18 de
Março de 2008 - Vladimir Platonow - Enviado
especial - Valter Campanato/Abr - Tabatinga (AM)
- O chefe do Distrito Especial Indígena do
Alto Rio Solimões, Plínio Souza Cruz,
fala à EBC. Ele disse desconhecer o uso e
o tráfico de cocaína em aldeias da
região, relatados por outros entrevistados
Tabatinga (AM) - O chefe da Fundação
Nacional de Saúde (Funasa) do Alto Solimões,
Plínio Souza da Cruz, disse hoje (18) desconhecer
o uso e o tráfico de cocaína em aldeias
na região de Tabatinga (AM), como afirmou
à Agência Brasil e à TV Brasil
o administrador regional da Fundação
Nacional do Índio (Funai), Davi Félix
Cecílio.
Segundo Cruz, que trabalha há
11 anos na Funasa de Tabatinga, o vício mais
comum nas aldeias é o da bebida alcoólica.
Ele afirma que jamais ouviu falar em consumo de
cocaína.
"Até o momento, oficialmente,
nós não temos conhecimento nenhum.
Para mim causa até surpresa. No meu entendimento,
não existe isso. A gente sabe que aqui é
um corredor de passagem [da droga]. Mas não
posso afirmar que nas aldeias todas há consumo
de drogas. Eu nunca vi, nem ouvi falar. Até
mim não chegou nenhuma informação
dessa."
Entretanto, na ante-sala do gabinete
do chefe da Funasa, índios que esperavam
por uma audiência confirmaram o uso e a venda
de cocaína nas aldeias, principalmente, entre
os mais jovens.
"É um problema para
nós e para o nosso jovem. A gente não
vê, mas as pessoas dizem que estão
envolvidas na comunidade. Devido à falta
de acesso ao emprego. Há muito alunos que
estão se formando no ensino médio
e não tem acesso ao trabalho. Aí o
pessoal entra nesse problema de cocaína",
afirmou Esmeraldo Fernandes Basto, que atua como
conselheiro distrital da aldeia de Filadélfia,
no município de Benjamin Constant, a cerca
de 40 quilômetros de Tabatinga.
Odiléia Carneiro Januária,
também conselheira da aldeia de Filadélfia,
confirmou o envolvimento de jovens com as drogas.
"Uns meses atrás, o negócio estava
meio sério, mas agora já está
melhorando um pouco, porque nós demos uma
imprensada nos rapazes. Os índios que são
mais analfabetos estão querendo cair [nas
drogas], mas a gente está aí para
lutar junto com eles para não cair, para
não ser mulas. A gente fala: vamos ser honestos,
trabalhar na nossa rocinha, plantar nossa banana.
Por que se envolver e colocar a família em
risco?"
"Já vi índio
drogado de cocaína. Valente, deu no pai,
até que um dia eu meti paulada nele. É
até um sobrinho meu, mas agora já
acalmou. Quem cheira o negócio fica valente,
brabo, quer brigar e até matar. O vício
é pior que o álcool. Porque quem entra,
se não fizer esforço, não sai",
afirmou Odiléia.