07 Mar 2008 - Por Denise Cunha
- Muito mais desafiadora que a sua primeira fase,
realizada em novembro de 2007 no setor sul do Parque
Nacional do Juruena, ao norte
do Mato Grosso, a segunda etapa da expedição
científica Juruena é também
considerada uma grande oportunidade para encontrar
espécies, ainda não identificadas
pela ciência, da flora e fauna amazônica.
Desta vez, entre os dias 25 de fevereiro a 15 de
março, cerca de 30 profissionais ligados
a diferentes campos de atuação e instituições
brasileiras reúnem informações
sobre o setor norte da unidade de conservação,
localizado entre o sudeste do Amazonas e o norte
do estado do Mato Grosso.
Além de exigir um preparo
logístico mais complexo, incluindo deslocamentos
com longas distâncias, o trecho contemplado
nessa etapa caracteriza uma área mais ampla
da paisagem de transição entre os
biomas Cerrado e Floresta Amazônica. Esse
predicado, além de garantir especial beleza
cênica (composta por lugares como o Pontal
de Apiacás, Serra de Apiacás e o percurso
do próprio Rio Juruena), é um dos
grandes responsáveis pela riqueza e diversidade
biológica de um lugar ainda pouco estudado.
É também aquela que está sendo
posta sob maior pressão de desmatamento,
dado o avanço cada vez mais agressivo da
fronteira agrícola, especialmente no norte
do Estado de Mato Grosso.
O objetivo da expedição,
que está sendo realizada sob a coordenação
do Instituto Centro de Vida (ICV) e em parceria
com o WWF-Brasil e com o Instituto Chico Mendes
para a conservação da Biodiversidade
(ICMBio), é dar continuidade à coleta
de informações científicas
que subsidiarão a construção
do Plano de Manejo para o Parque Nacional do Juruena.
A Avaliação Ecológica Rápida
(AER) continuou a ser a metodologia aplicada para
a aquisição dos dados sobre os aspectos
físicos, biológicos e socioeconômicos
da área, que são subsídios
essenciais para a elaboração desse
documento de grande auxílio à gestão
da unidade. No entanto, devido às características
do novo trecho a ser percorrido, a logística
planejada para a atividade foi muito mais complexa
que a anterior.
A pesquisa contempla o segmento
entre o Rio São Tomé (afluente do
rio Juruena, no Mato Grosso) até o trecho
inicial do rio Tapajós (no Amazonas) e conta
com a participação de uma equipe multidisciplinar
composta por cinco piloteiros*, uma cozinheira e
16 pesquisadores de oito diferentes áreas
temáticas (Artropodofauna, Ictiofauna, Herpetofauna,
Ornitofauna, Mastofauna, Socioeconomia, Vegetação
e Uso Público). Cinco analistas ambientais
do ICMBio também acompanham as atividades.
Além disso, a partir do próximo sábado,
uma comunicadora e um fotógrafo do WWF-Brasil
irão se juntar ao grupo para documentar a
última etapa e os resultados parciais da
iniciativa.
Segundo Marcos Pinheiro, técnico
de conservação do WWF-Brasil e coordenador
das ações da organização
na região do Parque Nacional do Juruena,
essa iniciativa tem papel fundamental na viabilização
da implementação efetiva para o parque
que, além de sua riqueza e importância
em si, possui localização estratégica
no Corredor de Conservação da Biodiversidade
da Amazônia Meridional. Trata-se de um gigantesco
mosaico de áreas protegidas que estende desde
as margens do Rio Madeira, no norte de Rondônia
e sul do Amazonas, até a bacia do Xingu,
no Mato Grosso e Pará.
“Esta é uma ferramenta
de conservação estratégica
que tem um papel fundamental na contenção
do avanço do desmatamento, funcionando como
uma barreira ao deslocamento da fronteira agrícola
do norte de Mato Grosso para as áreas relativamente
bem conservadas do sul do Pará e sudeste
do Amazonas. Nesse contexto, o Parque Juruena constitui
uma peça-chave para impedir a entrada potencial
do vetor de ocupação irregular de
terras (grilagem) e desmatamento na ponta do extremo
norte do Mato Grosso. Trata-se de uma ameaça
muito concreta e atual”, afirmou Pinheiro.
Envolvendo moradores locais
A realização de
três reuniões abertas com moradores
de comunidades localizadas dentro e no entorno do
parque é outra particularidade dessa nova
etapa da expedição. Uma delas foi
realizada na comunidade Pontal, no último
dia dois de março. Outras duas devem acontecer
nas comunidades Barra de São Manoel e Colaris,
nos dias nove e dez de março, respectivamente.
Ministradas por analistas ambientais
do Parque Nacional do Juruena, essa atividade se
caracteriza como o primeiro contato oficial do ICMBio
com os habitantes do local. Trata-se também
de uma etapa importante para a construção
do Plano de Manejo e também para a formação
do conselho gestor da recém-criada unidade
de conservação.
A idéia é envolver
os principais grupos sociais – compostos por pessoas
representativas das comunidades, lideranças
e instituições ou organizações
relacionadas com a unidade – com o objetivo de informá-los
sobre o Plano de Manejo, obter informações
sobre a área, conhecer as expectativas, avaliar
a visão da comunidade sobre a unidade, além
de identificar os prováveis participantes
da Oficina de Planejamento, uma das próximas
fases para a construção do plano.
Logística e infra-estrutura
Para que as atividades atingissem
o sucesso esperado, uma infra-estrutura igualmente
complexa foi providenciada. Dessa forma, parte da
equipe (cinco piloteiros, uma cozinheira e alguns
dos pesquisadores) viajaram 360km de Alta Floresta,
no Mato Grosso, até a margem do rio Tele
Pires a bordo de um caminhão Mercedes Bens
de 1979 e de duas caminhonetes de menor porte, transportando
também cinco motores de popa 25hp, cinco
voadeiras (pequenos barcos de aluminho, comumente
usados na região), um gerador, 25 tendas,
equipamentos para pesquisa, além de muita
comida. Em seguida, percorrendo cerca de 560 km
no total, viajaram pelo rio Tele Pires até
sua confluência com o rio São Tomé,
onde havia um barco regional com capacidade para
30 pessoas que está servindo de base para
as ações.
A embarcação foi
levada, então, até a pousada Jurumé,
já no rio Juruena, onde ocorreu o embarque
dos demais participantes da expedição
(pesquisadores, analistas ambientais e comunicadores)
que chegaram de avião - um monomotor com
capacidade para cinco pessoas - até o local,
seguindo com o restante da equipe para mais dois
pontos para coletar dados: comunidade Barra de São
Manoel - localizada às margens do rio Juruena
– e a parte inicial do rio Tapajós, ponto
final da atividade onde ainda estão ancorados.