Meio Ambiente / Ecossistema
- 10/08/2007 - Pela primeira vez no País
os vôos de um gavião-real, Harpia
harpyja, são monitorados
via satélite. Quem recebeu o primeiro
radiotransmissor foi um filhote de quatro
meses, uma fêmea com 4,4 kg e com 1,83
m de envergadura. Ele é o terceiro
gavião de vida livre a receber também
uma anilha (anel de aço inox) do Centro
Nacional de Pesquisas para Conservação
das Aves Silvestres (Cemave).
A tecnologia implantada
combina o esforço de duas instituições
nacionais vinculadas ao Ministério
da Ciência e Tecnologia (MCT): o Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e Instituto
Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa),
além do financiamento da Fundação
o Boticário de Proteção
à Natureza.
O radiotransmissor é
equipado com o Sistema de Posicionamento Global
(GPS, sigla em inglês) para rastrear
a movimentação da ave. O feito
marca a inauguração do sistema
de satélites brasileiros para acompanhamento
de animais silvestres. O procedimento foi
feito em julho no assentamento do Instituto
Nacional de Colonização e Reforma
Agrária (Incra) Vila Amazônia,
em Parintins (AM).
Durante três anos
o filhote será monitorado via satélite
por meio do radiotransmissor, que foi implantado
em forma de mochila no dorso. O sistema de
GPS acumulará os dados do posicionamento
do animal e está programado para transmitir
as informações diariamente pelo
sistema de satélites brasileiros.
As localizações
do gavião-real serão acessadas
no Inpe pelo ecólogo e especialista
em monitoramento de animais, José E.
Mantovani. Ele será responsável
pelo recebimento dos dados e tradução
para se obter o mapeamento do vôo dos
gaviões de forma a gerar informações
sobre a movimentação no entorno
do ninho e distância de dispersão
da espécie até sua fase adulta.
Os trabalhos são
coordenados pela cientista do Inpe, Tânia
Sanaiotti, e estão inseridos no projeto
de conservação do gavião-real.
A pesquisadora explica que o projeto de acompanhamento
dos ninhos na região já é
feito há mais de seis anos e tem como
objetivo envolver as comunidades rurais do
assentamento.
Segundo ela, só assim
será possível traçar
caminhos para uma convivência pacífica
entre os assentados e o Gavião-real.
Isso porque o gavião-real caça
principalmente preguiças (79%) naquela
região, conforme informações
da especialista em dieta de gavião-real,
Helena Aguiar.
A pesquisadora explica que
o filhote que recebeu o equipamento ainda
não voa e permanece no ninho, que está
localizado em uma castanheira com cerca de
32 metros de altura.
"O ninho foi encontrado
pelo proprietário do lote, Sebastião
Pereira, da Comunidade Santo Antônio
do Murituba, um assentamento do Incra. Ele
acompanhou de perto com seus filhos toda a
operação de captura do filhote",
destacou Sanaiotti.
A implantação
dos dispositivos de marcação
contou com a colaboração dos
representantes do Instituto Brasileiro de
Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis
(Ibama), Áureo Banhos (AM), especialista
em genética de conservação
do animal, e Benjamim da Luz (RR), especialista
em estruturas de árvores utilizadas
por gavião e experiente escalador em
dossel.
Captura do gavião
A operação para captura do animal
demandou quatro dias, entre: observação
do comportamento dos gaviões adultos;
escolha do melhor momento para chegar ao ninho
e preparo do acesso ao local. Contudo, antes,
também foi necessário aguardar
a mãe do filhote trazer alimento e,
logo após, iniciaram a escalada, o
que se tornou mais complicado com a existência
de casa de cabas na mesma árvore. Após
a marcação, o filhote foi devolvido
ao seu ninho.
Sanaiotti disse que um segundo
rádiotransmissor, financiado pela Fundação
Boticário, está previsto para
ser colocado em um filhote no bioma Cerrado
ou Pantanal, no Mato Grosso ou Mato Grosso
do Sul. Além disso, um terceiro transmissor,
adquirido pela Veracel Celulose S/A, será
utilizado na mesma espécie na Reserva
Particular do Patrimônio Natural (RPPN)
Veracel, localizada no sul da Bahia, tido
como um dos poucos fragmentos de floresta
da Mata Atlântica do estado.
Além dos apoios institucionais
do Inpa, Ibama, Eempraga e Inpe, o projeto
gavião-real conta com o apoio da Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (Capes/MEC), Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq/MCT), Fundação de Amparo
à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam),
Fundação Djalma Batista (FDB),
Programa BECA/IEB, Cleveland Zoological Society,
Birders Exchange, Prefeitura Municipal de
Parintins, além da Secretaria Estadual
de Educação (Seduc), Secretaria
de Desenvolvimetno Sustentável (SDS),
e o Banco da Amazônia (Basa).
Ameaças ao gavião
Hoje, a principal ameaça à sobrevivência
do animal no município de Parintins
(AM) é a exploração ilegal
de madeira, desmatamentos e a caça
que foram, no século passado, os responsáveis
pelo quase desaparecimento da espécie
na Mata Atlântica. Segundo a pesquisadora,
apesar da fiscalização do Ibama,
surgem novos empreendimentos nas florestas
da região. Por isso, é necessária
a demarcação de reservas florestais
dentro e fora do assentamento.
Educação ambiental
O projeto gavião-real também
desenvolve atividades de educação
ambiental com os comunitários em parceria
com organizações não
governamentais do assentamento. O objetivo
é introduzir novos conceitos de comportamento
frente à espécie e apresentar
alternativas no uso da terra. O trabalho é
feito em parceria com os pesquisadores da
Embrapa-AM, Elisa Vandelli e Silas de Souza.
Aumento do número
de ninhos
De acordo com Sanaiotti, os resultados positivos
do projeto são evidentes ao se avaliar
os números de ninhos conhecidos antes
e após os seis anos de parcerias. "Aumentaram
de dois para 12 ninhos. Isso faz de Parintins
o município com o maior número
de ninhos mapeados na Amazônia",
comemora.
Luís Mansuêto - Assessoria de
Comunicação do INPA
+ Mais
Livro reúne artigos
sobre a construção da BR-163
Amazônia - 06/08/2007
- O que é uma rodovia? Quais benefícios
ela traz? Existem prejuízos? Quais
são as implicações para
a sociedade? O livro "Amazônia
Revelada: os descaminhos ao longo da BR-163"
busca responder estas questões, levando
em conta as pessoas que moram nos arredores
da estrada, a preservação ambiental
e o desenvolvimento social.
A publicação
é uma seleção de artigos
de especialistas de diversas áreas
sobre a rodovia BR-163, uma estrada de terra,
que liga Cuiabá (MT) a Santarém
(PA). Entre eles, pesquisadores do Instituto
Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT),
Philip M. Fearnside, Arnaldo Carneiro Filho,
Ariovaldo U. de Oliveira, Bernadete Castro
Oliveira, Joaquim Aragão, Rômulo
Orrico, Jan Rocha, Wilsea Figueiredo, José
Arbex Jr. e Maurício Torres.
Os autores mostram a região,
de forma ampla, com as dificuldades de escoamento
da produção agrícola
do Mato Grosso, indo além da visão
exclusivamente mercadológica. Em "Amazônia
Revelada", vê-se que o crescimento
da região requer melhoria na condição
de vida da população e no desenvolvimento
econômico sustentável.
A leitura aponta que, ao
longo da estrada, são comuns os problemas
com grilagem, exploração indevida
das terras indígenas por agricultores
e mineradores, além da pobreza que
assola os habitantes da região.
No capítulo "Temos
um esplêndido passado pela frente?"
assinado pelo ecólogo do Inpa, Arnaldo
Carneiro Filho, são discutidas as conseqüências
do asfaltamento na BR-163 como uma obra da
engenharia que não se resume apenas
a uma estrada.
O autor avalia que se trata
de um empreendimento de consideráveis
conseqüências socioambientais,
capaz de produzir grandes transformações
numa vasta área da Amazônia.
São expostas, ainda,
a posição dos interessados na
pavimentação da BR-163. O setor
de agronegócios cobra o asfaltamento,
uma vez que este setor cresceu rapidamente
no estado do Mato Grosso, e busca a redução
de custos no transporte de suas mercadorias.
Além disto, as populações
locais precisam escoar seus produtos e ter
acesso facilitado à assistência
básica.
O também ecólogo
do Instituto, Philip M. Fearnside, aborda
no capítulo "Carga Pesada"
o custo ambiental de asfaltar um corredor
de soja na Amazônia.
Segundo ele, mesmo o projeto
ainda não tendo recebido as licenças
ambientais necessárias, o desmatamento
e a exploração ilegal de madeira
se aceleraram em antecipação
ao asfaltamento da rodovia, o que segundo
o pesquisador resultará em mais perdas
de floresta na área, assim como apressará
a migração de grileiros para
novas fronteiras.
Luís Mansuêto - Assessoria de
Comunicação do INPA