Botânica - 28/12/2007
- Há cerca de 2,7 mil anos, parte da
planície costeira da Ilha era formada
por áreas de manguezais
Uma dissertação de
mestrado defendida no Programa de Pós-graduação
em Botânica Tropical, mantido pelo Museu
Paraense Emílio Goeldi (MPEG/MCT) e
pela Universidade Federal Rural da Amazônia
(UFRA), concluiu que a planície costeira
da porção leste da Ilha do Marajó
(PA), ao norte da floresta amazônica,
era formada por áreas de manguezais
há cerca de 2,7 mil anos.
Lívia Rodrigues -
autora do trabalho - e a orientadora Cristina
Senna identificaram tal mudança a partir
de análises palinológicas –
o estudo da estrutura de grãos de pólen
semifossilizados, encontrados no solo da região
costeira leste da ilha.
Elas analisaram amostras
sedimentares do período geológico
Holoceno Superior, datadas de 2.730 anos atrás
e extraídas da Fazenda Bom Jesus. As
análises microscópicas foram
feitas no Laboratório de Palinologia
e Paleoecologia da Amazônia do MPEG.
Segundo a paleontóloga
Cristina Senna, pesquisadora da Coordenação
de Ciências da Terra e Ecologia do MPEG,
por ser um órgão reprodutor
masculino cuja função é
atingir o órgão feminino das
plantas para gerar frutos, o pólen
tem características genéticas
e evolutivas, relacionadas, por exemplo, à
sua forma, estrutura e ornamentação,
que os tornam extremamente resistentes às
intempéries ambientais.
“Esse é um material
fantástico, em termos de preservação,
para contar a história da vegetação
dos ecossistemas”, disse Cristina à
Agência Fapesp. “Apesar de perder seu
conteúdo interno, normalmente analisamos
a membrana externa dos grãos de pólen
semifossilizados por meio de técnicas
e protocolos de classificação
mundiais, utilizados na identificação
e comparação de grãos
de diferentes espécies botânicas.”
Um grão de pólen
tem menos de 200 micrômetros – milésima
parte de milímetro. “Mesmo sendo tão
pequenos, o interessante é que esses
grãos chegam a se preservar melhor
do que restos vegetais como folhas, troncos
e raízes”, explicou Cristina.
As pesquisadoras descobriram
a existência de mangues na região
após identificarem, nos grãos
de pólen colhidos das amostras sedimentares
do Holoceno Superior, características
de plantas pertencentes aos gêneros
Rhizophora e Avicennia, indicadores de florestas
de mangue.
“Por ainda estar em processo
de fossilização, os grãos
estudados guardam relações ambientais
com suas plantas de origem, que, no caso das
espécies dos gêneros Rhizophora
e Avicennia, são comumente encontradas
em áreas de mangue da costa norte amazônica”,
disse Cristina.
O trabalho evidenciou forte
tendência de colonização
de ambientes de manguezais por campos de várzeas.
“Isso significa que as planícies aluviais,
caracterizadas pela formação
de campos inundáveis, estão
avançando sobre os sistemas de mangue
na planície costeira interna da ilha
de Marajó”, afirmou.
Cristina está prestes
a orientar uma tese de doutorado que, com
base em novas amostras sedimentares da Ilha
do Marajó, tentará desvendar
as causas do desaparecimento ou redução
periódica de parte dos manguezais da
região, evento que, segundo ela, provavelmente
está relacionado a variações
climáticas, como períodos de
seca e processos erosivos do solo.
(As informações são da
Agência Fapesp)
Assessoria de Imprensa do MCT