24 de Julho de 2007 - Representantes
de ONGs, indústrias e governos se reuniram
em São Paulo para fazer um balanço
do primeiro ano da
moratória da soja
São Paulo, Brasil — Indústria,
governo, consumidores e ONGs se reúnem
em São Paulo para fazer um balanço
da iniciativa, que pretende evitar o desmatamento
causado pela soja
Positivo, mas ainda insuficiente.
Esse é o balanço que o Greenpeace
faz um ano após o anúncio, pelas
empresas comercializadoras de soja, de sua
decisão de não mais comprar
grãos vindos de novos desmatamentos
no bioma Amazônia. Para discutir esse
primeiro aniversário da moratória
da soja, como ficou conhecida a iniciativa,
indústrias, governos, consumidores
e entidades da sociedade civil se reuniram
em São Paulo nesta quarta.
“A moratória é
uma oportunidade única de demonstrar
que a articulação entre empresas,
organizações não-governamentais
e movimentos sociais, amparada por recursos
condizentes, pode ajudar a superar os desafios
de governabilidade e efetivamente proteger
a floresta”, disse Paulo Adário, coordenador
da campanha da Amazônia do Greenpeace.
Para ele, a iniciativa da Abiove (Associação
Brasileira da Indústria de Óleos
Vegetais) e Anec (Associação
Nacional dos Exportadores de Cereais) precisa
se consolidar e inspirar outros setores do
agronegócio a adotar políticas
semelhantes, “para virarmos o jogo contra
o desmatamento e as mudanças climáticas”.
Até agora, o processo
– conduzido por um grupo de trabalho reunindo
as grandes traders da soja, entidades ambientalistas
e do setor social – se concentrou na construção
de acordos e ferramentas para viabilizar o
monitoramento da moratória e melhorar
a governança nas áreas já
desmatadas. Espera-se que o sistema de monitoramento
seja implementado já na safra que começa
a ser plantada no terceiro trimestre deste
ano, para garantir que a indústria
da soja possa cumprir o compromisso anunciado
em 2006.
Foram dados passos importantes
até agora, mas ainda falta o principal:
o mapeamento das propriedades rurais que plantam
soja, peça-chave no monitoramento e
na contenção do desmatamento
na Amazônia, que em cerca de 40 anos
perdeu 700 mil quilômetros quadrados
de floresta, ou mais de 17% da região.
“Parece incrível, mas a maioria das
milhares de fazendas e posses existentes na
região não consta em nenhum
mapa ou cadastro oficial, o que dificulta
em muito o controle, pelo poder público,
do que ocorre nessas fazendas e na própria
floresta”, disse Adário.
De acordo com o Incra, o
cadastramento das fazendas da Amazônia
só estará concluído em
2011. Enquanto isso, o governo federal, através
da Casa Civil, se comprometeu a acelerar a
implementação do Sistema de
Licenciamento Ambiental das Propriedades Rurais
(SLAPR), que é o primeiro passo para
o ordenamento fundiário na região
e a solução de problemas históricos
que têm causado a destruição
da floresta. Cabe à indústria
contribuir com esse processo cobrando de seus
fornecedores a adesão ao sistema e
também apoiar os fazendeiros para que
se adequem à legislação.
Carlo Lovatelli, presidente
da Abiove, destacou que o setor resolveu assumir
o compromisso da produção responsável
da soja na Amazônia por entender que
esta é uma demanda do consumidor.
Queda no desmatamento
Nos últimos anos,
o cultivo de soja se tornou uma das principais
ameaças à floresta amazônica.
Entre agosto de 2000 e agosto de 2005, a área
total de florestas desmatadas na Amazônia
brasileira foi de cerca de 129 mil quilômetros
quadrados, o equivalente a mais da metade
do Estado de São Paulo. Cerca de 75%
das emissões brasileiras de gases do
efeito estufa resultam do uso do solo por
atividades agrícolas, principalmente
desmatamento e queimadas, sendo a maioria
na Amazônia. Isso coloca o Brasil como
o quarto maior poluidor do clima. O alarme
climático aliado à crescente
pressão sobre a floresta Amazônica
torna a efetividade da moratória ainda
mais imperativa para proteger a floresta e
o clima do planeta.
Apesar dos fatores econômicos
que contribuíram para a queda do desmatamento
na Amazônia, a moratória tem
apresentado impactos positivos para a floresta.
O Mato Grosso, maior Estado produtor de soja
no Brasil, apresentou uma redução
de 40% no índice de desmatamento entre
agosto de 2006, quando a moratória
foi anunciada, e maio de 2007, comparada com
o mesmo período do ano anterior. No
Pará, houve uma redução
de 41% na área plantada com soja desde
o anúncio da moratória, uma
queda significativa quando comparada com a
média nacional, que foi de 9,3%.
“Não há mais
tempo a perder para proteger a Amazônia.
O primeiro ano da moratória apresentou
um bom progresso e estamos comprometidos com
a continuação do processo. Como
algumas medidas devem demorar mais do que
dois anos para serem implementadas, esperamos
que a moratória seja estendida até
que todos os compromissos sejam alcançados”,
disse Rebecca Jaramillo, do McDonald’s Europa,
uma das principais empresas consumidoras que
apóiam a moratória.