22 de Agosto de 2007 - Paulo
Adario às margens do Rio Juruena com
Atainaene escoltado por PMs.
Juína, Brasil — Greenpeace e
Opan pedem investigação contra
fazendeiros e políticos que expulsaram
as organizações, além
de jornalistas franceses, de Juína,
no Mato Grosso.
O Greenpeace e a organização
indigenista Opan (Operação Amazônia
Nativa) pediram hoje ao Ministério
Público Federal a apuração
dos graves incidentes ocorridos há
dois dias em Juína, no Mato Grosso,
que resultaram na expulsão, por fazendeiros,
de um grupo de representantes da Opan, ativistas
do Greenpeace e dois jornalistas franceses.
Entre os ambientalistas estava o coordenador
do Greenpeace na Amazônia, Paulo Adario.
Cópias de duas horas
de imagens em vídeo documentando ameaças,
ofensas e o processo de expulsão do
grupo foram entregues agora à tarde
ao Procurador Federal da República
em Mato Grosso, Mário Lúcio
Avelar. Pela manhã, Adario fez um pronunciamento
sobre o assunto durante reunião especial
do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama)
que se realiza em Cuiabá, e pediu providências
das autoridades estaduais e federais. Ontem,
durante a abertura da reunião, o governador
Blairo Maggi anunciou que irá pedir
a presença do Exército para
enfrentar a grilagem e garantir a ordem no
noroeste do estado, onde está Juína.
O governo do estado havia sido informado no
dia anterior que o Greenpeace, a Opan e jornalistas
estavam praticamente mantidos como reféns
num hotel da cidade, cercados por quase uma
centena de fazendeiros.
“Ao mesmo tempo em que o
governo celebra e assume o mérito pela
queda das taxas de desmatamento na Amazônia,
o episódio em Juína mostra que
sua presença ou é rala ou ainda
está muito longe daqui”, disse Paulo
Adário, coordenador da campanha da
Amazônia do Greenpeace, que fazia parte
do grupo. “É inaceitável que
fazendeiros, com o apoio de autoridades locais,
cerceiem a liberdade que todo cidadão
tem de ir e vir e revoguem a Lei de Imprensa,
cassando o direito de jornalistas exercerem
sua profissão com segurança”.
O grupo do Greenpeace, da
Opan e os jornalistas franceses foram expulsos
por fazendeiros na segunda-feira pela manhã
(20/08), depois de ser mantido durante toda
a noite sob vigilância em um hotel da
cidade. O grupo de nove pessoas estava de
passagem por Juína e seguia em direção
à terra indígena Enawene-Nawe.
O objetivo da viagem era documentar áreas
recém-desmatadas, além de mostrar
a convivência de um povo indígena
que vive de agricultura e pesca com a floresta
e seu papel em preservar a biodiversidade.
No final da tarde de domingo,
fazendeiros abordaram integrantes das duas
organizações no hotel onde estavam
hospedados, querendo saber quem eram e o que
estavam fazendo em Juína. A área
onde está localizada a terra indígena
está em disputa entre os Enawene Nawe
e os fazendeiros e expressa o conflito da
expansão agrícola sobre áreas
protegidas e territórios de povos indígenas.
Os índios reivindicam
a reintegração de parte do território
tradicional que teria ficado de fora da demarcação
e que contém uma área de pesca
cerimonial, fundamental nos rituais sagrados
dos Enawene. Os fazendeiros, por sua vez,
alegam que a terra é deles e estão
dispostos a lutar para mantê-las. Eles
se mostraram muito irritados quando souberam
que jornalistas integravam o grupo que estava
no hotel.
Na manhã seguinte,
o local foi cercado por dezenas de fazendeiros
e o presidente da Câmara Municipal,
vereador Francisco Pedroso, o Chicão
(DEM), que exigiam esclarecimento sobre os
objetivos dos visitantes. O grupo foi levado
à Câmara Municipal, onde uma
sessão especial foi rapidamente organizada.
Estavam presentes o prefeito da cidade, Hilton
Campos (PR), o presidente da Câmara,
o presidente da OAB, o presidente da Associação
dos Produtores Rurais da região do
Rio Preto(Aprurp), Aderval Bento, vários
vereadores e mais de 50 fazendeiros. E também
a polícia. Durante seis horas, os fazendeiros
e repetiram que a entrada do grupo na terra
Enawene Nawe não seria permitida e
que seria “perigoso” insistir na viagem. Esmurrando
a mesa, o prefeito de Juína, Hilton
Campos, afirmou que não iria permitir
a ida do grupo para o Rio Preto, sendo aplaudido
fervorosamente pelos colegas fazendeiros.
Para evitar maiores conflitos,
a viagem foi cancelada. O grupo, então,
se dirigiu ao local de encontro com os Enawene,
uma ponte sobre o Rio Preto, a 60 km de distância,
para dar a eles combustível e comida
para a volta. A viagem foi feita sob escolta
policial, para garantir a segurança
dos jornalistas, da Opan e do Greenpeace.
Mas nem isso evitou que os fazendeiros, que
acompanharam a viagem de ida e volta em 8
oito caminhonetes lotadas, continuassem intimidando
e ameaçando o grupo. O grupo se refugiou
no hotel de onde não pôde sair
nem para comer. Uma viatura da Polícia
Militar ficou na área, para impedir
qualquer tentativa de invasão, mas
não conseguiu impedir que um fotógrafo
fosse agredido. Os fazendeiros fizeram uma
vigília na frente do hotel durante
toda a noite.
De manhã cedo, 30
caminhonetes lotadas de fazendeiros, com faróis
acessos a buzinando sem parar, insultando
e ameaçando o grupo, escoltaram o grupo,
que estava protegido por duas viaturas policiais,
até o aeroporto. Foram advertidos a
decolar imediatamente, ou o avião seria
queimado. No momento, todos se encontram em
segurança em Cuiabá.