4 de Dezembro de 2007 -
Paloma Santos e Isadora Grespan - Da Agência
Brasil - Brasília - Para o coordenador
do movimento Articulação Popular
pela Revitalização do
Rio São Francisco, Ruben Siqueira,
o projeto do governo federal, de transpor
as águas do rio, atenderá somente
a interesses econômicos que requerem
infra-estrutura hídrica para uso intensivo
de água, como a fruticultura integrada,
a criação de camarão
e a siderurgia.
“Por trás do projeto
está a intenção de estabelecer
no Nordeste, e daí para todo o Brasil,
o pagamento da água bruta. Porque a
água que chega lá é cara,
e para a produção econômica
com essa água precisa haver um subsídio
que não será público,
mas pago pela população nas
contas domésticas".
Segundo ele, a transposição
não tem a ver com a seca e nem com
a sede: trata-se de um projeto econômico
e não social.
"A água não
vai ser subsidiada para a população
sedenta, que enfrenta as dificuldades da seca.
Os canais vão passar muito longe dos
sertões mais secos e das populações
difusas. A água vai se concentrar em
direção aos grandes açudes
e das áreas de potencial econômico.
Então, não é um projeto
social, não tem o objetivo de minimizar
os efeitos da seca, esses continuarão”.
O ministro da Integração
Nacional, Geddel Vieira Lima, cuja pasta é
responsável pela condução
das obras, rebate as declarações
e afirma que o projeto vai atender "prioritariamente"
ao abastecimento de água para humanos
e animais.
"Respeito a posição
daqueles que eventualmente, até por
falta de conhecimento, discordam do projeto,
que é ambientalmente sustentável,
economicamente justo e socialmente importante",
disse.
"Ao contrário
de alguns, eu não tenho preconceito
nenhum de que o excedente de água possa
ser utilizado na produção. Até
porque, as pessoas do Nordeste precisam de
água, de emprego, de produção
para ter renda e de dignidade para criar suas
famílias".
+ Mais
Em debate sobre futuro da
água no semi-árido, especialistas
divergem sobre transposição
do São Francisco
5 de Dezembro de 2007 -
Marcia Wonghon - Repórter da Agência
Brasil - Recife - Alternativas para ampliar
a oferta de água no semi-árido
nordestino, tanto destinada ao consumo humano
e animal quanto à geração
de energia elétrica, foram debatidas
hoje (4) durante seminário que reuniu,
em Recife, engenheiros, empresários,
pesquisadores, estudantes universitários
e representantes de empresas públicas
e privadas.
Segundo o economista Josué
Mussalém, água e energia são
temas estratégicos que interferem no
desenvolvimento de todos os países
do mundo. Ele disse que a idéia do
evento, promovido pela Fundação
Gilberto Freyre em parceria com o governo
do estado, foi fazer projeções
sobre a oferta de água em uma região
marcada pela escassez de chuvas.
O engenheiro João
Suassuna, pesquisador da Fundação
Joaquim Nabuco, apresentou durante o encontro
uma visão contrária ao projeto,
do governo federal, de integração
do Rio São Francisco com as Bacias
Hidrográficas do Nordeste Setentrional.
Ele justificou que o Nordeste possui água
acumulada em mais de 70 mil represas, acrescentando
que falta viabilizar uma política de
distribuição desse insumo para
a população que habita o semi-árido.
“O estado do Ceará,
por exemplo, tem a represa do Castanhão
com mais de 6 bilhões de metros cúbicos
de água, mas a população
que vive no entorno passa sede. Entendemos
que o problema do abastecimento hídrico
deve ser resolvido por meio do uso de adutoras
e não com a construção
de canais que não irão solucionar
a falta de água para as populações
abastecidas com frotas de carros pipa. As
águas da transposição
vão favorecer o agronegócio,
a criação de camarão,
irrigação de frutas e indústrias”,
declarou.
Já o economista da
Companhia Hidro Elétrica do São
Francisco (Chesf), Huseyin Miranda, disse
que o projeto de transposição
do Rio São Francisco vai reduzir a
insegurança hídrica para uma
população de 12 milhões
habitantes do semi-árido junto com
outras soluções.
“O complemento será
feito com cisternas, açudes, barragens
e operação adequada dos atuais
reservatórios", disse Miranda
que ainda assegurou que o rio não sofrerá
prejuízo com a transposição
das águas.
“O São Francisco
foi beneficiado com a revitalização
que receberá, até 2010, recursos
de R$ 1,3 bilhão do Programa de Aceleração
do Crescimento (PAC) para projetos de saneamento
de esgotos, contenção das margens,
reflorestamento, entre outros”.
Outros três eventos
com o mesmo tema deverão ser realizados,
no próximo ano: um em Fortaleza, outro
em Natal e o último em Salvador.
+ Mais
Caminhada contra transposição
do São Francisco agora tem mais sentido
político, diz coordenador
4 de Dezembro de 2007 -
Paloma Santos e Isadora Grespan - Da Agência
Brasil - Brasília - O coordenador do
movimento Articulação Popular
pela Revitalização do Rio São
Francisco, Ruben Siqueira, avalia que a partir
de agora a Caminhada em Defesa do Rio São
Francisco e do Povo do Nordeste sai do âmbito
religioso para adquirir mais sentido político,
tendo em vista a maior participação
da sociedade civil.
A caminhada está
prevista para ocorrer hoje (4), na cidade
baiana de Sobradinho. A concentração
estava marcada para às 16 horas, em
frente à Capela São Francisco,
onde frei Luiz Cappio se encontra.
“Várias caravanas
de municípios mais próximos
estão chegando. Nossa previsão
é que cerca de 3 mil pessoas participem”.
No dia 27 de novembro, frei
Cappio começou uma nova greve de fome,
em protesto contra o projeto do governo federal
de transpor as águas do Rio São
Francisco.
"Pela primeira vez
em oito dia de jejum, frei Cappio vai se deslocar
da capela. Ele vai de carroça até
a beira do rio, onde o ato será encerrado
com uma missa", conta Siqueira.
A condição
proposta por frei Cappio para suspender a
greve de fome é o arquivamento definitivo
do projeto. Para o ministro da Integração
Nacional, Geddel Vieira Lima, cuja pasta é
responsável pela condução
das obras, essa hipótese é inaceitável.
"O governo não
pode aceitar isso. Até porque nenhuma
democracia pode se curvar à vontade
de um homem apenas".
O ministro disse lamentar,
"como cristão e católico",
que frei Cappio "enverede" por esse
caminho. "A meu ver, o caminho da falta
de bom senso. Só tenho a lamentar e
pedir a Deus que devolva o bom senso a dom
Cappio".
Geddel reiterou que o governo
vai levar adiante a transposição,
mas continua aberto para receber "tantos
quantos queiram trazer suas idéias
para melhorar o projeto".