8 de Agosto de 2007
- Marcela Rebelo - Enviada especial - Manágua
(Nicarágua) - O presidente Luiz Inácio
Lula da Silva não encontrou, na Nicarágua,
ambiente político para fechar um acordo
sobre biocombustíveis, um dos principais
temas da viagem que faz esta semana ao México
e a países da América Central.
“Não é a primeira
vez que chego a um país e que há
clima de divergência política
no ar. Eu nunca me incomodei, porque se tiver
divergência, elas têm que ser
explicitadas. E se não tiver, também
tem que ficar explícito”, afirmou hoje
(8), em declaração à
imprensa junto com o presidente da Nicarágua,
Daniel Ortega.
Durante a entrevista, Ortega
disse que a posição do governo
nicaragüense é clara: o país
não tem interesse em produzir etanol
derivado de milho. “É inadmissível,
é um crime você atentar contra
um produto básico na alimentação
no país”.
Segundo o presidente, essa
divergência não está relacionada
com Lula, mas com o presidente dos Estados
Unidos, George W. Bush. “Temos uma discrepância
não com Lula, porque ele produz etanol
com cana-de-açúcar, mas com
Bush, que saiu com essa proposta de produzir
etanol com milho”.
Na avaliação
de Ortega, a proposta do norte-americano é
“totalmente absurda”, porque “atenta contra
o direito alimentar dos povos latino-americanos
e o povo africano”.
Sobre a proposta de produzir
etanol a partir de cana-de-açúcar,
ele ponderou que é preciso tomar cuidado
com a monocultura e com prejuízos ao
meio ambiente.
Lula, por sua vez, ressaltou
que a produção de biocombustível
deve levar em conta a preservação
ambiental, além da segurança
alimentar. “Produzir etanol de milho na Nicarágua
é como produzir etanol de feijão
no Brasil. Ou seja, é impossível”.
Ainda assim, o preisdente
brasileiro voltou a afirmar que a produção
de etanol é uma alternativa viável
aos países mais pobres. “Se nem todo
o país tem tecnologia e nem todo o
país tem petróleo, todos os
países do mundo, por mais pobres que
sejam, (...) sabem cavar um buraco de 30 centímetros
e colocar uma planta que pode produzir o óleo
que ele precisa. É com essa lógica
que nós estamos disseminado a política
de biocombustível do Brasil”.
Ortega afirmou que a Nicarágua
está buscando soluções
energéticas a curto prazo. Diariamente,
a população de Manágua,
capital do país, tem que conviver com
um racionamento de energia de quatro a dez
horas.
“Temos um potencial hidrelétrico
mais que suficiente para cobrir a demanda
do país. Esse é um tema crucial
para conversar com o Brasil”, afirmou Ortega.
Lula concordou. Disse que
emergencialmente é preciso resolver
a questão energética da Nicarágua.
E ressaltou que a construção
de hidrelétricas que é uma solução
a médio prazo.
“O governo brasileiro está
disposto a discutir com a Nicarágua
financiamentos, participação
de empresas e construir as hidrelétricas
que forem necessárias”.
Apesar da falta de consenso
na área dos biocombustíveis,
os dois presidentes disseram estar emocionados
com o encontro por serem amigos de longa data.
“Temos uma relação
de amizade de mais de 26 anos. A Frente Sandinista
[Frente Sandinista de Libertação
Nacional, partido do presidente Ortega] e
o PT têm uma relação histórica
nos bons e nos maus combates, nas vitórias
e nas derrotas”.