18 de
Março de 2008 - Vladimir Platonow - Enviado
especial - Valter Campanato/Abr - Terra Indígena
Tukuna Umariaçu - O cacique Manoel Nery Tikuna
fala à reportagem da EBC. Ele chefia uma
das aldeias do povo Tikuna
Terra Indígena Tukuna Umariaçu (AM)
- O consumo de cachaça e cocaína está
aumentando a violência entre jovens, diz o
cacique Manoel Nery Tikuna, que chefia a Aldeia
Umariaçu 2, no município amazonense
de Tabatinga. Segundo ele, os jovens agora se dividem
em grupos, formando gangues dentro da aldeia e partindo
para a briga.
"Alguém entrou com
esse produto [cocaína] e falou para o que
servia", diz o líder tikuna, em entrevista
à Agência Brasil e à TV Brasil.
“Aí, quem comprou e experimentou, já
foi levando para outro colega para prejudicar. Daí
é que vem a violência. Se matam e brigam
entre eles. Usam pau, espingarda, garrafa, pedra.
É um problema muito sério."
O cacique diz que os grupos atuam
contra os outros. “Se a pessoa não corre,
vão para cortar, para matar”, relata. “Nós
perdemos dois rapazes assim. Jogaram no igarapé
e o corpo ficou boiando."
O efeito da entrada de drogas
na Umariaçu 2 repercute nas relações
familiares e nem a família do cacique escapa.
"Está trazendo muito sofrimento. Muito
mesmo”, diz Manoel Nery. “Um dos meus seis filhos
está querendo entrar [nas drogas], mas eu
falei muito com ele e agora está um pouco
afastado. Outro filho levou uma facada nas costas,
como vingança contra mim, porque eu falo
contra as drogas."
Segundo o cacique, os jovens
da aldeia compram bebida alcoólica e colocam
o pó da droga dentro, o que provoca efeitos
imediatos e mudanças radicais de comportamento.
"O pensamento mudou e não respeitam
mais ninguém. Cheiram cola, também
cheiram gasolina", comenta.
Para o cacique, a atuação
da Fundação Nacional do Índio
(Funai), responsável pelas políticas
públicas para os indígenas em todo
o país, está longe do necessário
para resolver a situação: "A
Funai não faz nada. Só o que faz é
demarcar área junto com o governo federal
e fazer a fiscalização."
O chefe da aldeia diz que já
foi até à Polícia Federal (PF)
para denunciar a situação na aldeia,
mas não conseguiu ajuda. "Falei com
o delegado Eduardo [Primo], na Funai, e ele disse
que a Polícia Federal não estava no
município para prender quem bebe cachaça",
conta. A assessoria de imprensa da PF informou que
um dos dois delegados que poderia falar sobre o
assunto estava em missão, e o outro, em Manaus.
Marcou entrevista para amanhã (19).
Para Manoel Nery Tikuna,
o que leva os jovens ao uso de álcool e drogas
e a se envolver em brigas violentas é a falta
de perspectiva de futuro, depois que terminam o
ensino médio, oferecido na aldeia: "Eles
concluem o ensino médio e não têm
profissão, não têm trabalho
nenhum. Não têm ajuda dos políticos
para estudar fora, na capital ou em outro país.
Não têm bolsa na universidade. Então
a gente está sem caminho, enquanto a comunidade
está sofrendo".