns entre as organizações,
tais como patrimônio cultural, malocas,
governanças locais e associações
indígenas.
Leia abaixo, o texto de
abertura da reunião, em português
e em espanhol.
Apresentação
da abertura da Reunião de CANOA, S.
Gabriel da Cachoeira, 23 de julho de 2007
CANOA (Cooperação
e Aliança no Noroeste Amazônico)
é uma iniciativa para o intercâmbio
de experiências e informação
entre organizações indígenas
e organizações da sociedade
civil do Brasil, Colômbia e Venezuela
que compartilham dois objetivos fundamentais:
o desenvolvimento dos direitos coletivos dos
Povos Indígenas e a conservação
da Floresta Tropical.
Nesta iniciativa, que nasceu
em 2002, estão atualmente:
A Federação
das Organizações Indígenas
do Rio Negro – FOIRN – com o Instituto Socioambiental
– ISA, do Brasil. Várias Associações
de Autoridades Tradicionais Indígenas
AATIs – com a Fundação Etnollano
e a Fundação Gaia Amazonas da
Colômbia; e a Organização
Regional dos Povos Indigenas do Amazonas –
ORPIA – com a Fundação Wataniba
da Venezuela.
As organizações
indígenas e organizações
da sociedade civil que cooperam em CANOA baseiam
a iniciativa em alguns pontos comuns, tais
como:
:: Os três países
têm constituições políticas
recentes que reconhecem os direitos coletivos
dos Povos Indígenas e estabelecem o
caráter pluriétnico e multicultural
de cada Nação. Os três
ratificaram a Convenção 169
da OIT e promovem a governanza indígena
local em suas respectivas legislações.
:: São reconhecidos
os direitos territoriais indigenas sobre cerca
de 60 milhões de hectares. No Brasil,
em 1989 se reconheceu a Terra Yanomami com
9 milhões de ha; en seguida, com a
participação ativa da FOIRN
e do ISA, foram reconhecidos e demarcados
mais 10.6 milhões de hectares no alto
Rio Negro, entre os anos 1995 e 1998. Na Colômbia,
durante 1982-11000 se estabeleceram Resguardos
Indígenas em 22 milhões de hectares.
Atualmente na Venezuela estão tramitando
a demarcação de cerca de 18
milhões de hectares, para os quais
já foram apresentados alguns dos expedientes
de auto-demarcação.
:: Os Povos Indígenas
estão exercendo seus direitos constitucionais
na prática, através da participação
local nos programas socioambientais que promovem
os governos.
:: Os grupos étnicos
em áreas de fronteira estão
interessados em fortalecer sua identidade
cultural assim como desenvolver programas
interculturais em educação,
saúde, alternativas econômicas,
desenvolvendo metodologias que incluem a pesquisa
comunitária e a cooperação
horizontal.
:: Por suas características
socioambientais, o Noroeste Amazônico
ganha cada vez maior importância diante
das mudanças climáticas como
refúgio de diversidade biológica
e cultural nos próximos 50 a 100 anos.
Existem três níveis
de cooperação e aliança:
:: Canoinhas: ações-piloto
transfronteiriças a nivel local entre
Povos Indígenas situados nas fronteiras
nacionais
:: Canoas temáticas:
intercâmbios de experiências por
temas (saúde, educação,
demarcação e ordenamento territorial,
cartografia e fortalecimento dos conhecimentos
tradicionais
:: Canoa grande ou maior:
encontro bi-anual ampliado com a participação
de todas as iniciativas que atuam no chão
de maneira transfronteiriça e regional
no noroeste amazônico.
Esta V Canoa Grande, a primeira
no Brasil, tem como objetivo geral a articulação
dos processos locais que atualmente se desenvolvem
no marco da iniciativa, através do
conhecimento e intercâmbio de experiências
entre as organizações e processos
que se desenvolvem e a construção
de estartégias viáveis, agendas
conjuntas e alianças práticas
para avançar no fortalecimento da governança
local, da conservação ambiental,
da estabilidade regional e do desenvolvimento
sustentável.
Em seguida a mesa formada
por autoridades governamentais, autoridades
indígenas e representantes de organizações
da sociedade civil fará a abertura
deste V Encontro de CANOA.
Presentacion de apertura de la V Reunión
de CANOA, S. Gabriel da Cachoeira, 23 de julio
de 2007.
CANOA (Cooperación
y Alianza en el Norte y Oeste Amazónico)
es una iniciativa para el intercambio de experiencias
e información entre organizaciones
indígenas y organizaciones de la sociedad
civil de Brasil, Colombia y Venezuela que
comparten dos objetivos fundamentales: el
desarrollo de los derechos colectivos de los
Pueblos Indígenas y la conservación
de la Selva Amazónica.
En esta iniciativa, que
nació en el 2002, actualmente confluyen:
La Federación de
Organizaciones Indígenas del Rio Negro
– FOIRN- con el Instituto Socioambiental –ISA
de Brasil. Varias Asociaciones de Autoridades
Tradicionales Indígenas AATIs-, con
la Fundación Etnollano y la Fundación
Gaia Amazonas de Colombia. Y la Organización
Regional de Pueblos Indígenas de Amazonas
–ORPIA- con la Fundación Wataniba de
Venezuela.
Las organizaciones indigenas
y de la sociedad civil que cooperan dentro
de CANOA, fundamentan la iniciativa en algunos
puntos comunes tales como:
:: Los tres países
tienen Constituciones Políticas recientes
que reconocen los derechos colectivos de los
Pueblos Indigenas y establecen el carácter
pluriétnico y multicultural de cada
Nación. Los tres han ratificado el
Convenio 169 de la OIT y promueven la governanza
indigena local en sus respectivas legislaciones.
:: Se reconocen los derechos
territoriales indígenas sobre cerca
de 60 millones de hectáreas. En Brazil
en 1989 se reconocio la Tierra Yanomami sobre
9 millones de hectareas; luego con la participación
activa de FOIRN e ISA, en se demarcaron 10.6
millones de Ha mas en el Alto Rio Negro entre
los años 1995 y 1998. En Colombia,
durante 1982-11000, se establecieron Resguardos
Indígenas en 22 millones de Ha. Actualmente
en Venezuela se esta gestionando la demarcacion
de casi 18 millones de Ha, para lo cual ya
fueron presentados algunos de los expedientes
de autodemarcación.
:: Los Pueblos Indígenas
están ejerciendo sus derechos constitucionales
en la práctica, a través de
la participación local en los programas
socioambientales que promueven los gobiernos.
:: Los grupos etnicos en
areas de frontera estan interesadas en fortalecer
su identidad cultural asi como desarrollar
programas interculturales en educacion, salud
y alternativas economicas desarrollando metodologías
que incluyen la investigacion comunitaria
y la cooperacion horizontal.
:: Por sus características
socioambientales, el Noroeste Amazónico
cobra cada vez mayor importancia ante el cambio
climatico como refugio de diversidad biológica
y cultural en los proximos 50 a 100 años.
Existen tres niveles de
Cooperación y Alianza:
• Canoitas: Acciones-piloto
transfronterizas a nivel local entre Pueblos
Indígenas situados en las fronteras
nacionales.
• Canoas temáticas:
Intercambio de experiencias por temas (salud,
educación, demarcación y ordenamiento
territorial, cartografía y fortalecimiento
de los conocimientos tradicionales).
• Canoa grande o mayor:
Encuentro bianual ampliado con participación
de todas la iniciativas que actúan
en el terreno de manera transfronteriza y
regional en el Noroeste Amazónico.
Esta V Canoa Grande, la
primera en Brasil, tiene como objetivo general
la articulación de los procesos locales
que actualmente se desarrollan en el marco
de la iniciativa a través del conocimiento
e intercambio de experiencias entre las organizaciones
y procesos que se desarrollan y la construcción
de estrategias viables, agendas conjuntas
y alianzas prácticas para avanzar en
el fortalecimiento de la governanza local,
la conservacion ambiental, la estabilidad
regional y el desarrollo sostenible.
A continuacion la mesa conformada
por autoridades gubernamentales, autoridaes
indigenas y representantes de las organizaciones
de la sociedad civil haran la apertura formal
de este V encuentro de CANOA.
ISA, Andreza Andrade.