2 de Março de 2008 - Alex
Rodrigues - Enviado especial
- Wilson Dias/Abr - Macapá (AP) - Aluno da
Escola Estadual José Bonifácio recebe
aula de informática na Comunidade de Curiaú,
o primeiro grupo social quilombola reconhecido no
Amapá.
Macapá (AP) - A comunidade de Curiaú
foi o primeiro grupo social quilombola reconhecido
no Amapá. Porém, antes mesmo do reconhecimento,
o governo estadual já havia criado a Área
de Proteção Ambiental (APA) de mesmo
nome.
“Para impedir que o crescimento
de Macapá engolisse a comunidade e destruísse
as raízes culturais e sociais [da comunidade]”,
afirma a educadora sócio-ambiental da secretaria
de Meio Ambiente, Maria de Lourdes Ramos.
A área quilombola abrange
3.321 hectares dos 21.676 hectares da APA, composta
por florestas, campos de várzea e cerrados.
No local, cerca de 4 mil pessoas vivem da agricultura,
da pesca, do cultivo de búfalos e do turismo.
Segundo o secretário extraordinário
de Políticas para os Afrodescendentes, Josivaldo
da Silva Libório, a comunidade de Curiaú
se destaca não só por preservar sua
cultura folclórica, suas crenças religiosas,
mas também uma culinária típica.
“O Curiaú é uma
grande referência da cultura afrobrasileira
e seu tombamento serviu de exemplo para que outras
comunidades do estado solicitassem o seu reconhecimento,
facilitando inclusive que elas próprias se
reconhecessem como remanescentes quilombolas”, diz
o secretário.
Libório explica que, atualmente,
há outras duas comunidades reconhecidas no
estado, 11 em processo de reconhecimento e 46 já
mapeadas e prestes a serem legitimadas. Para o secretário,
a recente transferência de terras da União
para o estado irá acelerar o processo de
reconhecimento.
Para o quilombola Joaquim Araújo da Paixão,
a comunidade de Curiaú é privilegiada.
“Nossos antepassados conseguiram este pedaço
de chão e o preservaram o quanto puderam.
Nós também fizemos o que pudemos e
já estamos indicando à próxima
geração como elas devem fazer. Enquanto
eu tiver vida, vou lutar até as últimas
conseqüências para
manter nossa cultura”.
Sobre a origem do quilombo, a tese mais divulgada,
inclusive em material informativo do próprio
governo, sustenta que os atuais moradores da área
são remanescentes de antigos escravos que
teriam fugido dos maus tratos a que eram submetidos
na então vila de Macapá, onde eram
empregados na construção de edificações
públicas.
A hipótese, no entanto,
vem sendo questionada por alguns historiadores,
como Hermano Araújo, chefe da unidade de
preservação e conservação
da Fortaleza de São José, em Macapá.
Hermano conta que, por volta de
11000, o governo determinou que fosse construída
uma vigia militar na foz do Rio Curiaú. Na
época, diz ele, os soldados eram estimulados
a, usando a mão de obra escrava, atuar também
como colonos, recebendo, além do salário,
um incentivo em dinheiro.
O historiador, no entanto, acredita
que os negros que deram início ao quilombo
já haviam sido libertados quando ocuparam
o local. “Os negros que ocuparam a área eram
escravos de um oficial que tinha uma gleba no local
e que, antes de morrer, os alforriou. Eles ocuparam
a área já libertos”, diz o historiador.