28 de Fevereiro de 2008 - Marco
Antônio Soalheiro - Enviado especial - Wilson
Dias/Abr - Tailândia (PA) - Homens, mulheres
e crianças formam
filas em frente à casa do prefeito Paulo
Jasper. População disputa 3.500 cestas
básicas distribuídas pela Secretaria
de Ação Social do município.
Moradores criticam Operação Arco de
Fogo, que combate a exploração ilegal
de madeira na cidade.
Tailândia (PA) - Antes das 9h, às margens
da Rodovia PA-150, milhares de homens, mulheres
e crianças formam filas imensas em frente
da casa do prefeito Paulo Jasper, 56 anos, popularmente
conhecido como "Macarrão". Alguns
enfrentaram mais de 5 quilômetros a pé
ou 10 quilômetros de bicicleta para chegar
ali e disputar 3.500 cestas básicas distribuídas
gratuitamente pela Secretaria de Ação
Social do município. Na fila, o discurso
é unificado: críticas à Operação
Arco de Fogo, que combate a exploração
ilegal de madeira na cidade e muitos elogios ao
que chamam de "bondade" do prefeito e
de sua família.
"Os pais de família
que trabalham com madeira e crianças estão
morrendo de fome. A gente sempre vem na casa do
prefeito, e quando ele pode, ajuda a gente",
disse a doméstica Josefa Cunha, 58 anos.
Quando a distribuição
de comida efetivamente começa, começam
a sair do estacionamento da casa um microônibus
e várias caminhonetes. Na comitiva, o prefeito
segue com deputados estaduais e federais que representam
a região e foram ao município debater
com lideranças locais as ações
da operação que combate o desmatamento.
Macarrão, após 15 dias longe do município,
desce de seu veículo, ergue os braços,
acena para os que aguardam a comida, é aplaudido
e sai sem falar com a imprensa.
Alguns funcionários de
madeireiras permanecem pacientemente na fila. É
o caso de Zulmiro Soares, 60 anos, três filhos.
O salário médio da categoria é
de R$ 600, segundo o sindicato dos trabalhadores
. “O serviço aqui está todo parado
não tem como sustentar os filhos. Vou arrumar
renda da onde?”, questiona Soares. “A empresa pára
e nós também. O homem sempre dava
comida, até antes de ser prefeito.”
Com uma filha de 6 meses no colo,
Socorro Nascimento, 25 anos, ainda consegue carregar
sua cesta com a mão que sobra. Ele diz que
a Operação Arco de Fogo está
provocando desemprego e fome na região. "Eles
têm que pegar a madeira, vender, trocar em
rancho [comida] e dar para o pessoal desempregado",
defendeu.
Silas de Almeida, 43 anos, trabalhava
fazia cinco meses no setor madeireiro de Tailândia.
Ele disse saber da existência ilegalidade,
mas avaliou que o combate à situação
exige um período de transição:
"A coisa tem quer modificada devagar para ninguém
passar necessidade".
Na coordenação da
distribuição, ao lado do caminhão,
quem manda é a esposa do prefeito, Hígia
Frota, titular da Secretaria de Ação
Social de Tailândia e dona da residência
onde os populares se concentram. Ela confirmou que
os alimentos foram adquiridos com recursos da prefeitura
e contou que pessoas estão há mais
de uma semana batendo na sua porta em função
do desemprego. Mas disse ainda confiar que as autoridades
estaduais e federais apontem uma solução
para a crise instalada no setor madeireiro local:
"Temos que ter emprego para esse povo. É
injusto é um pai de família ficar
desempregado. O município não pode
ficar a vida toda desse jeito".
Algumas horas depois, já
no início da tarde, o prefeito Macarrão
aceitou conceder entrevista. Questionado sobre o
porquê da distribuição de alimentos
comprados com dinheiro público na porta de
sua casa, alegou ser uma tradição
local: "É quase um folclore, toda a
população me procura todo dia. Eles
não tem a quem recorrer, e por isso pedem
ao prefeito". O prefeito ainda comentou o risco
de pessoas se juntarem à beira de uma rodovia
movimentada em busca de comida: "Acho tudo
perigoso, precisamos é resolver o problema
da comunidade".
Antes da entrevista, em pronunciamento
a lideranças locais, o prefeito disse estar
ciente de que não basta distribuir comida
ao povo. "A cesta básica no Nordeste
é um bote salva-vida, mas na nossa região
é uma âncora no pescoço de um
funcionário. É a retirada da dignidade,
pois ele tem compromisso no comércio e em
todos os lugares", comparou.
Nem toda população
avalia positivamente o gesto e as intenções
do prefeito. A agricultora Antônia Pereira,
46 anos, comentou que, como os alimentos foram comprados
pela ação social do município,
a entrega tinha de ser na prefeitura. "Isso
é movimento político e quem faz tem
que ser punido", defendeu. "Nossa sociedade
não pode viver do assistencialismo. Temos
que viver produzindo e trabalhando", reforçou
outro agricultor, Valdinei Palhares.
Na secretaria do Fórum
do município, a informação
é de que representantes do Ministério
Público vão averiguar possíveis
irregularidades na ação da manhã
de hoje.