28 de Setembro de 2007 -
No vale do rio Techa
o nível de radiação ultrapassa
4000 microRen/hora.
Chelyabinsk, Rússia — Greenpeace lança
relatório sobre acidente e exige maior
atenção do governo russo à
população que ainda vive nas
áreas contaminadas com lixo radioativo.
Às vésperas
do cinqüentenário do segundo maior
acidente nuclear mundial, ocorrido na cidade
de Mayak, ao sul dos Urais, o Greenpeace Rússia
lançou um relatório especial
sobre os impactos atuais da tragédia.
No dia do aniversário (29 de setembro),
o Greenpeace se reunirá com a população
local em um protesto na cidade mais próxima,
Chelyabinsk. A ONG pede que a população
que ainda vive em áreas contaminadas
seja realocada e que a Rússia pare
de importar e reprocessar ainda mais lixo
nuclear estrangeiro do que já é
processado hoje em Mayak.
A explosão numa fábrica
de processamento de material nuclear, em setembro
de 1957, expôs 272 mil pessoas a radiações
significativas. Meio século depois,
Mayak é um dos lugares com índices
de radioatividade mais altos no planeta e
o acidente continua a ter um legado de devastação.
Muitos milhares de pessoas não foram
evacuados das áreas contaminadas. Nas
vilas e cidades vizinhas, o índice
de câncer na população
é mais do que o dobro da média
russa. Mas, ao invés de aprender as
lições da tragédia, o
governo russo aprovou uma legislação
que o autoriza a importar combustível
nuclear já usado de outros países
para Mayak, resíduos que ficarão
na fábrica de processamento para sempre.
“Apesar da explosão
ter sido o pior, foi um dos muitos acidentes
na fábrica de Mayak, onde os desastres
incluem lixo radioativo sendo derramado diretamente
no Rio Techa, usado como fonte de água
por milhares de pessoas”, afirmou Vladimir
Tchouprov, do Greenpeace Rússia. “Nenhum
dos países que envia seu lixo nuclear
sujo para a Rússia autorizaria Mayak
a continuar operando em seu próprio
território”.
O combustível
nuclear estrangeiro processado em Mayak causou
até hoje o derramamento de 3 milhões
de metros cúbicos de líquido
radioativo no meio ambiente. Mayak já
reprocessou 1.540 toneladas de combustível
nuclear usado de muitos países, incluindo
a Hungria, Bulgária, Alemanha, Finlândia
e República Tcheca.
“Os 50 anos do legado de contaminação
de Mayak são um triste exemplo da verdadeira
face da indústria nuclear global”,
afirmou Ricardo Baitelo, coordenador da campanha
de energia do Greenpeace Brasil. “O mundo
tem de aprender as lições de
Mayak e este aniversário deve servir
como um chamado de alerta global sobre os
impactos reais da energia nuclear, que o governo
Lula tenta expandir no Brasil, com a construção
de Angra 3. Este tipo de energia enfraquece
a possibilidade das reais soluções
de combate às mudanças climáticas,
ao desviar recursos dos investimentos necessários
em tecnologia renováveis e eficiência
energética, que o planeta precisa tão
urgentemente para lidar com a crise climática”.