Brasília (24/10/07)
- O Centro de Proteção de Primatas
Brasileiros (CPB), do Instituto Chico Mendes
de Conservação da Biodiversidade,
completa seis anos de existência. São
quase 30 estudos científicos, distribuídos
em seis projetos de pesquisa, voltados para
conservação de seis das dez
espécies de primatas brasileiros consideradas
criticamente em perigo pela UICN (União
Internacional de Conservação
da Natureza).
Atualmente, o CPB destaca-se
como um centro de referência na pesquisa
com primatas aplicada à conservação,
graças ao trabalho de uma equipe qualificada,
infra-estrutura moderna que inclui banco de
material biológico, sede própria
e um completo aparato difusor de imagens e
informações na área da
primatologia. Em 2005, o órgão
foi o principal organizador do Workshop que
serviu de base para criação
do Comitê Internacional para Conservação
e Manejo dos Primatas Amazônicos e,
em 2003, foi o co-organizador do III Simpósio
sobre Micos-Leões, realizado em Teresópolis,
Rio de Janeiro.
ATUAÇÃO :
O Centro de Proteção de Primatas
Brasileiros (CPB) foi criado em 18 de outubro
de 2001, pela Portaria Nº 148 e referenciado
no Decreto Nº 5.718, de 13 de março
de 2003. Integrado aos objetivos macros da
Instituição, atua na ampliação
do conhecimento sobre biodiversidade da fauna
primatológica brasileira, de forma
a subsidiar o governo na tomada de decisões
e na aplicação de medidas efetivas
para a conservação e o manejo
das espécies.
Dessa forma, desenvolve
pesquisas e ações aplicadas
à conservação da fauna
primatológica brasileira, com ênfase
nas espécies ameaçadas; monitora
e pesquisa a ocorrência de zoonoses
e epizootias em populações selvagens
e cativas de primatas no Brasil; presta informações
sobre os primatas brasileiros, difundindo
conhecimento qualificado sobre sua biologia,
conservação e manejo; e apóia
tecnicamente às unidades do Instituto
Chico Mendes em todas as situações
que requeiram assistência especializada
no manejo de primatas.
ESTUDOS CIENTÍFICOS
: Na área da pesquisa, o Centro desenvolve
vários projetos voltados para conservação
de seis das dez espécies de primatas
brasileiros consideradas criticamente em perigo
pela UICN, assim como para o conhecimento
mais amplo e especializado de outros primatas
de interesse para a conservação
da biodiversidade brasileira.
Os primatas em situação
crítica de ameaça são
espécies endêmicas às
regiões Nordeste e Norte do país,
praticamente desconhecidas para ciência,
cujo conhecimento disponível até
2003 era insuficiente para definição
de medidas efetivas de conservação.
Leia, a seguir, detalhes
dos projetos de pesquisa, manejo e conservação
desenvolvidos pela CPB:
PROJETO GUIGÓ : É
voltado para as espécies Callicebus
coimbrai e Callicebus barbarabrownae,sua área
de atuação abrange todo estado
de Sergipe e Norte da Bahia. Desde 2004 foram
realizadas várias expedições
para inventário e mapeamento das populações
remanescentes destas espécies, cobrindo
mais de 10 mil km. Como resultado foram identificadas
65 populações além das
16 anteriormente conhecidas e selecionadas
sete áreas para proposição
de uma unidade de conservação.
Estão sendo realizados
estudos em genética molecular ecitogenética
com ambas espécies, em parceria com
a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)
e a Pontifícia Universidade Católica
do Rio Grande do Sul (PUC-RS).
PROJETO ULULATA : É
relacionado à conservação
do Alouatta ululata, espécie de guariba(bugio)
pouco conhecida, com distribuição
geográfica abrangendo o noroeste do
Ceará,centro-norte do Piauí
e sul do Maranhão. A pesquisa em inventário
e mapeamento das populações
da espécie iniciada em 2004 realizou
oito expedições que percorreram
mais de 30 mil Km em diversos tipos de ambientes
como matas serranas, matas de cocais, cerradão,
caatinga e manguezais. Até o momento
foram identificados cerca de 99 populações,
cujos resultados parciais já são
suficientes para redefinir o status de ameaça
da espécie e indicar medidas estratégicas
para sua conservação.
PROJETO KAAPORI : Iniciado
em 2005 e voltado para conservação
do Cebus kaapori, rara espécie de caiarara
(variedade de macaco-prego) descoberta em
1992, com distribuição restrita
aos estados do Maranhão, Pará
e Tocantins. Em menos de dois anos foram realizadas
quatro expedições, investigando
110 áreas. Os resultados até
o momento obtidos revelam uma grave situação
de ameaça para espécie, com
indicação de existência
de apenas oito populações e
vários relatos de extinções
locais em conseqüência do desmatamento
e da caça.
PROJETO CEBUS : Iniciado
em 2005 com o objetivo de investigar variações
fenotípicas encontradas nas populações
nordestinas de macacos-prego. Este projeto
rendeu um extenso e criterioso estudo taxonômico
em parceria com a Universidade Federal da
Paraíba (UFPB) e apoio do CNPq, que
culminou com a redescoberta de Cebus flavius,
espécie de macaco-prego registrada
inicialmente por George Marcgrave em 1648
e descrita por Johann Schreber em 1774. Restrita
à Mata Atlântica Nordestina,
esta espécie permaneceu um mistério
para ciência por mais de 300 anos, até
a publicação do artigo científico
com a sua redescoberta, em julho de 2006 no
Boletim do Museu Nacional.
Está em curso também,
o inventário e mapeamento das suas
populações remanescentes, trabalho
que já investigou 105 áreas,
abrangendo 67 Municípios nos estados
do Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco.
Foram até o momento encontradas 10
populações, o que indica que
Cebus flavius deve ser considerada uma espécie
criticamente em perigo de extinção.
Outros dois trabalhos de pesquisa em andamento
abordam a ecologia comportamental da espécie
e realiza um estudo inédito em medicina
da conservação, para definição
dos parâmetros clínicos da espécie.
PROJETO PRIMATAS DO SÃO
FRANCISCO : É dedicado ao diagnóstico
do estado de conservação das
populações de primatas existentes
ao longo da Bacia do Rio São Francisco,
este projeto trata da recuperação
de toda a fauna primatológica inserida
em um contexto regional, que atravessa diferentes
biomas, e que envolve não apenas espécies
reconhecidas como criticamente em perigo.
Foram identificadas e mapeadas populações
de nove espécies, entre primatas criticamente
em perigo, não ameaçados e invasores.
MEDICINA DA CONSERVAÇÃO
: O CPB tem em sua organização
interna um setor de medicina da conservação,
dedicado ao acompanhamento e estudo de casos
de ocorrência de doenças (zoonoses
e de epizootias)envolvendo primatas brasileiros.
Duas pesquisas estão sendo
realizadas pelo CPB. A primeira, em parceria
com o Ministério da Saúde (MS),
a Universidade de São Paulo (USP),
o Laboratório Central de Pernambuco
(LACEN-PE) e a Superintendência do IBAMA
no Rio Grande do Norte (SUPES-RN), investiga
a ocorrência de epizootias em populações
de sagüis (Callithrix jacchus) no Município
de Natal (RN).
A segunda pesquisa estuda
e monitora a ocorrência de mortes em
populações selvagens e cativas
de primatas brasileiros. Este trabalho está
sendo feito em parceria com o Ministério
da Saúde e tem por objetivo a identificação
e controle de focos de febre amarela silvestre.
BANCO DE MATERIAL BIOLÓGICO
: A fim de atender os estudos em genética,
clínica e patologia realizados pelo
CPB, foi estruturado um banco de material
biológico que conta atualmente com
195 exemplares de amostras de 18 espécies
de primatas brasileiros,oriundos de diversas
localidades brasileiras, credenciado pelo
CGEN em 2005.
IBAMA : O CPB também
dá assistência especializada
ao Ibama, auxiliando o trabalho dos Centros
de Triagem de Animais Silvestre (CETAS) que
inclui identificação, exames
clínicos e laboratoriais, o atendimento
à distância através de
imagens fotográficas enviadas eletronicamente;
além do esclarecimento de dúvidas
sobre conduta clínica, dieta, e outras
informações para o manejo de
primatas em cativeiro.
O apoio ao Ibama inclui
também o estudo para solução
de conflitos entre populações
humanas e populações de macacos-prego
e de situações de espécies
ameaçadas por outras espécies
invasoras.
Aldo Sergio Vasconcelos
CPB/ICMBio