(15/01/2008) Dois sistemas
alternativos de produção agrícola
utilizados no Brasil permitem reduzir os impactos
causados pelos agrotóxicos e adubos químicos.
O assunto ganhou destaque na sexta-feira(
11 ) , Dia do Controle da Poluição
por Agrotóxicos.
O agrônomo Alberto Feiden,
da Embrapa Pantanal (Corumbá-MS), Unidade
da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
- Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento, diz que a produção
orgânica e o manejo integrado de pragas são
duas alternativas que eliminam e reduzem, respectivamente,
o uso de produtos químicos nas plantações.
“Não há motivo para
comemorar o controle da poluição por
agrotóxicos, mas sim para refletir sobre
o uso indiscriminado. É preciso saber se
o agrotóxico é necessário e
se o benefício que ele traz compensa os impactos
que causa”, afirmou. Segundo ele, junto com as queimadas,
o uso de agrotóxicos representa a maior fonte
de poluição ambiental no Brasil.
Em 2007, a venda de agrotóxicos
cresceu 25%, segundo informações do
Sindag (Sindicato Nacional da Indústria de
Produtos para Defesa Agrícola), divulgadas
no site Agrolink. O crescimento projetado para 2008
varia de 8% a 10%.
Em 2001 a Anvisa (Agência
Nacional de Vigilância Sanitária) passou
a controlar o uso desses produtos por meio do Programa
Nacional de Análise de Resíduos de
Agrotóxicos em Alimentos. O assunto ganhou
visibilidade e a produção passou a
ser monitorada.
Dados da Anvisa revelam que os
produtos que mais concentram resíduos são
morango, mamão, tomate, laranja, batata,
maçã, alface, banana e cenoura.
Segundo Feiden, o consumo de produtos
com resíduos de agrotóxicos podem
causar dois tipos de intoxicação:
a aguda (choque imediato, facilmente relacionado
com o produto químico) e a crônica.
Neste último caso o indivíduo consome
pequenas quantidades durante um longo período
e os resíduos se acumulam no organismo. Os
efeitos ocorrem dezenas de anos depois e dificilmente
são relacionados às substâncias
tóxicas.
ALTERNATIVAS
A produção orgânica
visa eliminar totalmente o uso de agrotóxicos
nas plantações. Qualquer cultura pode
ser produzida de forma orgânica – algumas
com mais facilidade.
Feiden explica que as plantas
que sofreram pouca modificação genética
ao longo dos anos respondem melhor à produção
orgânica. O sistema é antigo no país
e a produção começou de forma
isolada na década de 1960, ligada a grupos
alternativos.
“Nos anos de 1970 houve um impulso,
mas a produção orgânica ganhou
escala de mercado no fim da década de 1980
e início de 11000. A realização
da ECO-02 no Rio de Janeiro contribuiu muito”, lembra
o agrônomo.
Segundo ele, o sistema orgânico
exige uma mudança na lógica de produção.
A prática da monocultura, por exemplo, é
descartada neste sistema. Os conceitos são
diferentes e a reorganização da propriedade
é um processo lento.
Em casos mais rápidos e
simples, a conversão do sistema tradicional
para o orgânico leva de dois a três
anos. A própria legislação
brasileira de orgânicos exige dois anos de
carência para os produtos. Essa lei é
de dezembro de 2003 e foi regulamentada no dia 28
de dezembro de 2007.
A conversão é mais simples para produtores
que utilizam pouca quantidade de agrotóxico.
“Aquele que utiliza muito terá, a curto prazo,
uma queda mais acentuada da produtividade. Demora
mais para obter o equilíbrio”, explicou o
pesquisador da Embrapa Pantanal.
Como o sistema exige diversificação
de culturas, a médio e longo prazo a produção
orgânica aumenta a renda e a estabilidade
da propriedade. “Quando o sistema estiver estabilizado,
o custo de produção cai”, disse Feiden.
A segunda alternativa para minimizar
os impactos da poluição por agrotóxicos
é o Sistema Produção Integrada,
certificado pelo Ministério da Agricultura
Pecuária e Abastecimento, que reduz o uso
de insumos e produtos contaminadores.
“Neste caso, o agrotóxico
só é usado quando outros métodos
de controle não funcionaram. Há uma
vigilância rigorosa sobre as dosagens adequadas
e o nível de danos econômicos.”
De acordo com o pesquisador, no
caso da soja, por exemplo, não se aplica
agrotóxico antes de 30% de desfolha antes
do florescimento. “O produtor estaria desperdiçando
o produto e eliminando inimigos naturais que poderiam
ajudar a combater doenças”, afirmou.
O sistema de manejo integrado
está bastante difundido no Brasil, principalmente
em fruticultura, e permitiu que o país passasse
a exportar frutas, garantindo competividade frente
aos exportadores tradicionais.
Na região de Corumbá,
foi iniciado em 2005 um projeto para estimular agricultores
urbanos a produzir hortaliças no sistema
orgânico. Cerca de 30 produtores recebem da
Embrapa Pantanal todo mês orientações
sobre a conversão de sistema.
Ana Maio / Área de Comunicação
e Negócios-ACN
Embrapa Pantanal / Corumbá (MS)