07 Aug
2007 - Por Bruno Taitson - Cerca de uma tonelada
de pirarucu - o maior peixe de água
doce do planeta - será pescada no Lago
Santo Antônio, Município de Manoel
Urbano (AC), entre os dias 7 e 10 de agosto.
A despesca, como o processo está sendo
chamado, marca o sucesso de três anos
de manejo comunitário do pirarucu,
que vinha desaparecendo dos lagos da região,
habitada por centenas de famílias que
depende da pesca para sobreviver.
A despesca e a Feira do
Pirarucu fazem parte do Projeto Alto Purus,
realizado em conjunto por WWF-Brasil, Secretaria
de Extensão Agroflorestal e Produção
Familiar (Seaprof) e as Colônias de
Pescadores de Manuel Urbano e Sena Madureira,
desde 2003. A iniciativa capacitou pescadores
locais para implementar acordos de pesca na
região, que consistem na criação
de normas para regular a atividade, sua sustentabilidade
e a reposição das espécies.
O Projeto Alto Purus trabalha
em uma área de aproximadamente 200
mil hectares. Em três anos de atividades,
comunidades pesqueiras instaladas nos municípios
de Sena Madureira e Manoel Urbano estabeleceram
acordos de pesca - homologados pelo Ibama
e, portanto, com força de lei - para
seis lagos. Com os acordos, os pescadores
têm relatado que quantidade e qualidade
do peixe melhoraram, assim como o cumprimento
das regras dos acordos.
No Lago Santo Antônio
os pescadores decidiram em conjunto, em 2004,
proibir temporariamente a pesca do pirarucu,
pois a espécie estava ameaçada
pela pesca excessiva. Os resultados foram
rápidos. Em março de 2005, havia
56 peixes. Pouco mais de dois anos depois,
em maio de 2007, o número era de 187.
Houve também uma
clara melhora na proporção entre
pirarucus jovens e adultos, que saltou de
0,43 para 1,10 durante o período, demonstrando
o sucesso do manejo. Este indicador mostra
que existem mais jovens do que adultos, garantindo
novos indivíduos para os estoques da
espécie.
Antonio Oviedo, técnico
do WWF-Brasil, destaca que os acordos de pesca
contribuem não só para o incremento
da renda de comunidades que vivem da pesca.
“O pirarucu é um importante indicador
do grau de conservação dos ecossistemas
aquáticos. Se a pesca é realizada
de forma predatória ou a vegetação
ao redor do lago está degradada, ele
tende a abandonar o ambiente. O manejo adequado
cria as condições para que a
espécie permaneça no lago”,
avalia.
Os pescadores do Lago Santo
Antônio decidiram que, entre 6 e 10
de agosto serão pescados 26 pirarucus
adultos. Isso deve corresponder a uma tonelada
do pescado, com potencial de gerar para a
comunidade aproximadamente R$ 6 mil reais.
Além da despesca, também serão
retirados casais de pirarucus para o repovoamento
dos lagos Santarém e Bananal no município
de Manuel Urbano. “O manejo do pirarucu é
especialmente compensador para os pescadores,
pois a espécie é sedentária.
Se o lago apresentar boas condições
de conservação, os pirarucus
permanecem nos lagos. Assim, com o crescimento
da população, os benefícios
são usufruídos pelas famílias
que habitam os lagos manejados”, explica o
técnico do WWF-Brasil.
Antonio Oviedo destaca que,
para dar mais visibilidade à atividade
de manejo na região e também
atrair mais parceiros para as iniciativas
do Projeto Alto Purus, os pescadores decidiram
organizar a despesca e, posteriormente, a
feira do Pirarucu manejado no Acre, entre
os dias 15 e 19 de agosto. Durante a feira
serão feitas exposições
dos trabalhos de manejo, comercialização
e degustação de pratos feitos
com pirarucu. Ainda no dia 17 será
realizado o I Seminário de Pesca do
estado para discutir as possibilidades de
expansão desta experiência para
outras regiões do estado.