10 de Agosto de 2007
- Manaus (AM), Brasil — Mas a má notícia
é que fatores econômicos que
levam à destruição da
floresta voltam a ganhar impulso. Brasil deve
assumir metas para garantir o fim do desmatamento
O governo federal anunciou
nesta sexta em Brasília uma ótima
notícia para os brasileiros – e para
o clima do planeta, que se beneficia dos serviços
ambientais desempenhados pelas florestas:
a taxa de desmatamento na Amazônia entre
o segundo semestre do ano passado e o primeiro
de 2007 deve ser de cerca de 9,6 mil km2,
a mais baixa desde que o Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais (Inpe) começou,
em 1988, a monitorar a destruição
da cobertura florestal da Amazônia.
Essa previsão é baseada em dados
corrigidos do sistema Deter e Prodes, do Inpe,
e tem uma margem de erro de 10%, segundo o
governo.
A má notícia
que vai além dos números do
Inpe: os fatores econômicos que contribuíram
para a queda no desmatamento estão
voltando a mostrar suas garras: o preço
da soja voltou a subir às vésperas
da safra que começa a ser plantada
em setembro, o preço da carne aumentou,
grandes áreas da Amazônia já
estão isentas de febre aftosa e o anunciado
boom dos agrocombustíveis começa
a fazer pressão sobre as terras disponíveis
na região. A conseqüência
já se faz sentir: o número de
queimadas desde junho está aumentando
em relação ao ano passado.
.Além da estimativa,
o governo divulgou também ontem o dado
corrigido do Inpe/Prodes para o período
agosto de 2005 a julho de 2006, que foi de
14.039 km2, uma queda de 25,3% em relação
ao período anterior. A estimativa divulgada
em outubro do ano passado, um mês antes
das eleições presidenciais,
era de 13.100 km2, com uma margem de erro
– agora confirmada – de 10%. O dado confirmado
significa uma queda de 49% em dois anos, desde
os fatídicos 27.429 km2 de 2003/2004,
a segunda maior taxa da história. O
recorde anual continua com o governo FHC,
de 29.059 km2 verificados no período
agosto de 1994-agosto de 1995. Mas o primeiro
mandato do governo Lula foi recorde de desmatamento
acumulado: mais de 70 mil km2.
“Ainda que os dados do Inpe
para 2006-2007 sejam provisórios, eles
são muito estimulantes, já que
mostram que o desmatamento inverteu a tendência
histórica de alta e apontam para uma
queda pelo terceiro ano consecutivo”, disse
Paulo Adário, coordenador da campanha
Amazônia, do Greenpeace.
Vários fatores podem
ter contribuído para esta queda, entre
elas algumas medidas de responsabilidade do
governo, como a criação de milhões
de hectares de áreas protegidas e um
aumento na fiscalização do Ibama
– que fez 151 operações de porte
na floresta em 2006, contra 64 em 2005. Influenciaram
também fatores relacionados ao mercado
como a queda de preço das commodities
agropecuárias e supervalorização
do real em relação ao dólar.
Outras razões estão
ligadas à maior mobilização
da sociedade contra o desmatamento, tais como
a campanha movida pelo Greenpeace e organizações
sociais de Santarém contra a expansão
da soja na Amazônia. A campanha, que
recebeu o apoio de grandes ONGs atuantes na
Amazônia, levou a indústria da
soja – principal commodity do país
– a adotar uma moratória para novos
desmatamentos em julho de 2006. O papel positivo
da moratória foi reconhecido durante
a apresentação dos dados do
desmatamento, pelo ministro da Agricultura
Reinhold Stephanes.
A queda no desmatamento
na Amazônia pelo terceiro ano consecutivo
demonstra claramente que medidas de governança,
quando aliadas a vetores econômicos,
atuam em benefício da floresta amazônica,
e em conseqüência, do clima do
planeta. A emissão de gases de efeito
estufa resultantes do desmatamento e de queimadas
na Amazônia é o principal fator
para fazer do Brasil o quarto maior emissor
de gases que provocam o aquecimento global.
“O governo deve aproveitar
o momento favorável para aprofundar
o programa de combate ao desmatamento e fortalecer
as medidas estruturantes que permitam, num
futuro razoável, acabar com a destruição
da floresta amazônica. A hora é
agora, quando o governo federal está
fortalecido,” disse Paulo Adário. “Para
isso, é preciso um claro compromisso
com metas anuais de redução
do desmatamento – e por conseqüência,
de emissões de gases estufa – que possam
mobilizar os vários setores da sociedade
brasileira – indústria, agronegócio,
bancos financiadores de atividades econômicas,
sociedade civil, estados e municípios
a juntar esforços ao governo federal”,
completou Adário.