Energias
Alternativas - 07/01/2008 - Criar um modelo competitivo
de matriz energética limpa, com a produção
em escala de biocombustível, é um
dos grandes desafios da Amazônia nesse início
de século XXI, impulsionado por um crescente
mercado verde que pode mudar a forma de consumo.
Pesquisadores sediados em instituições
locais começam a indicar caminhos para se
chegar a modelos verdadeiramente competitivos, a
partir do aproveitamento de biomassa, como a de
palmeiras da Amazônia.
Porém, o novo paradigma
exige mais que o uso racional dos recursos naturais.
A própria palmeira, por exemplo, serviria
à fabricação de subprodutos
na alimentação humana e de animais
de corte, no artesanato, em paisagismo, na medicina,
e nas construções rurais. Medidas
como essas seriam importantes para superar os entraves
na produção e consumo de derivados
da palmeira, como o isolamento hidrográfico
que dificulta o escoamento da produção,
por exemplo.
A Agência Fapeam, da Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas,
discutiu a produção de biocombustível
na Amazônia com a pesquisadora Ires Paula
de Andrade Miranda, doutora em Ciências Biológicas
pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
(Inpa/MCT)/Museu Nacional de História Natural
de Paris. Ela coordenar os trabalhos do Laboratório
de Estudos em Palmeiras (Labpalm/Inpa) e trabalha
há mais de dez anos com palmeiras da Amazônia.
Agência Fapeam Hoje, há
um interesse muito grande no uso da palmeira como
biocombustível. Como a senhora avalia esse
processo?
Ires Miranda Existem entraves
em sua utilização, por exemplo, produção,
cultivo, manejo, plantio etc. Contudo, do ponto
de vista de palmeiras nativas muitas possuem uma
alta produtividade e capacidade de se estabelecer
em grandes densidades tanto em áreas naturais
quanto em áreas alteradas. Além disso,
as palmeiras possibilitam a utilização
de seus frutos como subprodutos, e seus óleos
na matriz energética sem comprometer o ecossistema.
Em relação ao estado
do Amazonas, à questão é o
isolamento hidrográfico em algumas áreas
e o efeito da seca em outras, o que dificulta o
escoamento da produção. Com o incentivo
da criação de cooperativas e o encorajamento
da indústria possibilitando a inclusão
em seus orçamentos projetos acadêmicos
com profissionais de diversas áreas para
a efetivação de uma cadeia produtiva,
que contemple as demandas da sociedade em geral.
Dessa forma, os entraves poderão ser minimizados
no que tange ao conhecimento para o aproveitamento
integral e manutenção dos estoques
vegetais das palmeiras.
A fixação do homem
na zona rural, um outro fator positivo, contribuirá
para a minimização da depredação
ambiental com a instalação de usinas
de beneficiamento, melhorando a renda da população
rural. Outra vantagem seria a implantação
de escolas agrícolas nos municípios.
Elas contribuiriam para a educação
de jovens, os quais atuariam como multiplicadores
sociais.
AF O Amazonas pode vir a se
tornar um grande produtor de biocombustível?
IM O estado tem condições
de alavancar a matriz energética em biocombustíveis
desde que haja comprometimento com a cadeia produtiva
com o auxílio da ciência e da tecnologia
(C&T) e a sociedade, pois só assim a
cultura individualista será anulada, a qual
não se insere em um mundo globalizado.
AF A utilização
de palmeiras da Amazônia para a produção
de biocombustível pode acarretar danos ao
meio ambiente?
IM Não!! Contudo, devem
ser obedecidas todas as regras inerentes ao aproveitamento
sustentável. Todo extrativismo sem reposição
leva a perda de estoques vegetais!!
AF O manejo na região
pode ser auto-sustentável?
IM A floresta pode ser auto-sustentável
sem a interferência humana. Porém o
manejo dessa floresta pode ser sustentável
desde que se observe todos os meios para a manutenção
da fauna e flora do ecossistema a ser manejado.
O Amazonas felizmente não utiliza a fonte
primária vegetal em grande escala, como em
outros estados da Amazônia. Primeiro, pela
barreira hidrográfica. Segundo, porque o
setor pesqueiro é o mais utilizado. Terceiro,
pelo implemento do setor terciário por meio
Pólo Industrial de Manaus (PIM). Talvez com
a reparação da malha rodoviária
haverá a necessidade de organização
urgente da ocupação territorial do
Estado e a aplicação rígida
de leis ambientais, favorecendo com isso o manejo
sustentável.
AF Qual a situação
do Estado, atualmente, em relação
à produção de biocombustível?
IM Até o momento, salvo
engano, o governo estadual por meio da Secretaria
Estadual de Ciência e Tecnologia (SECT) estabeleceu
o Programa Estadual do Biodiesel, que está
sendo ajustado para implementação
de projetos com plantas nativas e o dendê.
AF A pressão do Governo
Federal e de países de primeiro mundo é
maior do que a capacidade nacional em produzir biocombustível?
IM Particularmente, penso que
cada país tem capacidade de criar suas próprias
defesas para não se tornar refém da
pressão mundial. Acredito que o Brasil possui
várias moedas de troca. O biocombustível
é apenas uma delas. Isso não significa
que o país dependerá exclusivamente
desse recurso para aumentar sua reserva econômica
e ainda contribuir com a diminuição
de gases do efeito estufa. Talvez a floresta de
pé ainda tenha um grande poder de barganha,
uma vez que países em desenvolvimento ainda
precisam ganhar tempo para o aprimoramento da ciência
e tecnologia a fim de competirem em nível
de igualdade com países de primeiro mundo.
O que precisa ficar definido, de uma forma prática,
é o que significa globalização
para os países em desenvolvimento.
(Fonte: Agência Fapeam)
Assessoria de Comunicação do INPA