19/03/2008
- No segundo dia do seminário “Impactos das
Mudanças Climáticas sobre Manaus e
a Bacia do Rio Negro”, especialista alerta para
o risco de se focar em preocupações
importadas ou hipóteses futuristas quando
o assunto é a influência das mudanças
climáticas na saúde humana. Para o
médico Ulisses Confaloniere, do Comitê
de Saúde do IPCC, o problema a ser debatido
é atual e localizado: a população
brasileira já é, em geral, muito doente.
A realidade nacional, alarmante, tende a piorar
com as alterações globais do clima.
As mudanças climáticas
agravarão problemas de saúde já
existentes. Eis a principal mensagem que o médico
Ulisses Confaloniere passou nesta quarta-feira (19)
às pessoas que acompanharam o segundo dia
do seminário “Impactos das Mudanças
Climáticas sobre Manaus e a Bacia do Rio
Negro”. O evento está sendo realizado na
capital amazonense pelo Instituto Sócioambiental
(ISA), com apoio da Secretaria Estadual de Meio
Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do
Amazonas (SDS) e pela Secretaria Municipal de Meio
Ambiente de Manaus (Semma).
“Há 300 milhões
de casos de malária por ano no mundo. Em
2007, a região do Alto Rio Negro teve 17,1
mil e Manaus, 34,1 mil, uma quantidade absurda”,
informou o médico. “As pessoas me perguntam
se, com as mudanças climáticas, a
malária chegará a São Paulo
ou se surgirá uma doença nova, desconhecida.
Temos que nos preocupar com o que já existe:
entre três e quatro milhões de pessoas
morrem por ano de diarréia. É essa
população pobre, assim como os 1,5
milhão de famílias da Amazônia
que dependem diretamente dos recursos naturais para
sobreviver, que estará mais vulnerável
aos efeitos das mudanças climáticas”,
ponderou.
Confaloniere fala com propriedade:
ele coordena o Comitê de Saúde do Painel
Intergovernamental de Mudanças Climáticas
(IPCC) – um órgão formado por cientistas
do mundo inteiro, que oferece subsídios para
as decisões tomadas no âmbito da Convenção
sobre Mudanças Climáticas da Organização
das Nações Unidas (ONU). Na avaliação
dele, a opinião pública brasileira
é erroneamente influenciada por preocupações
importadas do hemisfério Norte. “Nos trópicos,
o fator ambiental determinante na transmissão
de doenças é a chuva, não a
temperatura. Aqui já é quente durante
o ano inteiro. Se a temperatura média passar
de 24ºC para 27ºC, os transmissores da
dengue e da malária vão agradecer.
Mas, se continuar como está, eles também
gostarão”, brincou. “O aumento de 3ºC
na temperatura vai fazer um mosquito sair da África
e pousar na França? Essa é uma discussão
da Europa, não nossa”, sentenciou.
Alguns modelos climáticos
apontam que a Bacia do Rio Negro deverá ficar
mais seca entre 2050 e 2100, além de mais
sujeita a eventos extremos, como a seca de 2005.
Se isso acontecer, de acordo com Confaloniere, a
reprodução do mosquito da malária
pode ser prejudicada. “Nossos estudos mostram que
no início e no fim da estação
chuvosa, os casos de malária em geral aumentam,
porque há mais água empoçada,
ideal para reprodução do mosquito.
Durante a cheia, a água tende a lavar as
larvas. Já se a seca for muito forte, podem
sobrar poucos reservatórios para o mosquito
se reproduzir”, detalhou. Ele acrescentou, porém,
que a relação entre clima e doenças
tropicais é influenciada por outros fatores,
como as políticas de saúde e o uso
da terra. “Nas margens de igarapés com grande
ação humana, por exemplo, há
poças durante o ano inteiro”, afirmou o médico.
Em sua opinião, o grande desafio dos gestores
de saúde brasileiros é conseguir fazer
planejamentos de médio e longo prazo, diante
das urgências cotidianas do setor. “O Ministério
da Saúde ficou de fora do Comitê Interministerial
para Questão das Mudanças Climáticas,
criado pelo governo federal”, lamentou . “Eu posso
até imaginar o motivo. Ele tem que gerir
o SUS, a fila na porta do hospital. Vai conseguir
se preocupar com mudanças climáticas?
Não, ele vai se ocupar do paciente que quer
quebrar a porta do hospital porque sua mãe
morreu sem atendimento médico".
O quarto (e mais recente) relatório
do IPCC, divulgado no ano passado, reconheceu os
primeiros sinais de que as mudanças climáticas
globais estão afetando a saúde humana.
Os indícios, porém, vêm todos
do hemisfério Norte, onde há mais
recursos para pesquisas. Na Europa, houve disseminação
da encefalite para a Escandinávia, porque
a temperatura do continente aumentou em média
3ºC nos últimos 40 anos e o carrapato
causador da doença migrou para o país
nórdico. Outro sinal é a maior ocorrência
de alergias respiratórias, já que
a primavera européia está mais longa
e a concentração de pólen na
atmosfera é maior.
Entre os cerca de 100 participantes do seminário
- representantes governamentais, da iniciativa privada,
pesquisadores, integrantes de organizações
da sociedade civil e de movimentos sociais – a presença
de lideranças indígenas da Bacia do
Rio Negro é marcante. Com eles, além
de um olhar diferenciado sobre o tema das mudanças
climáticas, vêm lições
de uma relação de respeito entre ser
humano e a natureza. “Na nossa concepção,
não existe matéria sem vida. O deus
Tuyuka da criação afirmou `A Terra
é nossa mãe´. Na religião
cristã, o Criador disse ao homem ´dominai
a Terra e submetei tudo o que nela existe´”,
comparou Higino Tenório, líder Tuyuka
do Rio Tiquié.
Os povos do Alto Rio Negro relacionam
as variações anuais do clima a 12
constelações que revezam periodicamente
sua influência sobre a Terra. “Estamos pesquisando
por que a fartura de recursos naturais tem diminuído.
Nosso estudo é guiado pela astronomia”, contou
Aprígio Azevedo, também do Rio Tiquié,
do povo Tukano. Ele deu sua entrevista em Tukano
e foi traduzido por um colega do mesmo povo, Manuel
Azevedo.
As alterações relatadas
por Higino e por Aprígio coincidem com as
observadas pelo povo Baniwa, no rRio Içana.
“As mudanças climáticas entre nós
são evidentes, quando conversamos com os
mais velhos da comunidade. A piracema não
acontece mais no tempo devido, o que diminui o estoque
de peixe. Já a floração aumentou
de freqüência: a gente come a mesma fruta
várias vezes”, explicou Juvêncio Cardoso
Baniwa. Ele acrescentou que no Rio Içana
as comunidades estão elaborando planos de
manejo dos recursos pesqueiros, do cipó e
do arumã (fibra amazônica). “A gente
tem que se preparar. Se o rio secar muito, sem igapó,
não tem reprodução de peixe.
Então, como vai ser para nossos filhos?”,
pergunta o jovem Baniwa.
Sugestões para amenizar
os impactos na Bacia do Rio Negro
Divididos em grupos de trabalho,
os participantes analisaram mapas e estudos técnicos
a fim de apontar as áreas mais críticas
da região e discutir formas de reduzir os
efeitos do aquecimento global. O resultado dessa
integração será um documento
que vai propor, ao governo e à sociedade,
ações e políticas públicas
locais indispensáveis para a manutenção
da sociobiodiversidade da Amazônia.
No último dia do evento,
quinta-feira (20/3), serão realizadas mais
discussões entre os grupos de trabalho para
identificar as vulnerabilidades da Bacia do Rio
Negro frente às mudanças climáticas.
À tarde, as sugestões serão
consolidadas em plenária, para a produção
da agenda de recomendações, que será
divulgada no encerramento. Entre as medidas indicadas
estarão políticas de adaptação
dos ribeirinhos diante do impacto das mudanças
na navegabilidade do rio e no abastecimento das
cidades mais distantes, por exemplo.
+ Mais
Seminário sobre ensino
médio no Alto Rio Negro produz documento
e pede apoio aos órgãos públicos
20/03/2008 - Realizado na maloca
da Federação das Organizações
Indígenas do Rio Negro (Foirn), em São
Gabriel da Cachoeira, (AM) o evento buscou estruturar
um sistema de criação e fiscalização
de políticas públicas relacionadas
ao ensino médio indígena. Documento
final detalha as propostas.
Entre os objetivos principais
do seminário, realizado em São Gabriel
da Cachoeira, de 13 a 15 de março, estavam
dar visibilidade às idéias e projetos
de educação escolar desenvolvidos
pela Federação das Organizações
Indígenas do Rio Negro (Foirn) e seus parceiros
locais na busca de uma qualidade indígena
para o ensino escolar de nível médio;
conhecer os planos da Secretaria de Educação
do Amazonas (Seduc) para o ensino médio indígena
e pactuar metas entre todas as instituições
participantes com vistas à melhoria da qualidade
do ensino médio na região.
Participaram do encontro professores
indígenas, alunos, lideranças de associações
indígenas, técnicos em educação
escolar indígena da Secretaria Municipal
de Educação de São Gabriel
da Cachoeira (Semed), da Seduc, integrantes do Conselho
Estadual de Educação Escolar Indígena
do Amazonas, Escola Agrotécnica Federal de
São Gabriel, Fundação Estadual
de Políticas Indigenistas do Amazonas (Fepi),
Associação dos Professores Indígenas
do Alto Rio Negro (Apiarn) e Comissão dos
Professores Indígenas do Alto Rio Negro (Copiarn);
Instituto Socioambiental (ISA), Fundação
Oswaldo Cruz da Amazônia (Fiocruz/AM), Universidade
Estadual do Amazonas (UEA) e Universidade Federal
do Amazonas (Ufam), que são parceiros da
Foirn.
Na região do Alto Rio Negro
existem hoje cerca de 150 escolas municipais de
ensino fundamental completo, e oito escolas de ensino
médio Indígena. Parte destas escolas
são estaduais, enquanto outras estão
funcionando conjuntamente com as escolas municipais
de ensino fundamental. Saiba mais.
A proposta de criar um sistema
de Articulação e Assessoria Indígena
para assessorar e auxiliar a equipe da gerência
de Educação Indígena da Seduc
na implementação das políticas
públicas para o ensino médio foi considerada
muito boa e teve apoio da Fepi. O documento final
que resultou do seminário detalha o papel
e o compromisso de cada instituição
na melhoria da qualidade de educação
escolar indígena no nível médio.
+ Mais
Debate sobre efeitos das mudanças
climáticas inclui moradores de Manaus e da
Bacia do Rio Negro
18/03/2008 - As mudanças
climáticas vêm ganhando cada vez mais
destaque na pauta mundial, inclusive brasileira.
Muito tem sido discutido sobre as causas dos fenômenos
e as negociações internacionais que
o tema envolve, mas pouco se fala acerca de seus
efeitos sobre as populações. Encontro
que começou nessa terça-feira (18/03),
promovido pelo ISA, pretende debater alternativas
e sugerir recomendações para atenuar
as conseqüências do aquecimento global
sobre a região.
Na capital amazonense, nessa terça-feira
(18), cerca de 110 pessoas tomaram para si o desafio
de enfrentar o debate sobre como governo e sociedade
podem se preparar para lidar da forma menos traumática
possível com os efeitos das mudanças
climáticas globais. Eram representantes governamentais,
da iniciativa privada, pesquisadores, membros de
organizações da sociedade civil e
de movimentos sociais que participaram da abertura
do seminário “Impacto das Mudanças
Climáticas sobre Manaus e a Bacia do Rio
Negro”. O evento, que vai até quinta-feira
(dia 20), está sendo organizado pelo Instituto
Socioambiental (ISA), em parceria com a Secretaria
Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
do Amazonas (SDS) e com a Secretaria Municipal de
Meio Ambiente de Manaus (Semma).
“Hoje o tema das mudanças
climáticas é da sociedade, não
mais dos cientistas. Lidarmos melhor ou pior com
ele dependerá do nosso esforço em
conseguir envolver mais pessoas na discussão”,
afirmou Arnaldo Carneiro, pesquisador e consultor
do ISA. O coordenador da Iniciativa sobre Mudança
Climática do ISA, Márcio Santilli
concorda. “Manaus e a região da Bacia do
Rio Negro devem se preparar para os efeitos das
mudanças climáticas. Nossa atitude
não pode ser apenas contemplativa, diante
de acontecimentos tão graves. A população
deve estar informada e organizada não apenas
para reivindicar do governo as políticas
públicas necessárias, mas para que
ela própria contribua para evitar que os
impactos sejam tão danosos”.
Planejar-se diante de um cenário
de incertezas não é tarefa fácil,
o que torna essencial o diálogo entre os
diferentes setores reunidos no seminário.
Os cientistas concordam que a temperatura da Amazônia
deve aumentar entre 3ºC e 9ºC até
2100, mas nem todos os modelos climáticos
projetam estiagem na região. É certo,
também, que eventos extremos (como a seca
de 2005) devem se tornar mais intensos, mas não
há unanimidade em torno da maior freqüência
deles. “Temos que correr o risco de trabalhar com
achismos, não podemos é ficar de braços
cruzados”, defendeu Carneiro. “Os modelos de projeção
climática têm suas deficiências,
mas são a única ferramenta que nós
temos para essa avaliação”, sintetizou
Antônio Manzi, gerente executivo do Experimento
de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia
(LBA), um grande projeto que pesquisa o funcionamento
da floresta e sua relação com as mudanças
do uso da terra e do clima.
Riscos para a Bacia do Rio Negro
A rica sociodiversidade da Bacia
do Rio Negro, espalhada pelos seus 72 milhões
de hectares, pode estar em perigo. Caso as previsões
mais severas de aumento da temperatura e da seca
se confirmem, deve ficar difícil encontrar
peixe nos rios de águas pretas e, principalmente,
piaçaba nas suas margens, já que essa
palmeira endêmica da região - muito
utilizada no extrativismo - corre risco de extinção.
“A Bacia do Rio Negro tem índices pequenos
de desmatamento. A Amazônia como um todo,
em geral, é muito mais vítima do que
agente causador das mudanças climáticas
globais”, disse Manzi.
O pesquisador do Instituto Nacional
de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Charles Clement,
estudou os efeitos das mudanças climáticas
sobre palmeiras de uso econômico, como a piaçaba.
Ele alertou que, para minimizar os impactos nocivos
previstos, o homem precisará ocupar um lugar
mais ativo na gestão ambiental: “A população
do Rio Negro deverá manejar as palmeiras
mais intensamente, inclusive plantando espécies.
Se morre a pupunha do Alto Rio Negro, por exemplo,
provavelmente sobrevive a de Santarém (local
mais seco e com maior estiagem). Então, pode-se
pegar essa pupunha mais resistente e plantar no
Alto Rio Negro”.
Outro pesquisador do Inpa, Jansen
Zuanon, alertou que eventos climáticos extremos
constantes podem diminuir o estoque pesqueiro da
Bacia do Rio Negro, já naturalmente baixo.
“Se temos secas seguidas, a espécie não
tem tempo de equilibrar seu ciclo de reprodução.
Soma-se a isso a própria ação
humana, já que a reação imediata
do pescador diante da estiagem é de euforia,
pois a captura do pescado se torna mais fácil”,
explicou.
A fauna de peixes de água
doce da Amazônia é a maior do planeta,
com pelo menos 3 mil espécies já identificadas.
O consumo médio diário de pescado
na região é estimado em 600 gramas
por pessoa. São comercializados, por ano,
cerca de 173 mil toneladas de pescado – mas menos
de 4% delas vêm da Bacia do Rio Negro, onde
o destaque é a pesca ornamental, voltada
à exportação. “Se começa
a faltar peixe na região como um todo, os
moradores do Alto Rio Negro, por exemplo, serão
os mais afetados. Porque lá, naturalmente,
o pescado já é escasso. E o que resistir
deverá ser trazido para Manaus, onde o poder
aquisitivo dos consumidores é maior”, ponderou
Zuanon.
Outra questão crucial levantada
durante as discussões do seminário
foi a necessidade de mais pesquisas de campo sobre
a Bacia do Rio Negro. “Faltam dados de base. Temos
uma bacia hidrográfica singular e um programa
de estudos fluviais paupérrimo. Por isso,
continuamos a importar conceitos que não
funcionam aqui”, lamentou o pesquisador da Universidade
Nacional de La Plata, na Argentina, Edgardo Latrubesse.
De acordo com ele, os modelos teóricos atualmente
disponíveis para previsão dos impactos
das mudanças climáticas em bacias
hidrográficas não servem para rios
grandes, como os amazônicos.
Olhar para áreas urbanas
Manaus, com seus quase 1,8 milhão
de habitantes, concentra 60% da população
do Amazonas. O ISA e a prefeitura uniram esforços
na elaboração de mapas temáticos
que dissecam os 377 km2 de área urbana da
capital amazonense: eles indicam pontos de atenção
nesse território, nos quais - caso nada seja
feito para impedir - os impactos das mudanças
climáticas globais podem ser desastrosos.
“Discute-se muito as conseqüências das
mudanças climáticas para a floresta,
mas tem-se dado pouca atenção para
a área urbana, onde vive a maior parte da
população da Amazônia”, observou
a secretária municipal de Meio Ambiente,
Luciana Valente. Ela contou algumas ações
que a prefeitura de Manaus estuda para diminuir
os efeitos dessas mudanças negativas. “Nossa
2ª Conferência Municipal de Meio Ambiente,
realizada em fevereiro, teve as mudanças
climáticas como eixo”, disse. “Das ações
aprovadas como prioridade, temos a identificação
de remanescentes florestais a serem protegidos no
perímetro urbano; a elaboração
de um plano de arborização da cidade,
que vem sendo discutido desde 2006; o envio para
a Câmara Municipal, ainda neste ano, de um
projeto de lei instituindo o Programa Municipal
de Inspeção Veicular; e atividades
de educação ambiental”, detalhou a
secretária.
Remuneração dos
serviços ambientais
O programa Bolsa Floresta, lançado
no ano passado pelo governo do Amazonas, foi lembrado
no seminário pelo consultor do Centro Estadual
de Mudanças Climáticas, ligado à
SDS, Carlos Rittl. “Temos duas mil famílias
cadastradas, que já começaram a receber
os R$ 50 mensais como incentivo à conservação.
Até o fim do ano, elas devem chegar a 8 mil,
cobrindo a maioria dos moradores de unidades de
conservação do estado. A partir daí,
a intenção é expandir o programa
para além das áreas protegidas. A
meta do governador é que até 2010
o Bolsa Floresta atenda 60 mil famílias”,
contou Rittl. Além da modalidade familiar,
o programa tem duas outras linhas, ainda não
implementadas: um pagamento às associações
de moradores (10% do valor total recebido pelas
famílias da localidade) e um recurso de R$
4 mil para investimentos comunitários.
Manter a floresta em pé,
nas atuais regras do Protocolo de Kyoto, não
gera Reduções Certificadas de Emissão
(RCEs, popularmente conhecidas como créditos
de carbono). No entanto, os debates internacionais
em torno da remuneração dos chamados
"serviços ambientais prestados pelas
comunidades tradicionais e indígenas"
estão cada vez mais intensos. Como parte
da Lei Estadual de Mudanças Climáticas,
Conservação Ambiental e Desenvolvimento
Sustentável, além do programa Bolsa
Floresta, o governo do Amazonas apoiou a criação
da Fundação Amazônia Sustentável,
de caráter público (sobre a qual ele
detém 25% do controle). “Essa fundação
administra um fundo no qual o governo depositou
R$ 20 milhões e o Banco Bradesco outros R$
20 milhões, comprometendo-se a doar mais
R$ 50 milhões divididos em cinco parcelas
iguais, durante cinco anos”, disse Rittl. Ele acrescentou
que a expectativa é que esse fundo alcance
R$ 300 milhões, para que seus rendimentos
bancários possam financiar outras iniciativas
semelhantes ao Bolsa Floresta.
O pacto em prática
“O ISA participou no ano passado,
com outras ONGs, da elaboração da
proposta do Pacto Nacional pela Valorização
da Floresta e pelo Fim do Desmatamento na Amazônia,
que passava pela remuneração dos serviços
ambientais. Temos que ir além das ações
de fiscalização e controle”, lembrou
Santilli. Ele acrescentou que dar valor econômico
à natureza conservada é um desafio
importante, mas não suficiente. “Precisamos
que essas iniciativas sejam somadas a outras políticas
públicas”.
A secretária municipal
de Meio Ambiente adiantou que a prefeitura de Manaus
também pretende fazer uso do chamado mercado
de carbono para financiar políticas ambientais.
“Estamos estudando um projeto no aterro sanitário
da cidade, que faça a coleta do metano liberado
pelo lixo em decomposição”, contou
Luciana Valente.
O metano é um gás
de efeito estufa com potencial de aquecimento 21
vezes superior ao do gás carbônico.
O primeiro projeto registrado no Conselho Executivo
do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), dentro
regras do Protocolo de Kyoto, é brasileiro:
o Novagerar, que trabalha justamente com a canalização
e incineração do metano gerado pelo
aterro sanitário de Nova Iguaçu (RJ).