Analistas
do Ibama juntamente com pesquisadores de instituições
nacionais utilizam alta tecnologia em projeto
para monitoramento e conservação
do gavião-real
Manaus (30/07/07) - Os analistas
ambientais do Ibama Aureo Banhos dos Santos
e Benjamim Bordalo da Luz, dos estados do
Amazonas e Roraima, capturaram um filhote
de gavião-real, marcaram o mesmo com
anilha do CEMAVE (Centro Nacional de Pesquisa
para a Conservação das Aves
Silvestres), implantaram um transponder subcutâneo
(microchip) e colocaram no filhote um radiotransmissor
com GPS que permitirá rastreá-lo
por satélites brasileiros. A ação
ocorreu por meio do “Projeto Gavião-real”
coordenado pela Dra. Tânia Sanaiotti
e sediado no Instituto Nacional de Pesquisas
da Amazônia (INPA), em parceria com
o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE) através do Dr. José Eduardo
Mantovani.
Este é o primeiro
animal desta espécie a ser monitorado
remotamente no Brasil e o terceiro de vida
livre a receber o transponder e numeração
do CEMAVE. A tecnologia implantada para o
rastreamento inaugura a utilização
do sistema de satélites brasileiros
no monitoramento de animais silvestres. O
filhote marcado ainda não voa e permanece
em seu ninho localizado a 31,80 metros de
altura em uma castanheira em um assentamento
do Instituto Nacional de Colonização
e Reforma Agrária (Incra), na Vila
Amazônia, município de Parintins-AM.
O ninho foi encontrado por moradores locais
e comunicado a Dra. Tânia Sanaiotti,
que escolheu o filhote do ninho para receber
o radiotransmissor.
O Projeto Gavião-Real
monitora ninhos na região há
mais de seis anos e trabalha com a comunidade
do assentamento na tentativa de traçar
uma convivência pacífica entre
parceleiros e o gavião-real, introduzindo
novos conceitos de comportamento frente à
espécie e alternativas no uso da terra,
uma parceria com a pesquisadora em agrossistemas,
Dra. Elisa Vandelli, da Empresa Brasileira
de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Para capturar o filhote,
Benjamim, experiente escalador em dossel de
florestas, subiu até o ninho, enquanto
Aureo, em terra, dava segurança podendo
descê-lo rapidamente pela corda em caso
de emergência. Até a subida ao
ninho, os analistas e os demais integrantes
da equipe passaram quatro dias em campo observando
comportamento dos adultos, esperando o momento
mais seguro para acessar o ninho além
de preparar o acesso, etapa esta cumprida
entre 16 e 19 de julho. Durante os quatro
dias a equipe observou a visita de um dos
pais do filhote ao ninho para trazer alimento,
eliminou uma casa de caba embaixo do ninho
para maior segurança no acesso a copa
da castanheira e preparou todas as condições
para trabalhar com o animal em terra para
colocar os dispositivos.
A captura do filhote ocorreu
na tarde do dia 19 de julho e o procedimento
com o filhote em terra durou aproximadamente
uma hora e meia, logo em seguida o filhote
foi devolvido a seu ninho. No dia seguinte
a equipe permaneceu observando como o filhote
se comportava com o radiotransmissor. Todo
o processo foi um sucesso e o filhote ainda
com quatro meses de vida, estará nos
próximos três a quatro anos gerando
informações de uso do habitat
e dispersão dos jovens da espécie.
Participantes da operação
Participaram a Dra. Tânia
Sanaiotti, ecóloga do INPA, coordenadora
e responsável pelo projeto; o Dr. José
Eduardo Mantovani, ecólogo e especialista
do INPE em monitoramento de animais; a MSc.
Helena Aguiar, especialista em dieta de gavião-real,
que em sua dissertação de mestrado
pelo INPA estudou os itens de alimentação
recolhidos em locais de reprodução
do gavião-real na Vila Amazônia;
além do MSc. Benjamim Bordalo da Luz,
atualmente Analista Ambiental do Ibama/RR,
escalador profissional em dossel, que em sua
dissertação de mestrado pelo
INPA caracterizou os locais de reprodução
e as árvores selecionadas na Amazônia
brasileira, incluindo a região da Vila
Amazônia; e do Analista Ambienta do
Ibama/AM, Aureo Banhos dos Santos que está
finalizando sua tese doutorado pelo INPA em
genética da conservação
de gavião-real, abordando a distribuição
da diversidade genética da espécie
no Brasil, os impactos da degradação
florestas para essa diversidade e se há
diferença genética entre o gavião-real
da Amazônia e da Mata Atlântica
e em uma escala mais fina, Aureo está
utilizando marcadores moleculares para investigar
o sistema reprodutivo dos casais de gavião-real
que estão sendo monitorados na Vila
Amazônia. Participaram também
alguns alunos de nível fundamental
das escolas do assentamento da Vila Amazônica,
bolsistas da Fundação de Amparo
à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM)
junto ao Projeto Gavião-Real, que auxiliam
no monitoramento dos 12 ninhos já localizados
na região, e ainda comunitários
do assentamento, incluindo o proprietário
do terreno onde está localizado o ninho
do filhote.
Dispositivos de marcação
e de monitoramento por satélites
A anilha do CEMAVE colocada
no filhote é uma identificação
única com numeração Z-1005,
confeccionada em aço inox, evitando
danos pela ave e deterioração
com as intempéries. O transponder subcutâneo
é um microchip encapsulado por uma
película de silicone que foi injetado
no tecido subcutâneo do tarso do filhote,
possui numeração de identificação
eletrônica que pode ser lida por meio
de um leitor (transceiver).
O radiotransmissor de monitoramento
via satélite irá gerar informações
de uso da área do assentamento por
esse indivíduo de gavião-real
marcado, durante seu desenvolvimento até
a fase adulta. O transmissor possui um sistema
de GPS que acumula dados do posicionamento
do indivíduo e está programado
para transmitir estes dados diariamente através
do sistema de satélites brasileiros
do INPE. O Dr. Mantovani é quem receberá
os dados do animal no INPE, em São
José dos Campos – SP. Os satélites
brasileiros fornecem informações
à sociedade gratuitamente, e são
bastante utilizados em monitoramento de barcos
de pesca, climatologia, meteorologia e hidrologia,
porém é a primeira vez que será
utilizado para monitorar animais. Esse sistema
possibilitará o monitoramento em uma
escala mais refinada do que vinha sendo feita
nos últimos anos pelo Projeto Gavião-real.
O filhote da Vila Amazônia será
a primeiro gavião-real a ser monitorado
por satélite no Brasil. Um outro transmissor
está previsto para ser colocado em
um filhote no Mato Grosso ou Mato Grosso do
Sul e um terceiro na Mata Atlântica,
no sul da Bahia. A Fundação
O Boticário de Proteção
a Natureza está financiando esse monitoramento
e possibilitou a aquisição de
dois radiotransmissores, e o terceiro foi
adquirido pela Veracel Celulose S/A.
O Projeto Gavião-Real
na Vila Amazônia
O Projeto Gavião-real
tem desenvolvido estudos na Vila Amazônia,
envolvendo atividades de educação
ambiental com os comunitários e membros
de ONG’s do Assentamento, e implementando
bolsas FAPEAM para professores e alunos de
escolas locais participarem na coleta de informações
biológicas do comportamento do gavião-real.
Isso permite que os próprios comunitários
protejam a espécie na região
e ajudem a melhorar o conhecimento dessa enigmática
águia, a maior das Américas
e que tem a sua maior área de distribuição
dentro das fronteiras brasileiras. Os bolsistas
do assentamento se envolvem com várias
atividades do Projeto, como feiras e exposições.
Durante estes eventos os
bolsistas bem como familiares e demais comunitários
participam de oficinas e palestras relacionadas
ao uso da terra, sob coordenação
de pesquisadores da Embrapa. Os bolsistas
também realizam atividades de campo,
como a coleta de material vestigial, isto
é, de restos de presas que são
atirados para fora do ninho pelos pais do
filhote e penas de mudas caídas dos
indivíduos de gavião-real na
base da árvore com ninho ativo. Esse
tipo de material é muito importante
para o conhecimento científico da espécie,
por exemplo, com os restos de presas, a MSc.
Helena Aguiar mostrou recentemente em sua
dissertação que 79% da dieta
da espécie na região é
constituída por preguiças, já
as penas têm sido utilizadas pelo analista
Aureo Banhos para a obtenção
de DNA em seu estudo genético.
Patrocinadores das atividades
do Projeto Gavião-real: FAPEAM, Fundação
O Boticário, CAPES, CNPq, Programa
BECA/IEB, Cleveland Zoological Society e Bird
Exchange, além do apoio das instituições
participantes.
Ibama/AM e RR
Fotos: Helena Aguiar