Panorama
 
 
 

AMBIENTALISTAS ENTRAM NA JUSTIÇA CONTRA LEILÃO DO MADEIRA

Panorama Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Dezembro de 2007

10/12/2007 - A ação civil pública impetrada pela Amigos da Terra Brasil e International Rivers Network para suspender do leilão da Usina Hidrelétrica de Santo Antônio, no Rio Madeira, fundamenta-se na análise de que o parecer do Ibama, que justificou a concessão da Licença Prévia, está incompleto. A ação também se fundamenta em dados oficiais que comprovam que o desmatamento cresceu na área de influência da obra a partir do momento em que a licença foi concedida. As organizações lançaram campanha virtual para que a sociedade civil possa enviar seu protesto às autoridades. Confira.

A Organização Amigos da Terra - Amazônia Brasileira ajuizou esta semana uma Ação Civil Pública (ACP) na Justiça Federal para suspender o leilão para a concessão e venda de energia da hidrelétrica de Santo Antônio, primeiro empreendimento previsto no Complexo Hidrelétrico-Hidroviário do Rio Madeira. O contrato oferecido ao setor privado terá valor aproximado de 6 bilhões de dólares. O leilão estava marcado para hoje, dia 10 de dezembro.

O Ministério Público Federal (MPF)já tenta impedir a realização do leilão, alegando a importância da linha de transmissão de energia no processo de licenciamento, que foi excluída como se não trouxesse impactos à área onde está prevista a construção da hidrelétrica. A ação do MPF questiona a condução do licenciamento e pede a anulação de qualquer licença emitida nessas bases.

A licença do Ibama

No caso da ação da Amigos da Terra, o foco é o parecer do Ibama, publicado em novembro, que justificou a concessão da Licença Prévia bem antes, em julho deste ano, mesmo depois do parecer técnico contrário emitido pelo próprio instituto, realizado em março de 2007. (Veja o parecer no final do texto). O parecer recomendava a não concessão da licença, em função de falhas nos Estudos e Relatórios de Impacto Ambiental (EIA/Rima) realizados pelo consórcio Furnas/Odebrecht. Entre 30 problemas apontados no estudo sobre o complexo de hidrelétricas do rio Madeira estavam: diagnóstico genérico, avaliação superficial dos impactos sobre o território, omissão sobre prejuízos para a região e alagamento em território boliviano, uso de modelos monodimensionais para analisar processos tridimensionais, ameaça de extinção de peixes, cálculos inconsistentes e estimativas imprecisas. (Leia aqui o documento na íntegra). Antes desse estudo, outros levantamentos independentes, encomendados pelo Ministério Público de Rondônia a mais de vinte especialistas já haviam identificado falhas semelhantes.

Com a substituição da diretoria do Ibama, porém, o parecer técnico foi ignorado. A licença saiu semanas após estudos parciais encomendados a consultores externos, principalmente do Ministério de Minas e Energia. O laudo, assinado pelo atual diretor de licenciamento, Messias Franco, comprova que os problemas apontados em março pelos técnicos do Ibama não foram objeto de novos estudos. De acordo com os ambientalistas, a autarquia foi responsável por um “ato viciado de ilegalidade e improbidade administrativa”.

Para o advogado Raul do Valle, coordenador do Programa de Política e Direito Socioambiental (PPDS) do ISA, “a concessão da licença para tais hidrelétricas, mesmo com todas essas incertezas envolvidas, afrontou gravemente o princípio da precaução. Em um caso como este, a realização de mais estudos, em um prazo razoável, é imprescindível”.

A ação também revela que houve aumento do desmate, após a concessão da Licença Prévia, na área de influência do empreendimento, principalmente nos municípios que não fizeram parte das análises ambientais, já que os estudos limitaram-se a Porto Velho. Dados oficiais do sistema Deter do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) apontam aumento de mais de 600% no desmatamento na Bacia do Rio Madeira em Rondônia, entre julho e setembro.

Reação da sociedade

Na última terça-feira, cerca de 250 lideranças indígenas da Amazônia protocolaram na Presidência da República um pedido de suspensão do leilão da UHE Santo Antônio. Os índios alegam que não foram ouvidos no processo de licenciamento, apesar dos estudos reconhecerem impactos indiretos em vários territórios indígenas, inclusive de povos que vivem em isolamento.

Além disso, o Movimento dos Atingidos por Barragens em Porto Velho prevê a organização de protestos no dia do leilão.

Para que a sociedade civil possa se manifestar, as entidades Núcleo Amigos da Terra Brasil e International Rivers Network lançaram uma Campanha Virtual. Por meio dela é possível enviar um email ao Presidente Lula para impedir o barramento do rio Madeira. Participe clicando aqui.

Parecer dos técnicos do Ibama, março de 2007

"Dado o elevado grau de incerteza envolvido no processo; a identificação de áreas afetadas não contempladas no Estudo; o não dimensionamento de vários impactos com ausência de medidas mitigadoras e de controle ambiental necessárias à garantia do bem-estar das populações e uso sustentável dos recursos naturais; e a necessária observância do Princípio da Precaução, a equipe técnica concluiu não ser possível atestar a viabilidade ambiental dos aproveitamentos Hidrelétricos Santo Antônio e Jirau, sendo imperiosa a realização de novo Estudo de Impacto Ambiental, mais abrangente, tanto em território nacional como em territórios transfonteiriços, incluindo a realização de novas audiências públicas. Portanto, recomenda-se a não emissão da Licença Prévia."
ISA, Katiuscia Nóra-Sotomayor.

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Invasões de madeireiros peruanos avançam sobre áreas protegidas e provocam conflitos

10/12/2007 - Em carta divulgada na semana passada, organizações indígenas e indigenistas do Brasil e Peru alertam para o deslocamento forçado de índios isolados em função da invasão de seus territórios e denunciam que estes grupos ainda correm sérios riscos pela pressão causada pelas concessões florestais promovidas pelo governo peruano e pelos projetos de abertura de rodovias. Leia carta abaixo.

Las organizaciones indígenas e indigenistas, brasileñas y peruanas, que suscribimos el presente pronunciamiento, expresamos nuestra preocupación por la falta de atención a las denuncias que, durante más de una década, hemos efectuado ante la invasión de nuestros territorios, de las las Reservas Territoriales Isconahua, Murunahua, Mashco Piro, Madre de Dios, del lado peruano, así como en áreas del Parque Nacional Sierra del Divisor y de la Tierra Indígena Kampa del Río Amonya, en el lado brasileño, por madereros peruanos. Esta situación viene provocando desplazamientos y migraciones forzadas de poblaciones indígenas en aislamiento hacia territorio de Brasil, generando enfrentamientos con poblaciones Asháninka, Manchineri, Kashinahua, Culina y Yaminahua, en el Estado de Acre.

Frente a estos hechos denunciamos:

a) La política peruana de concesiones forestales que vienen presionando a muchos pueblos aislados de las zonas de Callería, Masisea, Yurúa y Purús, en la región Ucayali,

b) La existencia de proyectos de construcción y apertura de carreteras: Puerto Esperanza – Iñapari y Masaray – Cruzeiro del Sur, que atravesarán zonas habitadas por pueblos indígenas en aislamiento en Purús – Madre de Dios y Callería, Ucayali, respectivamente.

Estas acciones responden al desmedido interés de personas y empresas madereras de enriquecerse a través de la explotación de recursos forestales de alto valor, con la anuencia de las autoridades peruanas, sin tomar en cuenta las consecuencias de sus acciones sobre los pueblos indígenas aislados de lado peruano y las poblaciones indígenas establecidas en la frontera brasileña.

Por tanto, exigimos:

Frenar inmediatamente las invasiones de madereros en territorios indígenas para evitar que los enfrentamientos se agraven y causen más muertes.
Sancionar a las empresas que resulten responsables de esta situación, rescindiéndoles los contratos los contratos forestales otorgados.
Cancelar los proyectos de construcción de carreteras y cualquier otro tipo de proyecto que afecte la integridad de los territorios indígenas, parques nacionales y, sobre todo, de los territorios habitados por pueblos indígenas aislados.
Implementar políticas y mecanismos efectivos de protección de los pueblos indígenas aislados de la frontera Perú-Brasil.
Rio Branco, 02 de diciembre de 2007.

Moisés Piyãko Presidente Asociación Asháninka del Río Amonya, APIWTXA

José de Lima Kaxinawá Coordinador Asociación del Movimiento de los Agentes Agroforestales Indígenas de Acre, AMMAIAC Josimar Pinheiro Sales Kaxinawá Secretario Asociación de Shiringueros Kashinahua del Río Jordán, ASKARJ

Joaquim Maná Kashinawá Coordinador Organización de los Profesores Indígenas de Acre, OPIAC

Francisco Edmilson Ferreira Kaxinawá Consejero Asociación de Productores y Criadores Kashinahua de la Playa de Carapaná, ASKAP

Jorge Domingos Kaxinawá Presidente Asociación de Productores Kashinahua de la Aldea Nueva Frontera, APKANF

Edwin Chota Valera Presidente Asociación de Comunidades Nativas Asheninkas-Asháninkas de Masisea y Callería, ACONAMAC
Jaime Corisepa Secretario Federación Nativa del Río Madre de Dios y Afluentes, FENAMAD
Delegado Comité Indígena Internacional para la Protección de los Pueblos en Aislamiento y en Contacto Inicial de la Amazonía, el Gran Chaco y la Región Oriental de Paraguay, CIPLACI
Flaviano Medeiros Representante Asociación Kashinahua del Río Breu, ASKARIB
Edilson Rosa da Silva Katukina Representante Asociación Katukina de Campinas, AKAC
Antônio Ferreira Kaxinawá Presidente Asociación Cultura Indígena Humaitá, ACIH
Nilson Sabóia Kaxinawá Presidente Asociación del Pueblos Indígenas del Río Humaitá, ASPIRH
Gilberto Azanha Coordinador Centro del Trabajo Indigenista, CTI
Vera Olinda Sena de Paiva Coordinadora Comissión Pró-Indígena de Acre, CPI/AC
ISA.

 
 

Fonte: ISA – Instituto Socioambiental (www.isa.org.br)
Assessoria de imprensa

 
 
 
 

 

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