30 de Janeiro de 2008
- Amanda Mota - Repórter da Agência
Brasil - Manaus - Um projeto internacional, desenvolvido
em parceria por cientistas brasileiros, norte-americanos,
alemães e suecos, dá início,
nesta semana, ao monitoramento atmosférico
da floresta amazônica. Está prevista
a construção de duas bases na floresta,
em áreas pertencentes ao Instituto Nacional
de Pesquisas da Amazônia (Inpa), uma das instituições
envolvidas na ação.
Aproximadamente 30 toneladas de
equipamentos serão utilizados na construção
de estações que irão mostrar
como a região interfere nas mudanças
climáticas globais e nos processos biológicos,
químicos e físicos responsáveis
pela emissão de gases que regulam o ciclo
hidrológico na Amazônia. As estações
funcionarão, inicialmente, por um período
de dois anos.
Segundo o pesquisador do Núcleo
de Modelagem Climática e Ambiental do Inpa,
Teotônio Pauliqueves, as estações
serão capazes de caracterizar, do ponto de
vista físico e químico, as partículas
em suspensão na atmosfera, ou seja, a poeira
e a fuligem geradas pelos carros e a fumaça
de queimadas, por exemplo. Com isso, será
possível entender as diferenças existentes
entre uma região natural - sem influência
de emissões de poluentes - e uma região
poluída, disse ele, em entrevista à
Agência Brasil.
"Hoje existe um grande esforço
mundial no sentido de contabilizar o efeito dessas
partículas nas mudanças climáticas
futuras, porque elas interagem com o clima por meio
da luz solar e das nuvens, por exemplo. O clima
da terra é todo interligado e, por isso,
essa pesquisa será importante", afirmou
Poliqueves, ressaltando que as partículas
de aerossol também participam do balanço
radiativo, da formação de nuvens e
da química atmosférica.
A primeira base de monitoramento
está instalada na Estação Experimental
de Silvicultura Tropical, no km 44 da BR-174, e
a segunda, no sítio Experimental do Programa
Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera
na Amazônia (LBA), no km 50 da BR-174, ambos
do Inpa.
Os equipamentos pertencem às
instituições parceiras e entraram
no Brasil por um processo de importação
temporária que permite a utilização
conjunta pelos cientistas envolvidos. "Todos
os dados coletados na floresta serão compartilhados
por todos os cientistas. Eles poderão usar
os dados que vamos medir, assim como vamos usar
os dados experimentais de nossos parceiros também.
Cada um com seu foco principal, com sua pergunta
científica", informou.
Perguntado sobre a segurança
no compartilhamento das informações,
Poliqueves disse que não há motivo
para preocupação, porque não
haverá dados estratégicos. Além
disso, por serem coletados com dinheiro público,
os dados também serão públicos.
"Não há por que temer isso. Não
é o tipo de coisa que tem influência
direta no desenvolvimento do país. Isso é
estratégico para entendermos o clima e a
influência da Amazônia no clima mundial,
que não é pequena. Conhecer a floresta
amazônica, nesse modo de ciência básica,
não tem problema nenhum", destacou.
Também participam do experimento o Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e a Universidade
de São Paulo (USP). Terminadas as atividades
de monitoramento, serão realizadas reuniões
científicas e conferências para discussão,
consolidação e organização
dos dados coletados. "Esse é um trabalho
coletivo, que começa depois que o experimento
acaba. Não basta gerar o dado, tem que analisar,
refletir, pensar sobre o tipo de medida que se fez
e cruzar esses dados", concluiu Poliqueves.