24 de Dezembro de 2007 -
Marco Antônio Soalheiro - Repórter
da Agência Brasil - Brasília
- Na opinião de ambientalistas e representantes
do setor agropecuário, o Brasil já
está atrasado na definição
de uma política de zoneamento que determine
regras para controlar
a expansão produtiva e orientar investimentos.
As normas estão sendo elaboradas pelo
governo federal e a expectativa é de
que sejam concluídas e anunciadas ao
longo do ano que vem.
O ex-ministro da agricultura
Roberto Rodrigues, que hoje preside o Conselho
de Agronegócio da Federação
da Indústrias do Estado de São
Paulo (Fiesp), evita a palavra atraso, mas
admite que o ideal seria o zoneamento já
estar pronto para apontar áreas e balizar
investimentos. A razão para a falta
de antecedência seria uma só:
“Faltou dinheiro. É uma coisa cara,
não é singela. Faltaram recursos
financeiros, decisão para fazer acontecer”,
afirmou Rodrigues, em entrevista à
Agência Brasil.
Para Rodrigo Justus, assessor
técnico da Comissão de Meio
Ambiente da Confederação da
Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA),
a falta de zoneamento tem consequências
graves em um país com as características
do Brasil. “Temos o maior estoque de terras
férteis do mundo e também o
maior estoque da biodiversidade. Conciliar
isso não é uma tarefa fácil”,
disse Justus, em entrevista coletiva da CNA
sobre o balanço da produção
agropecuária em 2007 e as perspectivas
para 2008.
Segundo Justus, a legislação
brasileira tem aspectos únicos em relação
ao mundo, como a proibição das
culturas de café e uva em áreas
com inclinação acima de 25 graus.
“Os produtores brasileiros perdem terreno
para os de outros países. São
tiros no pé dados internamente, que
precisam ser resolvidos.”
O Greenpeace considera o
zoneamento fundamental para disciplinar a
ocupação da Amazônia,
mas avalia que ele não será
feito com a presteza exigida pela situação.
“O governo federal não elegeu o zoneamento
como peça importante de sua atuação
na região. Hoje já há
um avanço na retomada do desmatamento
na Amazônia”, afirmou à Agência
Brasil o coordenador de políticas públicas
da organização não-governamental,
Sérgio Leitão.
Para ele, o zoneamento deve
ser impositivo e argumenta que políticas
meramente indicativas de conduta não
funcionam para “domar” atividades econômicas
com forte apelo de lucratividade. “O que falta
na Amazônia é comando e controle.
Falta Estado, políticas públicas
e polícia, para que a região
não seja vista como terra de ninguém,
onde tudo é possível. 80% das
terras da Amazônia são públicas,
mas griladas”.
Um zoneamento específico
da produção de cana-de-açúcar
em todo o Brasil está sendo planejado
pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa) em parceria com outras instituições,
como a Companhia Nacional de Abastecimento
(Conab), Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), Universidade
de Campinas (Unicamp), secretarias estaduais
de agricultura e meio ambiente, dentre outras.
A previsão de conclusão é
para outubro de 2008.
“Os trabalhos serão
publicados por estados, abrangendo todos os
municípios. Esperamos que até
o meio do ano que vem tenhamos grande parte
dos estados com zoneamentos elaborados”, informou
Celso Manzatto, pesquisador chefe-geral da
Embrapa Solos, em entrevista à Agência
Brasil.
O pesquisador do Instituto
Sociedade, População e Natureza
(ISPN), Nilo Dávila, lamenta que o
zoneamento não tenha sido feito “antes
de todo o apoio político à produção
da cana, com o presidente Lula fazendo papel
de mercador do etanol brasileiro”.
A CNA sustenta que o Brasil
tem áreas degradadas e subutilizadas
suficientes para serem reincorporadas ao processo
de produção e aumentarem em
até 5 vezes a produção
do etanol, sem derrubar uma árvore
da floresta ou até mesmo fazer expansões
sobre o cerrado nativo.
+ Mais
Instituto critica falta
de controle de desmatamento no cerrado
24 de Dezembro de 2007 -
Marco Antônio Soalheiro - Repórter
da Agência Brasil - Brasília
- O desmatamento ilegal no cerrado brasileiro
existe, mas não há dados confiáveis
para estimar a sua dimensão. A afirmação
é do coordenador de Políticas
Públicas do Instituto Sociedade, População
e Natureza (ISPN), Nilo Dávila. O instituto
é um centro de pesquisa e documentação
independente sobre o desenvolvimento sustentável,
sem fins lucrativos, sediado em Brasília.
O instituto considera um
aumento médio da área plantada
de cana- de-açúcar de 20% no
último ano, nos cinco principais estados
produtores do cerrado: São Paulo, Minas
Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso
do Sul. Dávila explica que a expansão
da cana substitui culturas ou pastagens, em
muitos casos com migração imediata.
Assim o produtor vende sua área para
usineiros e compra mais terras ao norte do
país, se dirigindo para a Amazônia.
“Se ela [cana] não
causar desmatamento no cerrado, provoca migração
de atividades tradicionalmente destruidoras
de vegetação, como a pecuária.”
A preservação
do cerrado, segundo Dávila, passa pela
criação de mais unidades de
conservação e por ferramentas
de identificação e controle
do desmatamento da área, que hoje não
existem.
“O primeiro passo é
saber aonde está acontecendo [o desmatamento],
se é legal ou ilegal. O ponto prioritária
para a conservação é
a imediata implantação do sistema
de vigilância via satélite do
bioma”.
O pesquisador do ISPN crê
que o aumento do preço da soja no mercado
internacional fará com que o desmatamento
volte a despontar na proximidades de cidades
do Centro-Oeste que já se destacam
na produção.