2 de Novembro de 2007 -
Luana Lourenço
- Repórter da Agência Brasil
- Brasília - Mais de 90% da eletricidade
consumida no Brasil é gerada em usinas
hídricas – energia freqüentemente
citada como “limpa”, em especial porque não
emitiria gases de efeito estufa. A comparação
com outras fontes muitas vezes confirma as
vantagens nesse quesito, mas estudos a partir
do início da década de 90 começaram
a colocar em xeque a idéia de "impacto
zero" dessas usinas para as mudanças
climáticas.
O relatório Emissões
de Dióxido de Carbono e de Metano pelos
Reservatórios Hidrelétricos
Brasileiros, publicado em 2006 pela Comissão
Interministerial de Mudança Global
do Clima conclui que, apesar das comprovadas
emissões de gases de efeito estufa,
principalmente dióxido de carbono e
metano, “em termos comparativos [as hidrelétricas]
são uma solução viável
de abatimento das emissões na geração
de energia”. Mas ressalva que a energia hidrelétrica
“não é uma fonte isenta de emissões
atmosféricas, tal qual se afirmava
em estudos ambientais da década de
70 e 80”.
O documento, elaborado pela
Coordenação dos Programas de
Pós-graduação de Engenharia
da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(Coppe/UFRJ), traz comparações
de emissões de nove hidrelétricas
brasileiras – Samuel (RO), Xingó (AL,
BA, SE), Miranda (MG), Três Marias (MG),
Barra Bonita (SP), Segredo (PR), Itaipu (PR)
e Serra da Mesa (GO) – com termelétricas
de mesmo potencial.
Os dados apontam dois casos
nos quais seria melhor a utilização
de usinas térmicas no lugar de hídricas
para garantir menos contribuição
para o efeito estufa: Samuel, que emite 535.407
toneladas de carbono por ano, e Três
Marias, responsável por 540.335 mil
toneladas anuais, pelos cálculos da
Coppe. Termelétricas a carvão
com mesmo potencial energético emitiriam
237.492 e 435.401 toneladas anuais de carbono,
respectivamente, concluem os pesquisadores.
Nas outras sete usinas analisadas,
a geração hidrelétrica
é menos prejudicial no que diz respeito
a mudanças climáticas que as
termelétricas. Caso de Itaipu, por
exemplo, que emite 23.497 toneladas de carbono
por ano em comparação a mais
de 13 milhões que seriam emitidos por
uma térmica equivalente. Apesar do
bom resultado comparativo, juntas, as nove
hidrelétricas analisadas emitem cerca
de 5 milhões de toneladas de carbono
anualmente, segundo a Coppe.
Na avaliação
do presidente da Empresa de Pesquisa Energética
(EPE), Maurício Tolmasquim, essas quantidades
são “desprezíveis” e continuar
investindo em geração hidrelétrica
é uma solução “indubitavelmente”
mais viável para o setor energético
brasileiro. “É uma quantidade totalmente
desprezível; não é significativa”,
avalia.
Para Tolmasquim, as vantagens
das hidrelétricas sobre as termelétricas
em relação à contribuição
para o aquecimento global são indiscutíveis.
“Não tenho dúvida de que a hidrelétrica
é uma energia limpa. Essa discussão
[hidrelétricas versus termelétricas]
é interessante do ponto de vista acadêmico,
mas no mundo real a gente só comprova
que a hidrelétrica é mais interessante
que a térmica”.
Menos categóricos,
pesquisadores e cientistas ouvidos pela Agência
Brasil avaliam que os investimentos em hidreletricidade
valem a pena desde que as usinas sejam bem
projetadas e os projetos considerem as futuras
emissões de gases de efeito estufa,
além de outros impactos ambientais.