(27/07/2007) Na pecuária
do Amapá, o rebanho de búfalos
já é três vezes maior
do que o bovino. Porém, a quantidade
não é proporcional
à qualidade do manejo dos animais e
da pastagem. Essa distorção
provoca problemas ambientais como degradação
das pastagens, diminuição de
animais silvestres e surgimento de plantas
invasoras, principalmente o algodão
bravo. O alerta é do pesquisador da
Embrapa Amapá (Macapá-AP), Paulo
Meirelles, que há cerca de duas décadas
estuda o assunto. "Toda atividade humana
causa impacto ao meio ambiente. No caso da
pecuária, o impacto é minimizado
ou ampliado dependendo da gestão da
propriedade onde são criados os animais”,
ressalta Meirelles.
O rebanho de búfalos
no Amapá é estimado em torno
de 180 mil pelo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatísticas (IBGE), enquanto o de
gado bovino está em cerca de 60 mil
cabeças. Os bubalinos estão
distribuídos em áreas inundáveis
do Estado, nos municípios de Amapá,
Pracuúba, Cutias do Araguary, entre
outras localidades da costa do Amapá.
A realidade mostra que a
maioria dos criadores de búfalos não
faz o manejo adequado das pastagens, mantendo
um número de animais maior do que a
pastagem suporta. É por isso que acontece
a degradação da pastagem, ou
seja, a cada ano o pasto vai perdendo a produtividade
e esta condição por sua vez
causa os impactos ambientais. “É necessário
que os produtores ajustem os animais à
quantidade de pastos, é uma mudança
de foco procurar a qualidade em vez de quantidade.
As áreas de pastos estão sendo
manejadas com número de animais superior
ao que a pastagem suporta”, observou Paulo
Meirelles.
Algodão bravo - Um
dos problemas que resultam do modo equivocado
na criação de búfalos
no Amapá é o aparecimento da
planta chamada algodão bravo. Esse
problema já se acumula há cerca
de 25 anos. Hoje é a principal planta
invasora dos pastos do Amapá. Estudiosos
do assunto apontam que existem cerca de 100
mil hectares de pastagem nativa do estado
atingidos pelo algodão bravo, um arbusto
que se dissemina rapidamente, e por ser uma
planta tóxica mata o animal.
O uso de herbicida no algodão
bravo, entretanto, não é recomendado,
porque no Ministério da Agricultura
não existe registrado nenhum princípio
ativo para matar esta planta. Uma forma de
combate recomendado pela Embrapa é
a roçagem controlada, um processo lento,
mas que é necessário para tentar
controlar o avanço intenso do algodão
bravo nos pastos do estado. “No Amapá,
o problema atingiu uma proporção
tão grande que está difícil
o controle. Tem que haver uma mudança
de consciência e não achar que
a natureza é quem tem de cuidar dos
búfalos. A solução é
ajustar o número de animais à
área de pastagem. Quando põe
animais demais, o pasto enfraquece e morre
e o algodão bravo toma conta”, diz
Paulo Meirelles.
Histórico - Os fatores
que incentivaram a criação de
búfalos no Amapá são
a rusticidade e adaptação a
ambientes inundáveis, resistência
a doenças e manejo simplificado. O
programa de incentivo a bubalinocultura nasceu
em 1975, ou seja, há 32 anos. A quase
totalidade do rebanho bovino tem por finalidade
a produção de carne (95%), sendo
o restante destinado a uma inexpressiva produção
de leite, cuja média é de apenas
três litros por vaca por dia.
Quanto aos bubalinos, o
Amapá conta com aproximadamente 180
mil cabeças (13,5% do rebanho nacional)
e detém o segundo maior rebanho da
Amazônia. A pecuária de corte
ainda está fortemente marcada pelo
uso extensivo da terra e por um baixo padrão
zootécnico, o que se reflete na baixa
rentabilidade por hectares. No Estado existem
16.709 km2 de pastagens nativas de terras
inundáveis e algumas centenas de milhares
de hectares de pastagens nativas nos cerrados,
pastagens que representam a principal fonte
de alimentação dos rebanhos.
A integração dos sistemas de
pastejo dos campos inundáveis com os
de cerrado, tem grande potencial para incrementar
a produção pecuária do
Amapá, sem a necessidade de desmatar
áreas de floresta densa.
Dulcivânia Freitas