(01/02/2008)
No sábado (2) é comemorado o Dia Mundial
das Áreas Úmidas, instituído
em 1971 durante a Convenção de Ramsar,
na cidade de Ramsar (Irã), realizada com
o objetivo de promover ações nacionais
e internacionais para a conservação
e o uso sustentável das áreas úmidas
e de seus recursos naturais.
O Pantanal é considerado
a maior área alagável do planeta,
com 138 mil km², espalhados pelos Estados do
Mato Grosso do Sul e Mato Grosso e ocupando ainda
parte dos territórios da Bolívia e
do Paraguai.
Para marcar a data, cientistas
da Embrapa Pantanal (Corumbá-MS), Unidade
da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
- Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento, avaliam os maiores
desafios para o sistema.
A pesquisadora Emiko Resende,
da área de recursos pesqueiros, diz que o
grande desafio é a compreensão da
área úmida. “As pessoas acham que
brejos, alagados, mangues e pântanos são
áreas insalubres que devem ser drenadas e
destruídas. Acham que não tem função
nenhuma”, afirmou.
Mas ela explica que essas áreas
são reservatórios de água para
a época de seca, além de contarem
com grande riqueza e diversidade biológica.
“A Embrapa Pantanal é uma
das empresas líderes na compreensão
desses ambientes e de sua importância econômica
e ambiental. As áreas úmidas têm
um modo muito particular de funcionamento, que,
à primeira vista, não é fácil
de entender”, disse a pesquisadora.
Segundo ela, a Embrapa Pantanal,
com sua equipe multidisciplinar de pesquisadores,
vem contribuindo para o amplo entendimento dos mecanismos
de funcionamento desses ambientes para promover
seu uso sustentável.
“Por exemplo, a riqueza e abundância
de peixes são reguladas pelo pulso de inundação,
que é o encher e o secar do Pantanal a cada
ano. Cheias grandes proporcionam altas produções
de peixes e cheias pequenas, baixas. E a riqueza
e abundância de uma infinidade de animais
dependem desses peixes, como as aves aquáticas
(tuiuiús, cabeças secas, garças,
biguás, colhereiros...), as lontrinhas e
as ariranhas, que os usam como alimento, e até
a onça pintada, que come jacarés,
que comem peixes.”
Pressão
A pesquisadora Márcia Divina
de Oliveira, da área de limnologia da Embrapa
Pantanal, lamenta a pressão sofrida pelas
áreas úmidas. “O Pantanal é
uma das maiores áreas úmidas, tem
muitos títulos [Reserva da Biosfera, Patrimônio
da Humanidade], mas em termos de conservação
está muito ruim. Sofre pressão e impactos
principalmente de áreas que circundam a planície,
embora dentro da planície o desmatamento
também tenha aumentado”, diz Márcia.
Para ela, o Pantanal precisa de
medidas mais efetivas para sua conservação.
“O desmatamento provoca assoreamento dos rios. Basta
ver o exemplo do rio Taquari. Não se deve
eliminar as matas ciliares. O uso de fertilizantes
e agrotóxicos só tem aumentado. É
preciso ter ações mais práticas,
que dependem de políticas públicas
e também de fiscalização”,
afirmou a pesquisadora.
Segundo Márcia, apesar
de todos os efeitos da falta de conservação,
o Pantanal ainda tem áreas naturais dentro
das planícies muito importantes para a limnologia
[ciência que estuda as águas interiores].
“É uma das poucas áreas do mundo que
oferece ambientes naturais para a pesquisa. É
como se fosse um laboratório para estudos.”
Apesar dos 23 anos de pesquisas
em limnologia, o entendimento do sistema ainda está
no início. “Ainda há lacunas, o ambiente
úmido foi pouco estudado. Não tem
muita gente estudando, não há os recursos
necessários e a escala espacial é
grande. Escalas muito pequenas não dão
os resultados que precisamos. O acesso é
difícil e caro”, afirma Márcia.
Ela diz ainda que a infra-estrutura
– estações climatológicas e
fluviométricas – oferece poucos dados e informações,
o que dificulta o trabalho dos cientistas.
Ana Maio