27 Nov 2007 - Após
três anos sucessivos de reduções
nos índices de desmatamento na Amazônia
Legal brasileira, a tendência começa
a se reverter. Dados do governo federal mostram
que o desmatamento na Amazônia cresceu
8% entre junho e setembro deste ano, em comparação
com o mesmo período de 2006.
Denise Hamú, secretária-geral
do WWF-Brasil, afirma que a situação
é preocupante e lembra que em 2007
não foi criada nenhuma unidade de conservação
federal na Amazônia. “Reconhecemos a
importância e os resultados positivos
das ações de prevenção
e fiscalização empreendidas
pelo governo. Porém, já vínhamos
avisando que isso não basta. Agora,
dados comprovam que é preciso ir além
do que vem sendo feito”, avalia.
Para Denise Hamú,
é necessário adotar uma estratégia
mais ampla de conservação. “Defendemos
a imediata definição de metas
claras de redução no desmatamento,
além de mecanismos econômicos
e tributários que incentivem a conservação
e o uso sustentável dos recursos naturais
e desestimulem as práticas predatórias”,
afirmou.
Em relação
às queimadas, um dos principais instrumentos
do desmatamento na Amazônia, dados do
INPE indicam uma sensível intensificação.
De janeiro a outubro do ano passado foram
registrados 20.246 focos de incêndio
na Amazônia Legal. No mesmo período
de 2007, o número saltou para 45.907
focos, um aumento de mais de 125%.
O crescimento econômico
mundial, a perspectiva da implantação
de uma série de projetos de infra-estrutura
na Amazônia, bem como a elevação
nos preços das commodities agrícolas
são apontados como fatores que contribuem
para o aumento do desmatamento na região.
De acordo com o indicador
de preços CEPEA/ESALQ, a saca de 60
quilos da soja custava R$ 29 em outubro de
2005. Subiu para R$ 38 no mesmo mês
de 2006 e chegou a R$ 40 em outubro deste
ano, um aumento de 44% em dois anos. Em relação
ao gado, a elevação do preço
no período foi de 16%. Em outubro de
2005 a arroba do boi custava R$ 55, segundo
o indicador CEPEA/ESALQ. No mesmo mês,
em 2006, custava R$ 61. Em outubro deste ano,
foi cotada em R$ 64.
De acordo com Luís
Laranja, coordenador do Programa de Agricultura
e Meio Ambiente do WWF-Brasil, o aumento dos
preços da soja e da carne bovina no
mercado internacional contribui para o recente
repique na taxa de desflorestamento.
“Bastou ter um realinhamento
de preços das commodities agrícolas
no mercado que as tendências em relação
ao desmatamento se reverteram, o que demonstra
claramente que a situação não
estava sob controle”, avalia Luís Laranja.
Ele lembra que, no caso
da Amazônia, a pecuária bovina
é o principal vetor de desmatamento.
Luís Laranja acrescenta que, segundo
estimativas, as áreas de pastagens
ocupariam cerca de 50 milhões de hectares
na região, contra cerca de 1,5 milhão
de hectares ocupados pela soja.
Mas segundo ele, novas áreas
de soja também podem contribuir para
o desmatamento, apesar de terem menor presença
na Amazônia. “Quando a soja se expande
no Cerrado, pode deslocar o gado para regiões
amazônicas”, relata.
Outra limitação
observada na atual estratégia do governo
para prevenção e combate ao
desmatamento é a ineficiência
do Poder Público em punir aqueles que
desrespeitam a legislação ambiental.
Segundo artigo do pesquisador Paulo Barreto,
do Instituto do Homem e do Meio Ambiente da
Amazônia (Imazon), números do
Ibama dão conta de que apenas 2% do
valor das multas para autores de crimes ambientais
cadastradas entre 2001 e 2004 foram recolhidos.
O Governo Federal deve divulgar
em breve a estimativa de desmatamento para
o período entre agosto de 2006 e julho
de 2007, com base em imagens de satélite
de uma área que responde por cerca
de 80% do desflorestamento na Amazônia
observado entre agosto de 2005 e julho de
2006. O número consolidado, a ser divulgado
provavelmente em meados de 2008, compreenderá
211 imagens de satélite que cobrem
toda a Amazônia Legal brasileira, monitoradas
pelo sistema PRODES.