5 de março - Foto:
Mário Vilela/Acervo: FUNAI.Um grupo de 76
indígenas xinguanos das etnias Kalapalo,
Matipu, Kamayurá, Waurá, Kuikuro,
Yawalapity e Ikpeng esteve reunido nos dias 28 e
29 de fevereiro, em Brasília, com a Fundação
Nacional do Índio (Funai), para discutir
o funcionamento da Pequena Central Hidrelétrica
(PCH) Paranatinga II, entre os municípios
de Campinápolis e Paranatinga (MT), próximo
ao Parque Nacional do Xingu.
O encontro é resultado
de negociações do presidente da Funai,
Márcio Meira, para a liberação
de 8 pesquisadores mantidos na aldeia por índios
da etnia Ikpeng, em protesto contra o funcionamento
da hidrelétrica. Eles alegam que a construção
prejudica o abastecimento de água nas aldeias
e a principal fonte de alimentação:
os peixes do Rio Kuluene. “Kuluene é nosso
rio. Na época de seca não podemos
navegar, dá para atravessar a pé vários
trechos do rio”, conta o Cacique Awató Ikpeng,
do Médio Xingu.
Para viabilizar a reunião,
a Funai mobilizou uma aeronave para o deslocamento
dos índios das aldeias do Alto, Médio
e Baixo Xingu até o município de Canarana.
Para chegar à Brasília foram fretados
dois ônibus para o transporte do grupo. O
assunto principal foi a permissão da continuidade
nos estudos de impacto ambiental, em razão
do funcionamento da PCH Paranatinga II, além
de mais três outras hidrelétricas previstas.
O presidente-substituto da Funai,
Aloysio Guapindaia, conduziu o encontro. “A Funai
reconhece o direito indígena. Os estudiosos
precisam terminar estas pesquisas para poder ter
certeza do impacto. Espero que vocês (os índios)
possam estar com a gente para manter este diálogo
para proteger os povos indígenas”, disse
Guapindaia. O resultado dos estudos permitirá
a discussão de medidas compensatórias
e mitigatórias.
Os índios xinguanos retornaram
no sábado (01/03) à Canarana e até
terça-feira (04/03) todos chegaram em suas
aldeias de origem. Os 76 guerreiros e lideranças
discutirão com suas comunidades a presença
ou não dos pesquisadores no Parque do Xingu
para continuidade dos estudos. “Não somos
contra o desenvolvimento do país. Mas se
querem fazer obras próximo à Terra
Indígena, consultem os índios. Somos
a favor do desenvolvimento, mas respeitem os índios
e os direitos dos índios”, afirmou o Cacique
Kumaré Txicão, da etnia Ikpeng.
Por solicitação
dos guerreiros, também participaram da reunião
representantes da Casa Civil, do Ministério
da Justiça (MJ), do Ministério de
Minas e Energia (MME), do Ministério do Meio
Ambiente (MMA), do Ministério Público
Federal (MPF) e do Governo do Mato Grosso, além
do Deputado Federal Carlos Abicalil, membros da
Empresa Paranatinga e do Instituto Creatio, do qual
os pesquisadores fazem parte.
Viagem internacional
Márcio Meira, convidado
pela Fundação Heinrich Boll, participou
como palestrante na Conferência Internacional
“Clima e Mudança na Amazônia”, entre
os dias 27 e 29 de fevereiro, em Berlim, na Alemanha.
O encontro pretende dar novo impulso para as soluções
políticas de preservação da
floresta amazônica, sua biodiversidade, as
reservas de água doce, a população
nativa e o clima global. A Conferência conta
com cerca de 250 participantes, entre representantes
locais e colaboradores nacionais e internacionais.
O presidente da Funai integrou o fórum “Reivindicações
e posições das populações
indígenas e tradicionais”.
No mesmo período, Márcio
Meira teve encontro com o Secretário de Estado
Erich Stather, do Ministério Alemão
de Cooperação Técnica e Desenvolvimento.
Na oportunidade, pôde negociar a proposta
de renovação do Acordo de Cooperação
Técnica entre a Funai e a Agência Alemã
de Cooperação Técnica (GTZ)
para o Projeto Integrado de Proteção
às Populações e Terras Indígenas
da Amazônia Legal – PPTAL. O objetivo do projeto
é melhorar a qualidade de vida das populações
indígenas, promovendo a conservação
dos recursos naturais por meio da demarcação
das terras indígenas da Amazônia Legal
e aplicação de projetos de proteção
a essas áreas.