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BRASIL LANÇA FUNDO VOLUNTÁRIO PARA COMPENSAR A REDUÇÃO DO DESMATAMENTO

Panorama Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Dezembro de 2007

13/12/2007 - O anúncio foi feito nesta quarta-feria (12/12), durante a COP-13, em Bali. Os recursos poderão vir do setor privado, da cooperação internacional, de doadores voluntários e de empresas estatais. Povos da floresta reivindicaram maior participação na gestão do fundo e mecanismos de mercado para a compensação.

O Ministério das Relações Exteriores e o do Meio Ambiente do Brasil anunciaram nesta quarta-feira (12/12), em Bali, durante a 13ª Conferência da ONU para Mudanças Climáticas, a criação de um fundo voluntário destinado a compensar a redução do desmatamento na Amazônia brasileira. O fundo foi apresentado no evento "Reduzindo o desmatamento no Brasil: esforços nacionais para diminuir as emissões e a cooperação internacional" e operará sem recursos da União, sendo financiado por contribuições voluntárias do setor privado, cooperação internacional e empresas estatais, que em troca receberão um diploma por sua contribuição.

A idéia é que para cada cinco dólares doados ao fundo, uma tonelada de carbono deixe de ser emitida. O fundo começará a funcionar em 2008, mas se o exemplo a ser tomado for a redução do desmatamento registrado em 2006 no Brasil, onde 180 milhões de toneladas de carbono deixaram de ser emitidas, a redução observada corresponderia a um aporte de 900 milhões de dólares para o fundo.

Segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA), os recursos arrecadados pelo fundo serão empregados na implementação do Plano de Combate ao Desmatamento, em ações voltadas para o ordenamento fundiário e territorial; monitoramento e controle; fomento a atividades produtivas sustentáveis; aquisição de equipamentos (satélites) e infra-estrutura para melhorar a capacidade de monitoramento do desmatamento; e para pagar pelos serviços ambientais daqueles que deixaram de desmatar. De acordo com o MMA, o fundo será um canal pelo qual a cooperação internacional poderá financiar ações voltadas a reduzir as emissões de gases de efeito estufa oriundos do desmatamento no Brasil.

Mas, na avaliação do coordenador do ISA, Márcio Santilli, o lançamento do fundo indica que o problema do governo brasileiro não é evitar o mercado de carbono, mas evitar assumir compromissos formais de redução do desmatamento no plano internacional.

Durante o evento, a ministra Marina Silva ressaltou o papel pró-ativo do Brasil na redução das emissões, e lembrou os 500 milhões de toneladas de carbono que deixaram de ser emitidos pela redução do desmatamento e pelo emprego do etanol como combustível, que em 30 anos de uso no Brasil evitou a emissão de pouco mais de meio bilhão de toneladas de carbono.

De acordo com o diretor do Serviço Florestal Brasileiro, Tasso Azevedo, a partir de 2011 o fundo passará a financiar atividades nos demais biomas brasileiros, para os quais ainda não existe um sistema eficaz de monitoramento do desmatamento. Tasso crê que o Brasil deverá assumir metas internas quando as taxas de desmatamento estiverem na casa dos 5 mil quilômetros quadrados por ano.

"Metas não assustam"

O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, destacou o papel da pobreza como estímulo ao desmatamento no Brasil, criticou os países que empregam o argumento da soberania como desculpa para desmatar as florestas. Para Amorim, é chegada a hora de substituir a ganância, amplamente defendida por economistas do século XIX como motor do desenvolvimento, pela solidariedade e cooperação. Nesse sentido, Amorim ressaltou o papel fundamental da cooperação sul-sul, particularmente com a China, como elemento fundamental para a estruturação do sistema de monitoramento do desmatamento do Brasil (tido como um dos mais avançados no mundo). Amorim afirmou que a tecnologia desenvolvida pelo Brasil no monitoramento do desmatamento está disponível gratuitamente a todos os países em desenvolvimento que o desejarem.

Amorim ressaltou que no âmbito das negociações internacionais, a diferença entre os termos metas, objetivos e compromissos de redução de emissões são meras questões semânticas e afirmou que “as metas não assustam e não são um problema para o Brasil”.

Amorim destacou a importância dos mecanismos de desenvolvimento limpo do Protocolo de Kyoto, particularmente os mecanismos de mercado que geram empregos e resultados reais. No entanto, Amorim chamou a atenção para o problema de se dar muita ênfase a estes mecanismos, o que pode gerar um perigoso dilema. Nesse sentido, o chanceler afirmou que a inclusão do desmatamento evitado no mercado de carbono poderá inviabilizar o funcionamento do mecanismo, uma vez que o volume de créditos será tão grande que o valor real do crédito chegará a zero e todos os MDLs serão “monopolizados pela Amazônia”. O ministro destacou a importância e a urgência do tema, mas alertou que a pressa pode comprometer as iniciativas já em curso.

Por fim, ele estimulou a sociedade civil a pressionar os países reunidos em Bali, dizendo que “quando a causa é válida, os negociadores devem ter o apoio da opinião pública, por isso, pressionem”.

O ministro do Meio Ambiente da Noruega, Erick Solheim, destacou a liderança brasileira no tema da redução do desmatamento e seu protagonismo nas negociações em Bali. Solheim reconheceu o esforço brasileiro em reduzir o desmatamento na Amazônia brasileira, dizendo que o exemplo do Brasil deveria ser seguido por outros países reunidos em Bali e afirmou que “vontade política é um recurso renovável e Bali é o lugar para renová-lo”.

Povos indígenas querem participar

Durante o lançamento do fundo, o coordenador do departamento etno-ambiental da Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira), Almir Narayamoga Suruí, reivindicou maior participação dos povos indígenas na gestão do fundo, mostrou-se preocupado com a possibilidade desta iniciativa se tornar “mais um plano, mais um fundo que não é efetivo, que não inclui os povos da floresta e que não resolve os problemas de quem vive diretamente dela”. Sobre esse tema, Suruí leu um manifesto que destaca a escalada da violência perpetrada sobre os povos indígenas que resistem ao avanço do desmatamento. Ele mesmo teve que sair de sua aldeia por conta de várias ameaças de morte que recebeu por se opor à exploração ilegal de madeira. Suruí citou o exemplo dos povos Cinta-Larga e Uru eu Wau Wau de Rondônia, que vêm sendo ameaçados e cujos territórios estão sendo constantemente invadidos por madeireiros e garimpeiros que exploram ilegalmente seus recursos.

Citando dados do Ibama, o coordenador da Coiab relatou o aumento de mais de 250 quilômetros quadrados de desmatamento no Estado de Rondônia, que de 42 quilômetros quadrados em setembro de 2006, passou para 295 em setembro de 2007, representando um aumento de mais de 600% em um ano.

Em seu manifesto, Suruí demandou políticas de desenvolvimento para os povos indígenas – que os incluam na formulação e execução -, políticas de proteção legal e ambiental para os povos e seus territórios e políticas que gerem renda. Nesse sentido, Suruí reivindicou a inclusão do desmatamento evitado no mecanismo de desenvolvimento limpo (MDL), particularmente no Mercado de Carbono, que para ele responderia a estas demandas, pois possibilitaria proteger as florestas e ao mesmo tempo recompensar os povos que fazem o uso sustentável de seus recursos.

O presidente do Conselho Nacional de Seringueiros, Manuel Silva da Cunha, destacou os benefícios da proposta do fundo para compensar a redução do desmatamento e os avanços da política brasileira nesse tema, no entanto, questionou quais seriam os reais benefícios para os povos que já preservam as florestas, justamente aqueles que historicamente têm servido como barreira para o avanço do desmatamento, uma vez que a compensação seria destinada aos que deixarem de desmatar. Cunha destacou a importância de um fundo para reduzir o desmatamento, porém acredita que “a compensação pelo desmatamento evitado deveria ser tratado no âmbito do mercado de carbono”.

Em resposta às manifestações dos povos da floresta, Marina Silva destacou a criação do PAC Indígena que deverá tratar do desenvolvimento das comunidades. A ministra afirmou que o Plano de Combate ao Desmatamento prevê o pagamento pelos serviços ambientais prestados pelos povos da floresta. "Vamos fazer ações com os povos da floresta e não para os povos da floresta".

O evento foi encerrado com a assinatura de um termo pela ministra Marina Silva e o governador do Mato Grosso, Blairo Maggi, onde ambos se comprometem a desenvolver um Plano Estadual de Combate ao Desmatamento e às Queimadas, que contará com financiamento federal.
ISA, Henry Novion.

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Noruega sai na frente e anuncia doação de US$ 2,8 bilhões para reduzir o desmatamento

10/12/2007 - O anúncio, feito no domingo, dia 9 de dezembro, na Noruega, prevê a ajuda de cerca de 550 milhões de dólares por ano, até 2012, para combater o desmatamento em florestas tropicais.

O Primeiro-Ministro da Noruega, Jens Stoltenberg , a Ministra das Finanças Kristin Halvorsen e o Ministro do Meio Ambiente Erik Solheim anunciaram ontem a liberação de 545 milhões de dólares por ano - no total de 2.725 bilhões de dólares nos próximos 5 anos - para a redução do desmatamento nos países tropicais.

Essa quantia representa 5% do custo estimado pelo Relatório Stern (sobre os efeitos das mudanças climáticas na economia mundial e as necessidades de investimentos do PIB, elaborado pelo governo inglês) para frear o desmatamento.

O emprego dos recursos está condicionado ao estabelecimento de mecanismos adequados de controle pelo Banco Mundial ou por Agências da ONU, o que ainda não ficou completamente definido.

A doação anunciada foi originalmente proposta em uma carta enviada ao governo norueguês pelas organizações Rain Forest Foundation, da Noruega, e Amigos da Terra Noruega. O objetivo é incentivar outros governos a somar esforços na iniciativa de combate ao desmatamento em países tropicais.

Os ministros da Noruega chegam esta semana a Bali, na Indonésia, para participar da 13ª Conferência da Convenção de Mudança Climática das Nações Unidas (COP-13), evento que busca definir um novo pacto internacional para combater o aquecimento global, de forma a criar um compromisso global que substitua o Protocolo de Quioto.

De acordo com Henry Novion, assessor do Programa de Políticas Públicas e Direito Socioambiental (PPDS) do Instituto Socioambiental (ISA), que está em Bali, a liberação dessa soma de recursos reforça a idéia de evitar o desmatamento para a redução eficaz das emissões de gases do efeito estufa: “Esperamos que outros paises sigam o louvável exemplo da Noruega e destinem recursos para estratégias que evitem emissões florestais e também contribuam para a conservação da biodiversidade”.

Enquanto em Bali se discute algum mecanismo financeiro para compensar reduções de desmatamento, que passaria a vigorar após 2012, “a Noruega já garante, para os anos de 2008 até 2012, um volume inédito de recursos para apoiar esforços imediatos para reduzir o desmatamento tropical em países como Brasil, Indonésia, Papúa-Nova Guiné, Congo e outros que se disponham a conservar as suas florestas”, reforça Márcio Santilli, coordenador da Iniciativa do ISA sobre Mudanças Climáticas.

O anúncio confirma a disposição da Noruega em apoiar o combate ao desmatamento no Brasil. Em 30 de outubro, os ministros do meio ambiente dos dois países, Erik Solheim e Marina Silva, fecharam acordo de cooperação no valor de 10 milhões de dólares para o combate ao desmatamento nos estados brasileiros e a implementação de reservas extrativistas (Resex). O termo foi assinado após encontro na 5ª Conferência de Trondheim, na Noruega, cujo tema central foi a relação entre a biodiversidade, os serviços ambientais e as pessoas, bem como os desafios para cumprir as metas de redução da perda de biodiversidade até 2010. (Leia aqui a notícia completa).
ISA, Henry Novion e Katiuscia Nóra-Sotomayor.

 
 

Fonte: ISA – Instituto Socioambiental (www.isa.org.br)
Assessoria de imprensa

 
 
 
 

 

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