16/08/2007 “Se eu estivesse
aqui há três meses, confesso
que estaria muito mais preocupado com questões
ambientais e sociais referentes à expansão
das atividades relacionadas à cana-de-açúcar”.
Com essa declaração logo no
início de sua palestra, sobre “Agroenergia,
Segurança Alimentar e Meio Ambiente”,
no simpósio “Etanol e Biomassa”, no
Instituto de Engenharia, em São Paulo,
o secretário do Meio Ambiente, Xico
Graziano, enfatizou seu otimismo com relação
ao momento atual e futuro do setor, ao explicar
que nos últimos meses houve excesso
de expectativas, devido à expansão
da atividade canavieira, mas que agora o setor
está voltando à sua normalidade.
“Estamos trabalhando em
um cenário em que não resta
nenhuma dúvida de que bioenergia e,
principalmente, o etanol abre enormes oportunidades.
E São Paulo vai aproveitá-las,
num contexto de uma expansão regulada
e planejada”, afirmou. Para Graziano, embora
crie oportunidades comerciais, a expansão
da cana-de-açúcar preocupa o
governo paulista, entre outros fatores, pela
queima da palha de cana, prejudicial ao meio
ambiente e à saúde: “Verificamos
no ano passado a queima de dois milhões
e quatrocentos mil hectares em São
Paulo, o que representa uma área fenomenal”.
Devido a esse problema,
o Governo do Estado assinou junto aos produtores
um termo de ajuste de conduta, com o objetivo,
entre outros pontos, de diminuir as queimas.
Além disso, de acordo com o secretário,
“o próprio setor, pressionado pelas
notícias internacionais, resolveu reduzir
essa prática mais rapidamente que a
própria lei”. Ele ressaltou que se
não fosse tomada nenhuma providência,
a área de queima de palha de cana teria
aumentado para quatro milhões e meio
de hectares em cinco anos”, lembrando que
“hoje, 76% da cana-de-açúcar
plantada no Estado de São Paulo está
em áreas mecanizadas que poderiam ser
colhidas com máquinas, sem a queima”.
Outro ponto importante ressaltado,
do protocolo, foi o objetivo de recuperação
das matas ciliares nas áreas de canaviais.
“As nossas estimativas são que talvez
600 mil hectares de matas ciliares venham
a ser recuperadas em áreas de cana
paulista nos próximos 10 anos”. Boa
parte dessa recuperação, de
acordo com o secretário, virá
naturalmente com a simples interdição
dessas áreas e em algumas outras haverá
plantio.
Ele abordou, ainda, outro
aspecto preocupante, referente à produção
da vinhaça:“O acúmulo de vinhaça
na mesma área deverá provocar
contaminação de águas
subterrâneas por nitrato, então
esse assunto deverá ser melhor normalizado”.
Graziano também disse ser possível
que se gere muita energia a partir do bagaço
da cana. “Contudo, muita energia significa
muita caldeira e muita emissão, logo
isso deverá ser acompanhado de investimentos
no controle da poluição”.
Também participaram
do debate Marcos Jank, presidente da ÚNICA
- União da Agroindústria Canavieira
do Estado de São Paulo e presidente
da ICONE - Instituto de Estudos do Comércio
e Negociações Internacionais;
Jair Arone Maues, coordenador de Projetos
Especiais de Energias da Petrobrás;
Carlos Eduardo Vaz Rossel, pesquisador da
UNICAMP – Universidade de Campinas; José
Luis Olivério, vice-presidente de Operações
da DEDINI S/A Indústria de Base; e
Luiz Célio Botuva, conselheiro do Instituto
de Engenharia.
Texto: Julio Vieira
Foto: José Jorge