2 de Março de 2008 - Vladimir
Platonow - Repórter da Agência Brasil
- Rio de Janeiro - A Academia Brasileira de Ciências
(ABC) está desenvolvendo um estudo amplo
sobre o desenvolvimento da Amazônia, que será
apresentado ao governo até o final do ano.
O objetivo é encontrar um modelo que garanta
progresso econômico sem agressão ao
meio ambiente, segundo o vice-presidente da ABC
para a região Norte e diretor-geral do Instituto
Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa),
Adalberto Val.
“A ABC montou um grupo de estudos
para fazer uma proposta sobre o desenvolvimento
da Amazônia. Um ponto importante é
que nós não temos nenhum país
tropical desenvolvido no mundo. Portanto, nós
vamos ter que desenvolver um modelo, pois não
há nenhum a ser adaptado ou copiado às
nossas condições.”
O diretor do Inpa disse que é
preciso haver pesquisas científicas e também
ações de governo para criar alternativas
econômicas para os milhares de trabalhadores
que hoje vivem unicamente da extração
de madeira.
“O desafio é viabilizar
ações de inclusão social com
a manutenção da floresta em pé.
Na medida em que as pessoas não têm
alternativa, o que elas encontram é destruir
a floresta, buscar madeira para vender. Derruba
um pé de mogno para comprar comida”.
Entre áreas que podem ser
desenvolvidas, segundo o diretor do Inpa, estão
as de biotecnologia, biocosméticos, medicamentos
e criação de peixes. “Nós temos
uma das maiores bacias hidrográficas do mundo,
que é muito pouco explorada do ponto de vista
da produção de proteínas, que
pode ser utilizada na alimentação”.
Val disse que já existem
alternativas para serem utilizadas no curto prazo,
faltando apenas decisão política.
“O Inpa e outras instituições da região
têm um conjunto de produtos e processos aptos
a serem transferidos à sociedade, para viabilizar
a inclusão social. Para isso, precisamos
observar o zoneamento agro-ecológico-econômico,
utilizar neste momento as alternativas que já
existem e o estado tem que estar mais presente.
A população vai continuar crescendo,
gerando pressão sobre a região. É
preciso agir de forma integrada, ter uma instância
de governo para cuidar especificamente das ações
na Amazônia.”
O pesquisador do Inpe Carlos Nobre
também defende a necessidade de se descobrir
um novo modelo para regiões tropicais úmidas
com florestas.
“A não existência
de um país tropical desenvolvido nos faz
procurar desenvolver a Amazônia com parâmetros
que não funcionam para regiões tropicais.
Não está funcionando na Amazônia,
nos países tropicais africanos, nem nos do
sudeste da Ásia. Como aproveitar a riqueza
natural dessas regiões, principalmente da
biodiversidade, trazendo valor econômico à
floresta? Isso ninguém descobriu ainda no
mundo, precisa ser inventado.”
Nobre reconhece que o Brasil está
atrasado nesse debate, pelo menos desde os anos
70, quando o regime militar decidiu integrar a Amazônia
ao resto do país, com a abertura de estradas
como a Transamazônica e o incentivo à
colonização agrária.
“No momento em que se decidiu
integrar economicamente a Amazônia ao resto
do Brasil, não se pensou na possibilidade
de que existia um outro modelo, que se baseasse
na riqueza da biodiversidade. Os planejadores militares
pensaram na Amazônia como a extensão
de um modo de desenvolvimento agrícola que
existia no resto do Brasil. Era um modelo inimigo
da floresta, vista como um obstáculo ao desenvolvimento.”
Segundo o pesquisador do Inpe,
o combate ao desmatamento ilegal não vai
causar grande impacto econômico na região,
como alegam os madeireiros, porque os dois maiores
contribuintes à economia são a Zona
Franca de Manaus e a exploração mineral,
principalmente minas de ferro.
“A madeira
e a pecuária são importantes para
o PIB [Produto Interno Bruto], mas muito menores.
O que se quer é que uma parte das áreas
já desmatadas seja convertida para a agricultura
moderna, que produz quatro vezes mais, com a metade
da área desmatada.”
De acordo com o diretor do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (Inpe), Gilberto Câmara,
devem ser divulgados nos próximos dias os
últimos dados sobre o desmatamento na Amazônia.
Ele não quis adiantar quais são os
resultados do levantamento, correspondente ao mês
de janeiro. Durante evento no Rio de Janeiro, disse
apenas que estão sendo feitas as análises
finais dos dados e prometeu liberar as informações
ainda no início deste mês.