19 de Dezembro de 2007 -
Vladimir Platonow - Repórter da Agência
Brasil - Rio de Janeiro - O número
de cabeças de gado na região
da Amazônia Legal dobrou nos últimos
dez anos, passando de 37 milhões em
1996 para 73 milhões em 2006, um crescimento
três vezes maior que a média
nacional.
Atualmente, existem 3,5
bovinos para cada habitante da região,
formada por nove estados (Acre, Amazonas Amapá,
Maranhão, Mato Grosso, Pará,
Rondônia, Roraima e Tocantins). A população
chega a 20,6 milhões.
No mesmo período,
a expansão do rebanho bovino aumentou
33% no Brasil, saindo de 153 milhões
de cabeças para 205 milhões
no ano passado.
Os números fazem
parte do Levantamento Sistemático de
Produção Agrícola, divulgado
hoje (19) pelo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE).
Em todos os estados da Amazônia
Legal houve crescimento do rebanho, sendo
que em alguns a quantidade de bovinos praticamente
triplicou.
É o caso de Rondônia,
que registrava 3,9 milhões de cabeças
em 1996 e chegou ao ano passado com 11,4 milhões
de bovinos. No Pará a situação
é semelhante: em 1996 havia 6,7 milhões
de cabeças e no ano passado, 17,5 milhões.
Mesmo estados que não
tinham tradição de pecuária
têm registrado forte aumento na criação
bovina. Caso do Acre, onde o rebanho pulou
de 853 mil cabeças, em 1996, para 2,4
milhões, em 2006. Roraima, no extremo
norte do país, tinha há dez
anos 400 mil cabeças bovinas e atualmente
tem 508 mil.No Mato Grosso, que responde por
12,7% de todo o rebanho brasileiro, o aumento
percentual não foi tão expressivo,
mas sim em números absolutos: passou
de 20,7 milhões de cabeças em,
1996, para 23,7 milhões no ano passado.
Segundo o gerente de Pecuária
do IBGE, Otávio Costa de Oliveira,
a atividade tem se deslocado do Sul e Sudeste
para o Centro-Oeste e o Norte do país,
onde a terra é mais barata e o custo
de criação é menor.
Oliveira afirma que os fazendeiros
da Amazônia Legal não usam tecnologia
para aumentar a produtividade da terra, por
meio de manejo e adubação, preferindo
expandir a área, o que afeta o meio
ambiente.
“É possível
aumentar a produtividade sem ter que aumentar
a área. Mas a terra sendo barata, é
mais lucrativo comprar novas áreas
e expandir, do que investir na propriedade”.
A preservação
da floresta amazônica preocupa o vice-presidente
da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA),
Joel Naegele, que responsabiliza a falta de
ação governamental na região
pelos conflitos agrários e devastação
do meio ambiente.
Ele diz que os fazendeiros
acabam expandindo as pastagens por não
terem assessorias técnicas que possibilitem
aumentar a produtividade, criando mais gado
no mesmo espaço de terra.
“A criação
extensiva do gado [quando o rebanho vive solto
no campo e não confinado] exige muita
terra, que está sendo encontrada na
Amazônia por causa fruto do desmatamento",
diz.
O desafio, acrescenta naegele,
é incentivar os proprietários
rurais para explorarem melhor suas terras,
com financiamento e formação
adequada, por meio da Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e da
Empresa de Assistência Técnica
e Extensão Rural (Emater). "Mas
eu realmente não acredito que o governo
vá fazer alguma coisa neste sentido”.
Para o advogado José
Batista Afonso, que integra a Coordenação
Nacional da Comissão Pastoral da Terra
(CPT), a expansão da pecuária
gera pressões sociais e ambientais
em toda a região amazônica.
“Esse movimento vem crescendo
nos últimos anos em função
da pressão das monoculturas, como a
soja e a cana-de-açúcar, que
vêm ocupando os espaços da pecuária
nos estados do Centro Oeste, Sul e Sudeste
e empurrando o gado em direção
à floresta”.
Segundo ele – que vive no
sul do Pará, região de intensos
conflitos fundiários –, esse processo
tem duas conseqüências principais:
o aumento da devastação da floresta
amazônica e o prejuízo a povos
tradicionais, como os índios, ribeirinhos,
quilombolas e pescadores que vivem há
séculos na região e perdem suas
terras.
“A criação
do gado acaba provocando a expulsão
dessas pessoas, além do surgimento
de muitos conflitos e situações
de violência”, disse Afonso, que vê
uma única saída para diminuir
o problema: a contenção do avanço
da pecuária na região.
“Há necessidade urgente
de medidas e políticas governamentais
que possam conter essa expansão violenta
da criação de gado e da abertura
de novas fazendas. Caso contrário,
não sei até quando a Amazônia
suporta.”