03/12/2007 - Estudo divulgado
pelo Instituto Sociedade, População
e Natureza (ISPN) aponta a tendência
do avanço das lavouras de cana-de-açúcar,
para produção de etanol, no
segundo bioma mais ameaçado do país.
Nas últimas décadas,
o Cerrado já perdeu a metade de sua
cobertura vegetal, principalmente por conta
do desmatamento resultado da prática
de agricultura e pecuária, inclusive,
sobre áreas prioritárias para
a conservação e uso sustentável
do Cerrado, corredor de biodiversidade que
deveria estar sob proteção.
A estimativa é de que o desmate nessas
áreas, que agora estão sendo
tomadas pela cultura da cana, gire em torno
de 1,1% ao ano, o equivalente à destruição
de cerca de 22 mil km² por ano.
A conclusão do levantamento
do Instituto Sociedade, População
e Natureza (ISPN), financiado com recursos
da Comunidade Européia, é de
que pode haver comprometimento dos recursos
naturais, das populações rurais
- que sobrevivem do uso da biodiversidade
do Cerrado - e da segurança alimentar
na região.
O Cerrado abrange cerca
de dois milhões de quilômetros
quadrados e faz conexão com a Amazônia,
a Mata Atlântica, o Pantanal e a Caatinga.
Sua área central está nos estados
de Goiás, Distrito Federal, Tocantins,
Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do
Sul, sul do Maranhão, oeste da Bahia
e parte do Estado de São Paulo. Abrange
ainda uma pequena porção no
Paraná e enclaves localizados em Roraima,
no Amapá e extremo norte do Pará.
Usinas projetadas para o
Cerrado indicam expansão da cana
O estudo realizado pelo
ISPN também apresenta a tendência
regional de expansão da monocultura
da cana e revela que, enquanto a indústria
canavieira já definiu a ampliação
de área plantada e a construção
de novas usinas – inclusive em regiões
onde ainda não há lavouras de
cana –, o governo não apresenta um
plano para evitar o desmatamento descontrolado
no cerrado.
A produção
canavieira se concentra onde deveriam ser
preservadas importantes amostras do bioma,
por isso, o levantamento questiona a capacidade
do governo para enfrentar, monitorar e controlar
o desmatamento no Cerrado, já que,
ao contrário da Amazônia, não
há um sistema de vigilância permanente
e muito menos uma política pública
que alie o crescimento econômico com
a preservação de áreas
importantes para a manutenção
dos serviços ambientais.
Impactos sociais
Os impactos sociais do avanço
descontrolado da indústria da cana
no Cerrado também devem trazer conseqüências
na produção de alimentos na
região, que pode diminuir, além
de agravar a migração para as
periferias urbanas, se os pequenos produtores
de alimentos deixarem suas plantações
atraídos pelos empregos temporários
no corte da cana.
A proposta seria a de preservar
as áreas de interesse ambiental global
e incluir as populações que
vivem no Cerrado no processo de desenvolvimento
sustentável da região, sem excluir
uma alternativa econômica importante
para o país como o etanol.
“O governo precisa se antecipar
e direcionar a expansão da cana-de-açúcar
para áreas já alteradas se quiser
evitar perdas inestimáveis para a biodiversidade
do Cerrado e impacto indesejáveis sobre
os recursos hídricos e o clima”, alerta
o professor Donald Sawyer, do Centro de Desenvolvimento
Sustentável da Universidade de Brasília.
Mapas
Com base nos novos mapas
- elaborados a partir de dados do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) e do Ministério do Meio Ambiente
(MMA) -, contabiliza-se para o Estado de São
Paulo 27 novas usinas. Goiás, que já
tem 17 usinas instaladas, deverá saltar
para um total de 40 com as novas unidades
previstas. Minas Gerais tem 31 usinas instaladas
e deverá ganhar mais 14. Em Mato Grosso
do Sul, há 10 usinas instaladas e 15
em construção.
Clique aqui e veja nas páginas
finais do estudo do ISPN os mapas que mostram
a nova geografia do etanol no Cerrado e os
riscos para a biodiversidade, a água
e o clima na região.