Hainan, China, 26 de outubro
de 2007 — Os parentes vivos mais próximos
da espécie humana na escala evolutiva
– os chimpanzés, gorilas, lêmures
e outros primatas – estão sob ameaça
sem precedente devido à destruição
de florestas tropicais e ao comércio
ilegal de animais silvestres e carne de caça.
Segundo um novo relatório apresentado
pelo Grupo de Especialistas em Primatas da
Comissão de Sobrevivência das
Espécies (SSC) da União Mundial
para a Natureza (IUCN) e pela Sociedade Internacional
de Primatologia (IPS),
em colaboração com a Conservação
Internacional (CI), 29% das espécies
de primatas está sob risco de extinção.
Intitulado Primates in Peril:
The World’s 25 Most Endangered Primates—2006–2008
(Primatas em Perigo: Os 25 Primatas mais ameaçados
do mundo – 2006-2008), o relatório
compilado por 60 especialistas de 21 países
alerta que se falharmos nas respostas às
crescentes ameaças, atualmente exacerbadas
pelas mudanças climáticas, veremos
as primeiras extinções de primatas
em mais de um século. O estudo indica
que 114 das 394 espécies de primatas
estão classificadas como ameaçadas
de extinção na Lista Vermelha
da IUCN.
Os caçadores abatem
primatas para subsistência ou para a
venda de carne; comerciantes capturam-os vivos
para venda, madeireiros, fazendeiros e urbanizadores
destróem seus hábitats. Acredita-se
que uma espécie, o colobo-de-waldron,
habitante da Costa do Marfim e de Gana, já
esteja extinta. Calcula-se que o langur-dourado
do Vietnam e o gibão-de-hainan, na
China, têm populações
muito reduzidas, na casa das dezenas. O lóris-esbelto
vermelho, do Sri Lanka, foi avistado apenas
quatro vezes desde 1937.
“Todos os sobreviventes
destas 25 espécies cabem dentro de
um estádio de futebol; isso mostra
os quão poucos restam no planeta hoje”,
afirma Russel A. Mittermeier, presidente da
CI, que também é chefe do Grupo
de Especialistas em Primatas da IUCN/SSC.
“A situação é pior na
Ásia, onde a destruição
da floresta tropical, caça e comércio
de macacos coloca muitas espécies sob
grande risco. Até mesmo as espécies
recém-descobertas estão gravemente
ameaçadas pela perda de seu hábitat
e poderão desaparecer logo”.
Como “espécies-bandeira”
para conservação e nossos parentes
vivos mais próximos, os primatas não-humanos
são importantes para a saúde
dos ecossistemas em seu entorno. Através
da dispersão de sementes e outras interações
com seus ambientes, os primatas ajudam a manter
um vasto leque de vida vegetal e animal que
compõem as florestas da Terra.
A lista dos 25 primatas
mais ameaçados do mundo, compilada
no 21º Congresso da Sociedade Internacional
de Primatologia realizado em Entebe, Uganda,
segue a mesma metodologia desde sua primeira
edição em 2000. Oito dos primatas
desta lista, incluindo o orangotango de Sumatra,
na Indonésia, e o gorila de Diehl,
encontrado na República dos Camarões
e na Nigéria, são “tetra-perdedores”,
porque também já foram incluídos
nas três listas anteriores. Seis outras
espécies foram incluídas na
lista pela primeira vez, incluindo um macaco
tarsier indonésio recém-descoberto
que ainda não foi formalmente registrado.
A intenção
principal dessa lista é de chamar atencão
para a situação crítica
de alguns dos primatas mais ameaçados.
Com isso, atrair investimentos e esforços
para promover pesquisas e investigações
para mitigar as ameaças por meio de
medidas tais como a fiscalização,
a criação de áreas protegidas
e programas de criação em cativeiro.
Existem muitas espécies precisando
urgentemente de maiores atenções
nesse sentido, e assim a lista precisa ser
dinâmica e indicar comparativamente
aquelas espécies com maior nível
de ameaça.
Brasil – A lista anterior
(2004-2006) era composta por três espécies
do Brasil. Todas da Mata Atlântica:
mico-leão-da-cara-preta (Leontopithecus
caissara), macaco-prego-do-peito-amarelo (Cebus
xanthosternos) e muriqui do norte (Brachyteles
hypoxanthus), também conhecido como
mono-carvoeiro. Na relação atual,
os primatas brasileiros ficaram de fora. Na
avaliação dos pesquisadores,
embora os animais brasileiros continuem ameaçados,
os esforços conjuntos de instituições
do governo, organizações não-governamentais
e o acúmulo de anos de conhecimento
sobre as espécies e o habitat onde
vivem mitigaram parte dos problemas que comprometem
a sobrevivência dos animais. Outro fator
que tirou da lista atual os macacos brasileiros
foi a piora da situação de outros
primatas em outras partes do mundo. Embora
os resultados sejam um pouco mais positivos,
ainda é preciso mais investimentos
no monitoramento das principais populações,
na análise da diversidade genética
intra e interpopulacional, e na criação
e implementação de unidades
de conservação, para garantir
a proteção a longo prazo da
população destas espécies.
Hotspots prioritários
para sobrevivência dos primatas - Todos
os 25 primatas da lista de 2006-2008 encontram-se
nos hotspots de biodiversidade – as 34 regiões
de alta prioridade identificadas pela Conservação
Internacional que cobrem apenas 2,3% da superfície
terrestre do planeta, mas abrigam mais de
50% de toda a diversidade vegetal e animal
da Terra. Oito hotspots são considerados
de altíssima prioridade para a sobrevivência
dos primatas mais ameaçados de extinção:
Indo-Burma, Madagascar e as ilhas do Oceânico
Índico, Sunda (Indonésia, Malásia
e Brunei), Florestas de Afromontana na África
Oriental, as Florestas Costeiras da África
Oriental, as Florestas da Guiné na
África Ocidental, a Mata Atlântica
brasileira e o Ghats Ocidental – Sri Lanka.
A lista atual, 2006-2008,
chama a atenção à situação
alarmante do crescimento das taxas de desmatamento
e a destruição das florestas
dos Andes no Peru, Colômbia e Equador.
Madagascar e Vietnam têm quatro primatas
na lista cada um, enquanto que a Indonésia
tem três, seguida pelo Sri Lanka, Tanzânia,
Costa do Marfim, Gana e Colômbia, com
dois primatas cada. A China, República
dos Camarões, Guiné Equatorial,
Quênia, Nigéria, Mianmar, Bangladesh,
Índia, Peru, Venezuela e Equador têm,
cada um, um primata na lista. Dentre os 25
listados, alguns primatas são encontrados
em mais de um país. Por região,
a lista inclui 11 espécies da Ásia,
sete da África, quatro de Madagascar
e três da América do Sul, mostrando
que os primatas não humanos estão
ameaçados onde quer que se encontrem.
A perda dos hábitats
provocada pelo corte das florestas tropicais
para a agricultura, exploração
madeireira e coleta de lenha para combustível,
continua a ser o principal fator para a redução
do número de primatas segundo o relatório.
O desmatamento tropical também emite
20% do total dos gases do efeito estufa, que
provocam mudança climática,
o que representa mais do que a emissão
de todos os automóveis, caminhões,
trens e aviões do planeta reunidos.
Além disso, a mudança climática
está alterando os hábitats de
muitas espécies, tornando aquelas que
vivem em pequenos territórios ainda
mais vulneráveis à extinção.
“Protegendo as florestas
tropicais que ainda restam no mundo, salvaremos
os primatas e outras espécies ameaçadas,
ao mesmo tempo em que impediremos que mais
dióxido de carbono entre na atmosfera
e aqueça o clima”, observa Mittermeier.
A caça de subsistência
e com finalidades comerciais representa uma
grande ameaça aos primatas, especialmente
na África e na Ásia. A captura
de espécimes vivos para o comércio
de animais de estimação também
significa uma séria ameaça,
especialmente para as espécies asiáticas.
A lista de 2006-2008 concentra-se
na gravidade da ameaça global e não
apenas nos números. Algumas das espécies
na lista, como o orangotango de Sumatra, ainda
são encontrados em poucos milhares,
mas estão desaparecendo num ritmo mais
rápido do que os outros primatas. Outros
foram descobertos apenas recentemente, e suas
reduzidas populações e territórios
os tornam especialmente vulneráveis
à destruição de seus
hábitats e outras ameaças.
Milena del Rio do Valle
Comunicação CI-Brasil
Susan Bruce
Conservação Internacional –
CI EUA
A Conservação
Internacional (CI) aplica inovações
da ciência, economia, política
e participação comunitária
à proteção das regiões
de diversidade vegetal e animal mais ricas
da terra e dos hotpots da biodiversidade,
grandes regiões naturais de alta biodiversidade
e ecossistemas marinhos críticos. Sediada
na área metropolitana de Washington,
DC, a CI atua em mais de 40 países
de quatro continentes. Veja mais informações
sobre a CI no site www.conservation.org
A Comissão de Sobrevivência
das Espécies (The Species Survival
Commission - SSC) é uma das seis comissões
voluntárias da IUCN – The World Conservation
Union, que é uma união de estados
soberanos, agências de governo e organizações
não-governamentais. A missão
da SSC é conservar a diversidade biológica
pelo desenvolvimento e realização
de programas para salvar, restaurar e manejar
criteriosamente as espécies e seus
hábitats. A sobrevivência das
espécies e subespécies vivas
de primatas do mundo é a principal
missão do Grupo de Especialistas em
Primatas da IUCN/SSC, com mais de 400 profissionais
voluntários que representam a linha
de frente na conservação internacional
de primatas.
A Sociedade Internacional
de Primatologia (IPS) foi criada para estimular
todas as áreas da pesquisa científica
primatológica não-humana, para
facilitar a cooperação entre
cientistas de todas as nacionalidades dedicados
à pesquisa de primatas, e para promover
a conservação de todas as espécies
de primatas. A Sociedade foi organizada para
atender a finalidades exclusivamente científicas,
educativas e caritativas. Veja mais informações
sobre a IPS no site http://pin.primate.wisc.edu/idp/idp/entry/433.
+ Mais
Oficina de Comunicação
aborda conservação da biodiversidade
Eunápolis, 25 de
outubro de 2007 — Nos dias 25, 26 e 27 acontece,
em Eunápolis (BA), uma oficina de capacitação
em comunicação comunitária
que reúne membros de associações
comunitárias, órgãos
governamentais, entidades não-governamentais
e privadas envolvidos em atividades de conservação
ambiental na região da Costa do Descobrimento
e adjacências. O objetivo da oficina
é o de abordar desde a teoria da comunicação,
técnica e ferramentas até experiências
práticas de produção
de informativos e exposições
fotográficas. O curso também
traz um módulo técnico, com
informações acerca da biodiversidade,
riqueza e ameaças ao meio ambiente
da área.
“Levantamos as expectativas
e necessidades dos participantes para podermos
definir quais atividades práticas seriam
mais condizentes com a realidade da região”,
explica Isabela Santos, diretora de comunicação
da Conservação Internacional
(CI-Brasil) e uma das facilitadoras da oficina.
Sandra Damiani, consultora, e Marcele Bastos,
especialista em comunicação
do programa Mata Atlântica da CI-Brasil,
também facilitam as atividades.
A necessidade da capacitação
foi apontada durante a realização
do workshop de planejamento participativo
de comunicação e educação
ambiental realizada em fevereiro de 2006,
com foco na área de influência
da Veracel que abrange 10 municípios
baianos. A iniciativa faz parte da parceria
entre CI-Brasil, Veracel Celulose e Natureza
Bela. O intuito é formar potenciais
multiplicadores da informação
ambiental na região e fomentar a criação
de redes e núcleos para a disseminação
da causa ambiental.
Considerada um dos cinco
hotspots de biodiversidade mais importantes
do planeta - que são as áreas
mais ricas em diversidade biológica
e também as mais ameaçadas -
a Mata Atlântica é um bioma prioritário
para a conservação ambiental.
Na Bahia, a perda da vegetação
nativa foi ainda mais intensa. Restam apenas
3,5% da cobertura original do bioma na região.
A situação é ainda mais
crítica no extremo sul do estado, hoje
com menos de 0,4% de remanescentes deste ecossistema.
CONSERVAÇÃO
INTERNACIONAL
A Conservação Internacional
foi fundada em 1987 com o objetivo de conservar
o patrimônio natural do planeta – nossa
biodiversidade global – e demonstrar que as
sociedades humanas são capazes de viver
em harmonia com a natureza. Como uma organização
não-governamental global, a CI atua
em mais de 40 países. A organização
utiliza uma variedade de ferramentas científicas,
econômicas e de conscientização
ambiental, além de estratégias
que ajudam na identificação
de alternativas que não prejudiquem
o meio ambiente. No Brasil, a Conservação
Internacional tem sede em Belo Horizonte(MG).
Outros escritórios estão estrategicamente
localizados em Brasília(DF), Belém(PA),
Campo Grande(MS), Salvador e Caravelas(BA).
Para mais informações sobre
os programas da CI, visite www.conservacao.org
Veracel Celulose
A Veracel é um projeto integrado de
produção de celulose, que inclui
desde a formação da floresta
até o escoamento da produção
final, pelo Terminal Marítimo de Belmonte
(BA). Sob o controle de dois acionistas –
Aracruz Celulose S.A. (Brasil) e Stora Enso
(conglomerado sueco-finlandês) –, iniciou
suas operações industriais em
maio de 2005. Sua fábrica está
instalada entre os municípios de Eunápolis
e Belmonte, no extremo sul da Bahia. Considerada
uma das mais modernas do mundo, tem capacidade
nominal de produção de 900 mil
toneladas por ano. A empresa tem áreas
em dez municípios baianos para as atividades
florestais: Eunápolis, Canavieiras,
Belmonte, Guaratinga, Itabela, Itagimirim,
Itapebi, Mascote, Porto Seguro e Santa Cruz
Cabrália. Em 2006, primeiro ano completo
de operação industrial, a Veracel
alcançou uma produção
total de 976,3 mil toneladas de celulose (8%
acima da capacidade nominal). Para mais informações,
visite: www.veracel.com.br
Natureza Bela
O Grupo Ambiental Natureza Bela é uma
entidade sem fins lucrativos, que tem como
objetivo a defesa, preservação
e conservação do meio ambiente,
a promoção do desenvolvimento
sustentável, a educação
ambiental, a promoção do voluntariado
e a produção e divulgação
de informações e conhecimentos
técnicos e científicos, além
de incentivar a cultura e a educação.
Para mais informações, visite
o site www.naturezabela.org.br.