14 de Janeiro de 2008 - Beth Begonha
- Repórter da Rádio Nacional da Amazônia
- Brasília - Segundo o Conselho Indigenista
do Vale do Javari (Civaja), 20 médicos dos
Estados Unidos aceitaram o convite feito pelo Civaja
para prestar socorro humanitário aos povos
da Terra Indígena do Vale do Javari, no Amazonas.
O líder indígena Beto Marubo informou
pelo telefone que o coordenador do Civaja Clóvis
Rufino Marubo pediu autorização à
Polícia Federal (PF) em Tabatinga para a
entrada dos estrangeiros em território brasileiro,
mas que a autorização foi negada,
pois eles não possuíam o visto necessário
para entrar e trabalhar no país, o que caracterizaria
prática ilegal da medicina.
O grupo decidiu então que
montaria uma estrutura de atendimento no lado peruano,
na margem oposta de onde se situa a cidade de Atalaia
do Norte, última antes da entrada em território
indígena. O Rio Javari delimita a fronteira
entre os dois países. Segundo Beto Marubo,
essa é uma medida de desespero.
O líder reconhece que a
operação com os norte-americanos é
controversa. Já houve polêmica envolvendo
coleta de sangue de indígenas brasileiros
e venda de amostras pela internet por um laboratório
localizado nos Estados Unidos.
Ele afirma desconhecer o nome
da organização à qual esses
médicos seriam vinculados, bem como os procedimentos
previstos para serem executados por eles, e reconhece:
“Essa é uma atitude de desespero, que ocorre
em função de tudo que os nossos parentes
vêm passando. Sabemos que essa situação
é dúbia, e, dentro dessa perspectiva,
pode ser até perigosa para os nossos povos.
Nem todos apóiam, mas já há
lideranças mais antigas nas aldeias que afirmam
não acreditar mais no governo brasileiro
e pedem que se levem esses médicos até
lá.”
De acordo com Beto, hoje apenas
um médico cuida da saúde indígena
dos mais de 3 mil índios do Vale do Javari,
há menos de 20 profissionais de saúde
na área e não há um único
barco da Funasa funcionando. “Essa é uma
forma de chamar a atenção do Brasil
para a gravidade da nossa situação
e para o desespero de nossos povos.” A Funasa confirma
que todos os seus barcos para o local se encontram
em manutenção.
Procurada pela reportagem, a Fundação
Nacional do Índio (Funai) respondeu, por
intermédio de sua assessoria, que o grupo
de estrangeiros não tem autorização
para entrar em terra indígena, e que só
se pronunciaria sobre a situação posteriormente.
O diretor de Saúde Indígena
da Funasa, Wanderlei Guenka, se disse preocupado
com o acesso desses médicos aos índios,
e afirmou ter acionado o coordenador Regional da
Funasa do Estado do Amazonas, Narciso Barbosa, para
que verifique a situação em Atalaia
do Norte.
Guenka afirmou que a situação
de saúde dos povos que vivem no Vale do Javari
é gravíssima, e que a Funasa, sozinha,
não é capaz de realizar as medidas
necessárias para o atendimento da população.
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Situação da saúde
de índios no Vale do Javari é gravíssima,
afirma diretor da Funasa
14 de Janeiro de 2008 - Beth Begonha
- Repórter da Rádio Nacional da Amazônia
- Brasília - O diretor do Departamento de
Saúde Indígena da Fundação
Nacional de Saúde (Funasa), Wanderley Guenka,
afirmou que a situação de saúde
dos povos que vivem na Terra Indígena do
Vale do Javari, no Amazonas, é gravíssima.
Segundo ele, a Funasa, sozinha, não é
capaz de realizar as medidas necessárias
para o atendimento da população.
Com os índices mais altos
do país de contaminação pelo
vírus do tipo B da hepatite, a região
vem sofrendo ainda com uma epidemia de malária.
Tanto a hepatite quanto a malária atacam
diretamente o fígado, e a associação
dos dois problemas tem enfraquecido a população
e levado a um alto índice de mortes.
“É gravíssimo, gravíssimo”,
avaliou Wanderlei Guenka, em entrevista ao programa
Amazônia Brasileira, da Rádio Nacional
da Amazônia. “Nós não podemos
ficar com medidas paliativas, foi levado isso ao
presidente, nós estamos organizando uma reunião
com todas as entidades, porque só a Funasa
não vai dar conta de dar uma assistência
de qualidade no Vale do Javari. Nós temos
que reconhecer que, isoladamente, não.”
“Nós estamos buscando todos
os parceiros para uma solução no Vale
do Javari”, disse o diretor da Funasa. Como parceiros
indispensáveis, ele citou a Fundação
Nacional do Índio (Funai), a prefeitura de
Atalaia do Norte, a Secretaria de Saúde do
Amazonas, a Secretaria de Vigilância de Saúde
do Ministério da Saúde e o Instituto
de Medicina Tropical. “Um segundo passo, é
fazer essa parceria agora, inclusive com as Forças
Armadas, Marinha e Exército, no sentido de
realmente fazer um trabalho de impacto no Javari,
nós estamos devendo a esse povo. Nós
vamos fazer esse trabalho de impacto, de investimento
na parte estruturante do Vale do Javari”, afirmou.
Há anos a população
pede medidas urgentes para conter o avanço
da presença dos vírus das hepatites
nas aldeias. Entre aqueles que já foram testados
os índices de contaminação
são extremamente altos: mais de 80% para
o tipo A e acima de 20% para o vírus B. Esse
vírus proporciona a sobrevivência no
organismo de outro tipo ainda mais perigoso, conhecido
como delta (D). Também os resultados para
o vírus D entre os testados estão
muito acima da média nacional e dos números
considerados aceitáveis segundo a Organização
Mundial de Saúde (OMS).
Uma das grandes preocupações
dos indígenas é a transmissão
vertical do vírus tipo B. Eles temem que
a transmissão direta de mãe para filho
condene essa população ao desaparecimento.
Nos últimos anos têm ocorrido mais
mortes de jovens e crianças do que de pessoas
idosas nas aldeias. Uma das medidas para impedir
a transmissão é o exame sorológico
(que detecta a presença de anticorpos), em
que a população é testada para
os vírus, o que até hoje não
ocorreu, embora a Funasa já tenha assinado
dois termos de ajustamento de conduta (TACs) com
o Ministério Público comprometendo-se
a concluir o inquérito sorológico
em caráter de urgência.