13/08/2007
Quem imagina que entre às margens do
rio Pinheiros e uma das mais movimentadas
avenidas do país não há
condições propícias para
o desenvolvimento ambiental está enganado.
No Projeto Pomar, em 2006, o então
estudante e atual biólogo Felipe Biazon
Vizioli, em sua monografia sobre répteis
e anfíbios no projeto, descobriu duas
espécies que não se sabia da
sua existência na cidade de São
Paulo.
Uma das espécies
é uma pequena rã, denominada
cientificamente de Elachistocleis, de aproximadamente
2,5 centímetros de comprimento. A outra
é conhecida como Cobra de Duas Cabeças,
com cerca de 40 centímetros. “São
espécies difíceis de encontrar
porque vivem enterradas”, diz Felipe.
Apesar da surpreendente
descoberta, ele lembra que ainda não
é possível afirmar que essas
duas espécies estão se reproduzindo
no projeto, vez que foi encontrado apenas
um exemplar da rã e dois da Cobra de
Duas Cabeças. “É um trabalho
inicial, ainda precisa de mais estudos para
provar que essas espécies estão
de se reproduzindo aqui”.
Felipe acredita em três
possibilidades da procedência desses
animais. Podem ter vindo do Parque Burle Marx,
da Represa Billings - via margem do rio -
, ou através do substrato utilizado
no implante do projeto. Segundo ele, antes
do início do Projeto Pomar, provavelmente
os animais vinham até o local, mas
morriam por não encontrar um ambiente
propício.
Além de animais desconhecidos,
Felipe encontrou outras espécies de
animais em maior abundância. No total,
ele encontrou 14 espécies, sendo oito
de répteis e seis de anfíbios,
e algumas delas eram vistas diariamente. “Eu
não esperava encontrar essa quantidade
e variedades de espécies”, afirma.
Para algumas espécies,
de acordo com o autor da monografia, há
claras evidências de reprodução
no Projeto Pomar, vez que foram encontrados
ninhos e ovos. Já com relação
a outras espécies, a simples abundância
já evidencia a reprodução
no local. Animais como Teiú, um tipo
de lagarto, e pererecas foram encontrados
rotineiramente.
A existência de anfíbios
no Projeto Pomar são um bom sinal.
Isso porque esse tipo de animais são
considerados bioindicadores, ou seja a presença
de anfíbios sinaliza meio ambiente
mais equilibrado. Isso ocorre pois são
espécies que se reproduzem na água
mas que na fase adulta vivem na terra, de
maneira que dependem de equilíbrio
hídrico e terrestre. Além disso,
como suas peles são mais permeáveis
e fazem respiração cutânea,
tais animais são mais sensíveis
à poluição.
O símbolo do Projeto
Pomar, a palmeira Jerivá é um
dos motivos da sobrevivência de espécies.
Conforme Felipe, a perereca e a “lagartixa
doméstica” (que, apesar do nome, é
exótica e oriunda inicialmente da África)
costumam se esconder em meio à planta.
O estudo de Felipe durou
um ano e quatro meses e se concentrou na região
do Rio Pinheiros, entre as pontes do Morumbi
e João Dias. Esse trecho foi escolhido,
pois é onde começou o Projeto
Pomar, portanto mais avançado. No entanto,
ele ressalva que se “pesquisarmos nos outros
pontos, podemos encontrar diversas outras
coisas interessantes”.
Alexandre Soares, biólogo
responsável pelo Projeto, lembra que
o “Pomar também é um local de
pesquisa”. Ele ressalta que cerca de 7 mil
estudantes visitam o local anualmente. “Vem
muita gente aqui, desde crianças até
estudantes em nível de pós-graduação”.
Além de pesquisa, Alexandre Soares
lembra que o Pomar também conta com
um trabalho voluntário nas segundas-feiras
à tarde e as quartas pela manhã.
A idéia é ensinar as pessoas
técnicas de plantio e poda.
As visitas podem ser
agendadas por telefone no número 5892-2655.
Texto: Julio Vieira