Meio Ambiente - 13/08/2007
- Localizada no rio Uatumã, no município
de Presidente Figueiredo (AM), a hidrelétrica
de Balbina sempre foi apontada como causa
de impacto ambiental por especialistas das
mais variadas áreas, desde o início
de sua construção, em 1984.
O pesquisador Efrem Ferreira, do Instituto
Nacional de Pesquisas Amazônicas (Inpa/MCT),
finalizou recentemente um trabalho de análise
do impacto ambiental sobre a ictiofauna nesta
hidrelétrica.
O pesquisador explica que
escolheu Balbina como local de sua pesquisa
pelas particularidades únicas ali encontradas
e também pela falta de informações
científicas sobre a ictiofauna do local.
Segundo ele, a hidrelétrica é
a única de grande porte construída
no estado do Amazonas e, na época,
causou uma grande discussão sobre a
viabilidade da obra em virtude da potência
que ela ia gerar na área alagada.
"Na ocasião,
início da década de 1980, essas
discussões ainda não eram muito
democráticas, não havia um movimento
ambiental bem articulado como hoje. Houve
um desentendimento entre a Universidade Federal
do Amazonas(Ufam) e o Inpa, as principais
instituições de pesquisa da
época, e a Eletronorte, empresa responsável
pela construção da hidrelétrica.
Por conta disso, não
houve, em Balbina, um acompanhamento adequado
sobre os impactos ambientais, trabalho de
praxe que já havia ocorrido em Tucuruí,
no Pará, por exemplo", lembra
Ferreira.
O pesquisador relata que
não havia dados científicos
sobre o impacto de Balbina. "Tínhamos
certeza de que o número de espécies
teria diminuído, uma vez que sempre
que se represa um rio o ambiente muda, torna-se
lago, e isto acarreta o desaparecimento de
algumas espécies. Mas não se
sabia quais eram as espécies. Perdemos
anos de registros, conseqüencia dessa
ausência de diálogo, dados, que
hoje poderiam ser utilizados em outros empreendimentos",
aponta, referindo-se à possível
utilização desses dados para
discussões e estudos sobre impactos
ambientais em outros rios da região.
A pesquisa de Ferreira registrou
104 espécies de peixes, 17 a menos
que em 1985, quando foram coletadas 121 espécies.
Isso signifca uma redução de
15% no número de espécies. Os
pesquisadores utilizaram a malhadeira (rede
de pesca) para coletar os peixes.
Os pontos de coleta foram os mais próximos
possíveis das coletas anteriores à
construção da barragem, respeitando
as alterações do leito do rio
para o do lago. Na área, havia jaraquis,
pacus, curimatã, aracus, que atualmente
vivem apenas abaixo da barragem, uma vez que
não podem mais manter seus ciclos de
vida na área alagada, acima da barragem.
Entretranto, Ferreira esclarece
que os registros realizados anteriormente
apresentavam problemas metodológicos,
pois havia muita mudança nas equipes
responsáveis. O pesquisador explica
que os poucos estudiosos que coletaram informações
em Balbina foram pessoas que trabalharam para
a Eletronorte de forma segmentada, não
criando um acompanhamento único, uma
base de dados em comum.
"Por vezes, os relatórios
da empresa são incompletos, não
servem como parâmetros para comparação
científica, que é a maior utilidade
para esse tipo de informação",
reclama o pesquisador.
"Tenho certeza de que
havia mais espécies do que estavam
registradas e houve um problema sério
de identificação de peixes,
logo, o impacto deve ter sido maior",
afirma o pesquisador. Essas suspeitas foram
comprovadas em um projeto de pesquisa, ainda
não finalizado, no qual Ferreira orienta
a mestre Odirlene Marinho Ribeiro.
Em seu trabalho sobre o
resgate de informações dos peixes
de Balbina, ela busca reidentificar as espécies
que haviam sido coletadas na década
de 80 e estão depositadas na coleção
de Peixes do Inpa. Quando o trabalho estiver
concluido teremos um quadro mais real das
alterações ocorridas na composição
da ictiofauna.
"A criação
de uma hidrelétrica modifica as relações
ambientais da ictiofauna, as espécies
modificam seus comportamentos para se adaptar
às novas condições. O
lamentável é que em Balbina
nós perdemos essa história,
não temos dados sobre esses 20 anos",
enfatiza Ferreira.
Segundo o pesquisador, Balbina
é a única hidrelétrica
no Brasil onde a área de captação
de água é menor do que o lago.
"Quando você passa pelo lago de
uma hidrelétrica sempre existem rios,
afluentes, mas, em Balbina, após o
lago, existem apenas igarapés pequenos.
O lago é maior do que a área
de captação e por conta disso
Balbina produz pouca energia. Balbina tem
a mesma área inundada de Tucuruí,
por exemplo, mas produz apenas 250 megawatts,
Tucurui produz 8 gigawatts, cerca de trinta
e duas vezes mais energia", exemplifica.
Apesar desses problemas,
Ferreira acredita que a hidrelétrica
é necessária nos dias atuais
e teve grande relevância no final da
década de 90, quando Manaus passou
por dificuldades de geração
de energia. Ainda assim, havia outras opções
na mesma ápoca, como Cachoeira-Porteira
no rio Trombetas.
"O que podemos fazer
agora é procurar evitar anos perdidos,
como em Balbina, ocorram em outras construções,
para que possamos minimizar impactos ambientais
ocasionados por estes empreendimentos. Afinal,
tudo que diz respeito a impacto ambiental
na Amazônia deve ser cuidadosamente
estudado, uma vez que a biodiversidade aqui
é enorme", conclui o pesquisador.
(Hemanuel Jhosé - Decon/Fapeam)
Assessoria de Comunicação do
INPA