24 de Janeiro de 2008 - Até
2006, aproximadamente 17% da floresta amazônica
foi destruída. As altas taxas de desmatamento
estão provocando uma redução
acelerada da biodiversidade
local, o que afeta diretamente a vida de milhões
de pessoas que dependem da floresta para sobreviver.
Manaus (AM), Brasil — Retomada da derrubada da floresta
amazônica revela fragilidades estruturais
que sempre estiveram presentes na região.
Não foi por falta de aviso.
Após três anos em queda, a taxa de
desmatamento da Amazônia voltou a crescer
no segundo semestre de 2007, como alertava o Greenpeace.
A retomada da destruição
da floresta está ligada ao aumento dos preços
internacionais de soja, milho e carne e à
falta de adoção de medidas estruturantes
para neutralizar a expansão da fronteira
agrícola sobre a Amazônia, previstas
no Plano Nacional de Controle e Combate ao Desmatamento
do governo Lula. Em vez disso, medidas adotadas
pelo próprio governo – como a descentralização
da fiscalização sem que estados estivessem
aparelhados para tal e a ampliação
de assentamentos em áreas de florestas –
ajudaram atiçar uma fogueira acesa pela pressão
econômica.
Os dados divulgados ontem pelo
Deter, sistema de detecção de desmatamento
em tempo real, do INPE, mostram o desmatamento de
uma área de 3.235 km2 de floresta amazônica
entre agosto e dezembro de 2007. O Deter é
um sistema ágil, porém impreciso,
que não foi concebido para medir área
desmatada, mas para alertar o governo a agir. Ele
identifica aproximadamente 40% do desmatamento real.
Uma projeção usando os dados do Deter
mostra que pelo menos 7 mil km2 de floresta foram
destruídos no segundo semestre de 2007. O
segundo semestre, principalmente na época
de chuvas na Amazônia, normalmente é
um período de menor desmatamento.
“A área de 7000 km já
desmatada será somada ao que será
desmatado no primeiro semestre de 2008 para compor
o número final do desmatamento 2007-2008.
Se o governo não agir de forma dura e imediata,
a próxima taxa de desmatamento anual será
um desastre”, diz Paulo Adario, coordenador da campanha
Amazônia, do Greenpeace.
Os números mensais de desmatamento
estavam aumentando desde maio, empurrados pelo aumento
nos preços das commodities agrícolas.
“O governo poderia ter agido antes, quando os números
estavam em baixa e a pressão sobre a floresta
era menor. Agora, fica tudo mais difícil,
principalmente porque 2008 é ano eleitoral,
quando cai o apetite das autoridades em fiscalizar
e punir”, completa.
A taxa de desmatamento da Amazônia,
que vinha seguindo uma curva descendente desde 2005,
tende a sair do controle se o governo não
agir rápido”, disse Adario. Apesar dos esforços
do governo em aumentar a governança na Amazônia,
grande parte da redução do desmatamento
esteve relacionada à baixa dos commodities
agrícolas nos anos anteriores. Desde o ano
passado, o aumento do consumo de soja na China e
do cultivo de milho para a produção
de biocombustíveis nos EUA levou a uma redução
da área destinada ao cultivo de soja, elevando
o preço do produto.
“O desmatamento da Amazônia
representa 70% das emissões brasileiras de
gases que provocam o aquecimento global. O governo
se comprometeu em Bali junto à comunidade
internacional de adotar medidas concretas e monitoráveis
para controlar o desmatamento. Está mais
do que na hora de agir de forma consistente”, disse
Adario.
“Para resolver o problema, o Greenpeace
recomenda que o governo atue prioritariamente nos
municípios em que as taxas de destruição
são elevadas e aplique duras punições
a fazendeiros que desmataram ilegalmente. É
crucial estimular as atividades que gerem emprego
e renda mantendo a floresta em pé. É
vital também que o governo cadastre todas
as propriedades rurais da Amazônia, sem o
que será impossível implementar políticas
públicas e ambientais eficientes. O governo
tem um bom diagnóstico do problema, e sabe
onde ele ocorre. O que ele precisa é implementar
o seu próprio plano de combate ao desmatamento
de forma adequada”, completa Adario