Pesquisas
realizadas por equipes de arqueólogos
da USP no Parque Estadual Sumidouro revelam
indícios do que pode ser a cultura
mais antiga das Américas. Descobertas
feitas por arqueólogos da Universidade
de São Paulo (USP), que há cerca
de sete anos trabalham na região, revelaram
a existência do primeiro sítio
em campo aberto de paleoíndios do Brasil,
grupo de humanos da época da pedra
lascada que viviam fora de cavernas.
O Parque Estadual do Sumidouro,
unidade de conservação integral
sob responsabilidade do Instituto Estadual
de Florestas (IEF), foi, há 8,3 mil
anos, lar dos primeiros grupos de humanos
que habitaram o Brasil central. De acordo
com o coordenador da pesquisa, o professor
Walter Neves, até então não
existiam dados concretos que comprovassem
que os primeiros habitantes da região
viviam fora de abrigos. Segundo o arqueólogo,
as margens da lagoa do Sumidouro foram o lar
desses humanos.
Os trabalhos fazem parte
do projeto de pesquisa "Origem e micro-evolução
do homem nas Américas" do Laboratório
de Estudos Evolutivos Humanos do Instituto
de Biociências da Universidade de São
Paulo (USP). O objetivo é entender
quem foram os primeiros americanos e quando
o homem chegou à região central
do país.
Em 1934, na cidade Clovis,
nos Estados Unidos, foram descobertos artefatos
de caça feitos de pedra lascada associados
a ossos de mamutes e bisões, animais
que compunham o que os estudiosos denominam
mega-fauna. Datados de 11,4 mil anos atrás
os "‘Grupos Clovis", como passaram
a ser conhecidos, foram considerados pela
comunidade científica como os primeiros
habitantes da América. A descoberta
ainda mostrou que os primeiros grupos eram
caçadores e se alimentavam de grandes
mamíferos. Atualmente a cultura Clovis
é o marco cronológico da ação
humana na América.
De acordo com o arqueólogo
da USP, pesquisas mais recentes realizadas
na América do Sul começaram
a apontar indícios da existência
de culturas anteriores à Clovis. A
região do Parque do Sumidouro, segundo
descobertas dos arqueólogos, seria
um desses locais. "Sempre acreditei que
Lagoa Santa é uma região que
potencialmente pode fornecer indícios
que o homem esteve presente na América
antes da cultura Clovis" declara.
O projeto de pesquisa da
USP já identificou que na região
os paleoíndios, além de viverem
fora das cavernas, também conviveram
com a mega-fauna, mas, ao contrário
do "padrão Clovis", esses
grupos aparentemente sobreviviam da coleta
de vegetais, conforme comprova o número
de cáries encontradas nos fósseis.
"Essa descoberta mostra que o modo de
vida dos grupos Clovis não foi o único
padrão do homem americano", explica
Neves.
A região de Lagoa
Santa é conhecida internacionalmente
pelo trabalho realizado pelo pesquisador dinamarquês
Peter Lund. Em meados do século 19,
o paleontólogo encontrou vários
fósseis humanos e de mamíferos
extintos que viviam na região, dentre
eles o tigre-dente-de-sabre e a preguiça-gigante.
Esses animais sobreviveram até cerca
de 9.500 anos atrás e, conforme datações
realizadas pela equipe da USP, conviveram
com o homem na região do Parque do
Sumidouro.
Gestão Multidisciplinar
De acordo com o gerente
do Parque Estadual do Sumidouro, Rogério
Tavares, o IEF entende que a concepção
de unidade de conservação deve
extrapolar a visão florestal. Segundo
ele, o Parque Estadual, além do enfoque
na preservação da fauna e flora,
deve também ser visto na ótica
cultural e histórica. "O Parque
do Sumidouro está localizado em um
ponto estratégico, a 40 km de Belo
Horizonte e a 12 km do Aeroporto Internacional
de Confins, dentro de uma área de grande
relevância ambiental, cultural e turística"
pontua.
O gerente de Gestão
de Áreas Protegidas do IEF, Roberto
Alvarenga, explica que a meta da gerência
é que até o final de 2008 o
Parque já esteja implantado. De acordo
com Alvarenga, até o fim de 2007 o
IEF irá adquirir 350 hectares e começar
as obras de infra-estrutura, que incluem a
construção de um centro de visitantes,
casa de gerente e a estrutura administrativa.
Em relação
ao potencial turístico do Parque associado
às novas descobertas arqueológicas,
o gerente afirma que é de prioritário
interesse do IEF a elaboração
de um projeto de visitação.
"Nossa intenção é
somar esforços com os poderes públicos
locais e outras secretarias do Governo para
transformar o Parque e a região em
um roteiro turístico histórico-ambiental.
Desta forma, Estado, prefeituras e principalmente
a população local serão
beneficiados", avalia.
Além do patrimônio
arqueológico, o Parque abriga em seu
entorno monumentos arquitetônicos que
datam da formação do Estado
mineiro. A Casa Fernão Dias, referência
das expedições bandeiristas
na região, e a Capela de Nossa Senhora
do Rosário, construída por ocasião
da exploração do ouro no rio
das Velhas, são exemplos desse patrimônio.
Essas construções são
tombadas pelo Instituto Estadual do Patrimônio
Histórico e Artístico de Minas
Gerais (Iepha).
Governança Ambiental
Para fortalecer as ações
de gestão ambiental executadas pelo
Sistema estadual de Meio Ambiente (Sisema),
o Governo de Minas publicou, em abril deste
ano, o Decreto nº 44.500, que institui
o Plano de Governança Ambiental e Urbanística
da RMBH. O objetivo é promover o desenvolvimento
sustentável por meio da preservação
ambiental e o adequado controle do uso e da
ocupação do solo metropolitano,
integrando planejamento e execuções
de ações de programas e projetos
públicos e privados.
O plano, coordenado pelas
secretarias de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável, de Desenvolvimento Regional
e Política Urbana, de Planejamento
e Gestão, de Desenvolvimento Econômico
e de Transportes e Obras Públicas,
irá priorizar o vetor norte de Belo
Horizonte. Dentre os projetos previstos, estão
a implantação do Parque do Sumidouro,
do Programa de Saneamento Ambiental da Bacia
do Ribeirão da Mata e do Parque Serra
Verde, esta última como medida compensatória
do licenciamento ambiental do Centro Administrativo
do Estado de Minas Gerais.
02/08/2007
Fonte: Ascom/Sisema