(20/03/2008) O Dia Mundial da
Água, comemorado neste sábado, dia
22 de março, tem como tema escolhido pela
ONU (Organização
das Nações Unidas) o saneamento. A
Embrapa Pantanal inicia no próximo mês
uma pesquisa que envolve justamente esta temática:
o uso de fossas sépticas biodigestoras nos
assentamentos de Corumbá.
A responsável pelo projeto
de pesquisa é a agrônoma Márcia
Toffani, da Embrapa Pantanal (Corumbá-MS),
Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
- Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento. A pesquisa será
desenvolvida com apoio do CNPq (Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
Segundo Márcia, o Brasil
está investindo na infra-estrutura básica,
financiando estações de coleta e tratamento
de esgoto em diversos municípios com recursos
do PAC (Programa de Aceleração do
Crescimento). Em Corumbá essas obras também
estão em fase inicial. “É uma meta
do governo federal e uma preocupação
da ONU”, disse.
Ela explica que o tratamento gera
resíduos sólidos, conhecidos como
lodo de esgoto. Na área urbana, esse material
pode ser reaproveitado como fertilizante de plantas,
em vez de ser simplesmente disposto no solo ou despejado
em rios ou aterros.
“Para as comunidades rurais, entre
as tecnologias para tratamento de dejetos humanos,
existe a fossa séptica biodigestora. Vamos
testá-la em substituição às
fossas comuns, que apresentam riscos de contaminação
de lençóis freáticos”, afirmou.
A fossa séptica biodigestora,
desenvolvida pela Embrapa, trata somente os resíduos
de vasos sanitários. O tratamento transforma
o resíduo bruto em biofertilizante para uso
no solo. “É rico em material orgânico
e nutrientes.”
Além da questão
ambiental, a tecnologia favorece o produtor rural,
que poderá economizar na compra de insumos.
A pesquisa é inovadora
na Embrapa Pantanal, que tem trabalhado com a qualidade
de alimentos, saúde e princípios de
agroecologia, que enfatiza a reciclagem de nutrientes
no sistema.
ÁGUA
Outras pesquisas sobre a água
são desenvolvidas pela Embrapa Pantanal desde
a década de 1980. “Temos uma base de dados
consolidada com informações coletadas
ao longo de 20 anos. Muitas dessas informações
já estão à disposição
dos interessados”, disse a pesquisadora Márcia
Divina de Oliveira, da área de limnologia
da Embrapa Pantanal. Limnologia é a parte
da biologia que trata das águas doces e de
seus organismos, principalmente do ponto de vista
ecológico.
Todo esse conhecimento tem permitido
que a Embrapa Pantanal contribua com informações
nos diferentes segmentos da sociedade em questões
relacionadas a recursos hídricos.
Segundo Márcia Divina,
as informações incluem a caracterização
limnológica, incluindo qualidade de água
levantamentos sobre contaminantes, estudos sobre
comunidades aquáticas, gestão de bacias
hidrográficas, entre outras.
Um dos projetos de pesquisa em
andamento é o PELD (Pesquisas Ecológicas
de Longa Duração), que entra em seu
oitavo ano. “Ele deve durar dez anos e faz um monitoramento
amplo de toda a bacia. Pelo menos cinco pesquisadores
da Embrapa Pantanal estão envolvidos com
o PELD”, disse Márcia.
Segundo ela, estudos mais detalhados
têm sido feitos em importantes sub-bacias,
como a do Taquari e do Miranda, tributários
do rio Paraguai, sempre com uma visão integrada
entre as atividades presentes na bacia e sua influência
na qualidade e quantidade de água.
“Além disso, temos estudado
o entendimento de processos ecológicos voltados
à área de inundação,
como a importância do pulso de inundação,
a ocorrência de fenômenos naturais como
a decoada, e introdução de espécies
exóticas. Procuramos sempre responder a questões
apresentadas pela comunidade.”
De tudo o que foi pesquisado até
o momento, Márcia Divina sintetiza: “a qualidade
da água hoje em Corumbá é boa.
Mas são extremamente preocupantes os sedimentos
e contaminantes (fertilizantes e pesticidas, além
de efluentes urbanos) que entram no Pantanal através
dos tributários do rio Paraguai. Há
presença de contaminação no
início da área de inundação.”
Para Márcia Divina, o sistema
tem capacidade de reter parte desses contaminantes
por meio das plantas aquáticas, embora se
mantenham no sistema e possam acumular e/ou causar
danos aos organismos aquáticos. “A longo
prazo não sabemos mensurar quais serão
os reais impactos”, conclui.
Ana Maio
Embrapa Pantanal, Corumbá (MS)