12 de Fevereiro
de 2008 - São Paulo (SP), Brasil — Estatal
francesa Areva é uma das grandes interessadas
no encontro, de olho no fornecimento de equipamentos
para Angra 3.
Uma grande sombra nuclear paira
sobre a reunião desta terça-feira,
na Guiana Francesa, entre Lula e Sarkozy, presidente
da França. O encontro, que servirá
para discutir interesses comuns e uma agenda de
cooperação entre os dois países,
será acompanhado de perto pela estatal francesa
Areva, maior geradora e distribuidora de energia
nuclear no mundo atualmente. Ela está de
olho na retomada do projeto nuclear brasileiro e,
consequentemente, na construção da
usina Angra 3.
A estatal francesa herdou o contrato
de fornecimento de equipamentos para a Angra 3,
avaliado em cerca de R$ 2 bilhões. Em fevereiro
de 2007, uma delegação francesa composta
por empresários e pela ministra de Comércio
Exterior, Christine Lagarde, visitou o complexo
nuclear de Angra dos Reis (RJ). A presidente da
Areva, Anne Lauvergeon, fazia parte da delegação.
Quatro meses depois, o governo brasileiro aprovava
a retomada das obras de Angra 3.
É importante lembrar que
o contrato herdado pela Areva foi firmado nos tempos
da ditadura militar no Brasil e é um documento
sem validade. Essa e outras irregularidades no processo
de retomada das obras de Angra 3 foram constatadas
pelo jurista José Afonso da Silva, que elaborou
um parecer e fizeram parte de representação
encaminhada pelo deputado federal Edson Duarte,
com assessoria técnica do Greenpeace, ao
Tribunal de Contas da União (TCU) em novembro
passado.
Em função desta
representação, o TCU intimou o ministro
de Minas e Energia, o presidente da Eletrobrás
e o presidente da Eletronuclear a prestarem esclarecimentos.
“No momento em que o aquecimento
global e a segurança energética estão
no topo da agenda política internacional,
o certo seria que os dois países discutissem
o aprimoramento tecnológico para aproveitar
as abundantes fontes energéticas renováveis
do Brasil. É lamentável que a cooperação
entre Brasil e França passe pela transferência
de uma tecnologia ultrapassada e perigosa como a
nuclear, com o desembolso de bilhões de reais
pelo governo brasileiro”, afirmou a coordenadora
da campanha antinuclear do Greenpeace, Beatriz Carvalho.
“A chamada “renascença”
propagada pela indústria nuclear ao redor
do mundo esconde grandes interesses comerciais e
econômicos. Em termos de geração
de energia, a opção nuclear é
a mais cara do Brasil. Com apenas 12% dos R$ 7,4
bilhões previstos para Angra 3 seria possível
economizar quatro vezes a capacidade da usina, como
comprovou o Procel – Programa Nacional de Conservação
de Energia Elétrica, que economizou 5.124
MW com o investimento de R$ 850 milhões”,
diz Beatriz.