Campanha 'Y Ikatu Xingu
lança livro
sobre formação de agentes socioambientais
30/11/2007 - Livro conta
a história da formação
de 42 agentes sociambientais realizada em
Canarana, de dezembro de 2005 a outubro de
2006. O objetivo da formação
foi incentivar a cultura agroflorestal no
Cerrado mato-grossense e formar lideranças
socioambientais. Recheado de fotos e depoimentos
dos participantes, a publicação
relata parte da história pessoal de
alguns formandos e de algumas iniciativas
socioambientais empreendidas por eles.
Acontece neste sábado,
dia 1º de dezembro, em Canarana (MT),
às 20 h, o lançamento do livro
Formação de Agentes Socioambientais
no Xingu – Valorizando as descobertas e iniciativas
agroflorestais. Estão sendo esperadas
cerca de duzentas pessoas no Centro de Tradições
Gaúchas (CTG) Pioneiros do Centro-oeste
para o coquetel de lançamento e sessão
de autógrafos, já que vários
dos protagonistas do livro, os agentes socioambientais,
deverão estar presentes.
A publicação
conta a história da formação
de 42 agentes sociambientais realizada em
Canarana, de dezembro de 2005 a outubro de
2006. O projeto foi uma parceria entre o Instituto
Socioambiental (ISA), a prefeitura de Canarana
e a Universidade do Estado de Mato Grosso
(Unemat), com patrocínio do Fundo Nacional
do Meio Ambiente (FNMA), instituições
que integram a campanha ‘Y Ikatu Xingu, de
proteção e recuperação
das nascentes e matas ciliares do Rio Xingu
no Mato Grosso.
O objetivo da formação
foi incentivar a cultura agroflorestal no
Cerrado mato-grossense e formar lideranças
socioambientais. Pretendeu estimular e potencializar
ações que aliassem conservação
e recuperação dos recursos naturais
com alternativas de geração
de renda, valorizando os talentos e potencialidades
da região. Os agentes formados são
de seis municípios do nordeste do Mato
Grosso: Canarana, Querência, Ribeirão
Cascalheira, Nova Xavantina, Gaúcha
do Norte e Água Boa.
Recheado de fotos e depoimentos
dos participantes, a publicação
conta parte da história pessoal de
alguns formandos – pequenos perfis e narrativas
de momentos significativos – e de algumas
iniciativas socioambientais que eles empreenderam
durante a formação, nos chamados
períodos entremódulos, ou que
deram continuidade depois do fim do projeto.
Estão registradas iniciativas consideradas
exemplares por sua “qualidade e diversidade,
seu potencial de mudança, capacidade
de multiplicar novas idéias, de estimular
ainda outras ações, questionar
antigos modelos em uma região que precisa
de mais alternativas de desenvolvimento e
gestão do território”, como
afirma o texto da publicação.
Essas ações
vão desde a implantação
de sistemas agroflorestais, passando pela
recuperação de matas ciliares,
até pesquisas e trabalhos em escolas,
entre várias outras. Elas concentraram-se
em experimentos e aperfeiçoamentos
implantados em pequenas propriedades, mobilizaram
pequenos grupos de assentados ou até
cidades inteiras.
O livro aponta ainda alguns
dos princípios metodológicos
e filosóficos que orientaram o projeto
e retrata momentos de palestras, debates e
experimentos realizados em quatro oficinas
sobre os mais variados temas – sistemas agroflorestais,
ciclo hidrológico, desmatamento e mudanças
climáticas, entre outros. Apresenta
também alguns exercícios relacionados
a habilidades conceituais, sociais e técnicas
necessárias para que esses agentes
possam atuar como multiplicadores.
Entre os destaques do livro,
está o Festival de Sementes de Canarana,
que mobilizou dezenas de alunos, pais e professores
na coleta de sementes nativas do Cerrado para
a produção de mudas no viveiro
municipal. Na Escola Municipal Família
Agrícola de Querência (Emfaque),
alguns professores desenvolveram uma série
de experimentos com agroflorestas e ações
de conscientização sob a coordenação
do professor e agente Gilmar Hollunder. Em
Gaúcha do Norte, os formandos desenvolveram
ações educativas que incentivaram
a arborização da cidade e áreas-piloto
de reflorestamento de matas ciliares.
Também mereceram
menção experiências marcantes
com sistemas agroflorestais do empresário
Édemo Côrrea, de Canarana, dos
assentados Ricardo Dias Batista, de Água
Boa, e Armando Menin, de Querência,
que também sediaram em seus lotes oficinas
temáticas da formação.
No assentamento Serrinha, em Água Boa,
as professoras Rosenilde Paniago e Elama Gomes
usaram uma horta e um viveiro para mobilizar
a escola local e tratar de temas como agroecologia,
alimentação saudável,
desmatamento e organização comunitária.
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Campanha ‘Y Ikatu Xingu
e jovens Ikpeng realizam oficina
26/11/2007 - Evento apresentou
os objetivos e as principais iniciativas da
mobilização. Também discutiu
as práticas de agricultura e conservação
dos próprios indígenas e promoveu
exercícios práticos na roça
e nos quintais da aldeia com técnicas
agroflorestais que vêm sendo usadas
em projetos na região. Comunidade Ikpeng
já vem realizando ações
para preservar os recursos naturais do Parque
Indígena do Xingu e também quer
ajudar a proteger as nascentes e matas ciliares.
A campanha ‘Y Ikatu Xingu
e o Movimento Jovem Ikpeng (MJI) promoveram,
entre 5 e 10 de novembro, uma oficina temática
na aldeia Moygu, do povo Ikpeng, no Parque
Indígena do Xingu (PIX). A idéia
de realizar o evento nasceu da preocupação
da comunidade, sobretudo dos jovens, com a
preservação de sua cultura e
de seu território. E também
da sua necessidade de informar-se sobre problemas
que, segundo eles, “agridem o meio ambiente”
– como o assoreamento dos rios, a retirada
ilegal de madeira, desmatamentos e queimadas
– e sobre como isso afeta seu modo de vida.
Algumas atividades do evento
chegaram a contar com a presença de
até 50 pessoas, entre jovens, alunos
da escola local, lideranças e velhos,
que não deixaram de participar e de
dar suas opiniões mesmo enquanto realizavam
tarefas tradicionais, como a confecção
de utensílios e artesanato. Essa atividades
ocorreram em vários lugares diferentes:
na Mungye, casa do centro da aldeia, onde
acontecem as reuniões e são
tomadas as decisões; na casa grande
do cacique Mayaum, na escola, na roça,
no caminho da aldeia e nos quintais das casas.
No encontro, foram abordados
o histórico, a importância para
as comunidades indígenas e as principais
iniciativas da campanha, como ações
de reflorestamento de nascentes e matas ciliares,
a implantação de sistemas agroflorestais
(SAFs) e a formação de agentes
socioambientais. Foram apresentadas ainda
informações sobre a participação
dos vários segmentos envolvidos, como
os povos Kisêdjê e Yudja (também
moradores do Parque), assentados, agricultores
familiares, produtores rurais, prefeituras
e escolas da região das cabeceiras
do Xingu.
A oficina abriu espaço
para as próprias práticas agrícolas
e conservacionistas dos indígenas e
discutiu os principais impactos do desmatamento
e das queimadas dentro e fora do PIX. Ocorreram
explanações teóricas
e exercícios práticos de técnicas
agroflorestais que vêm sendo usadas
nos projetos da campanha. Os participantes
coletaram sementes, tiveram informações
sobre novas formas de manuseá-las e
plantá-las, implantaram SAFs com espécies
nativas e frutíferas, em pequenas áreas
experimentais em suas roças e quintais.
Aprenderam, por exemplo, como fazer a “muvuca”,
uma mistura de sementes que é colocada
em uma mesma cova, e tiveram demonstrações
de como evitar a erosão. Durante a
oficina, também ocorreu uma feira de
troca de sementes.
Já há alguns
anos, a Escola Indígena Ikpeng, em
especial por meio de seus professores Korotowï,
Maiua e Iokore, discute as mudanças
no meio ambiente e o que isso pode significar
para a sobrevivência futura dos povos
indígenas.
Participação
na campanha
“Queremos discutir e nos
informar sobre as causas [dos impactos ambientais]
para poder agir. Não queremos ficar
parados, pelo menos podemos contribuir para
melhorar, sabemos que podemos não acabar
com os problemas, mas não queremos
ficar parados”, afirmou Txonto Ikpeng, uma
das lideranças do MJI, que conduziu
a discussão sobre formas de participação
da comunidade na campanha ‘Y Ikatu Xingu.
Os jovens Ikpeng têm atuado de forma
vigorosa e entusiasta na defesa dos direitos
de seu povo.
O MJI apresentou algumas
propostas para contribuir com a mobilização,
como, por exemplo, a realização
de oficinas para formação de
agentes agroflorestais, com o envolvimento
da escola em plantios - como forma de recuperar
as áreas degradadas ao redor da aldeia
e dar seqüência ao que foi iniciado
na oficina. Também surgiu a idéia
de firmar uma parceria com a Associação
Indígena Moygu Comunidade Ikpeng (AIMCI),
que representa formalmente o povo Ikpeng,
para a venda de sementes destinadas ao reflorestamento
fora do PIX. Foi considerada importante ainda
a realização de um encontro
com outros jovens xinguanos para tratar dos
temas território e cultura.
“Eu apóio a campanha
‘Y Ikatu Xingu porque sem a floresta eu não
vivo e conto com a ajuda de parceiros como
o ISA que tem a mesma preocupação”,
disse o cacique Mayaum. “É importante
que estejam fazendo esse trabalho, porque,
senão, como vai ficar a situação
da caça, da pesca, se alguém
não cuidar, como nossos netos vão
comer, vão viver? Como vai ser o futuro
para eles?”, questionou. Mayaum alertou ainda
que a floresta abriga espíritos que
devem ser respeitados e que o ciclo de vida
da mata também precisa da ajuda dos
índios para continuar.
“Os jovens já se
mobilizam no sentido dessa preocupação
que vocês têm e nós temos
também”, comentou o cacique. Ele contou
ainda que os Ikpeng já trabalham há
alguns anos, mesmo antes do surgimento campanha,
para a preservação de seu território
e de seus recursos naturais. Eles têm
participado da fiscalização
das fronteiras do PIX e realizaram expedições
até suas terras ancestrais. Mayaum
lembrou que os jovens Ikpeng organizaram-se
para visitar órgãos federais
em Brasília e protestar contra a construção
de barragens nas cabeceiras do Xingu, o que,
de acordo com eles, vai prejudicar a pesca
e inundar sítios históricos
importantes.
A oficina foi planejada
com apoio dos professores indígenas
Ikpeng e desenvolvida pelos assessores do
ISA Osvaldo Sousa, Eduardo Malta, Rosely Sanches,
Marcus Tope Schmidt e Rosana Gasparini.
ISA, Rosana Gasparini e Rosely Sanches.