24/03/2008
- A indústria sucroalcooleira vem apresentando
crescimento expressivo, com a multiplicação
das usinas em funcionamento no Estado, que passaram
de 70 para cerca de 160 em um espaço de tempo
relativamente curto. Com base nas estimativas de
produção, este ano o setor vai gerar
120 bilhões de litros de vinhaça,
como subproduto da produção de 11
bilhões de litros do álcool. A ampliação
do cultivo da cana em todo o Estado e o crescimento
da produção do setor motivaram o desenvolvimento
do trabalho coordenado pelo Projeto de Pesquisas
Ambientais, que visa a avaliação dos
impactos da atividade sucroalcooleira sobre os recursos
hídricos superficiais e subterrâneos,
apresentado no último dia 19/03, na segunda
reunião do Conselho Científico, integrado
por pesquisadores das instituições
vinculadas à Secretaria Estadual do Meio
Ambiente e de outras entidades de pesquisa que têm
interface com as questões ambientais.
Presente à reunião,
o secretário estadual do Meio Ambiente, Xico
Graziano fez uma estimativa rápida, com base
na exposição de Dorothy Casarini,
gerente da Divisão de Qualidade de Solo,
Água Subterrânea e Vegetação
da CETESB, indicando que a proporção
da geração de vinhaça em relação
à cana equivale a 300 ml por m2, o que ele
considerou como uma situação ainda
confortável para a sua utilização
como fertilizante na própria lavoura.
O secretário do Meio Ambiente
destacou, porém, que o trabalho pode contribuir
para as políticas públicas que tenham
como objetivo reduzir o impacto ambiental das atividades
produtivas da indústria de açúcar
e álcool. Ele lembrou dos outros projetos
que envolvem o setor sucroalcooleiro, como o Etanol
Verde e o Projeto de Recuperação das
Matas Ciliares, sugerindo que os efeitos da revegetação
das margens dos corpos de água nas áreas
canavieiras também sejam avaliados pela pesquisa,
verificando se contribuem para a qualidade dos recursos
hídricos.
Segundo Vera Bonomi, coordenadora
do Projeto de Pesquisas Ambientais, o estudo é
um projeto conjunto do Instituto de Botânica,
Instituto Geológico e CETESB, vinculados
à SMA, além do Instituto de Pesca
e o Instituto de Geociências da USP, e está
aberto a contribuições de outras entidades
interessadas em ampliar os conhecimentos sobre os
impactos ainda não conhecidos da indústria
sucroalcooleira.
A reunião contou também
com a exposição de Dácio Matheus,
diretor do Jardim Botânico, que apresentou
os objetivos do projeto de pesquisa, e de Roberta
Buendia, da Assessoria do Gabinete da Secretaria
do Meio Ambiente, que fez um balanço dos
21 Projetos Ambientais Estratégicos.
Dados Apresentados
Ao fazer a apresentação
dos dados relativos aos impactos já conhecidos
e os procedimentos que o estudo pretende implementar
nos próximos 3 anos, Dorothy Casarini destacou
que a tarefa dos órgãos ambientais
é permitir que a atividade produtiva ocorra
sem causar impacto ambiental, reconhecendo que até
agora não se tem o controle do que está
atingindo as águas subterrâneas e superficiais
e é isso que o projeto pretende equacionar.
Além do uso da vinhaça
sem controle adequado, a gerente da CETESB listou
como fontes de poluição do solo e
águas o manuseio e uso inadequado de agrotóxicos,
o armazenamento e disposição inadequados
dos efluentes líquidos e dos resíduos
sólidos. Dorothy detalhou os tipos de efluentes
líquidos gerados no processo produtivo da
indústria sucroalcooleira, origem, composição
e destinação final, fazendo também
uma retrospectiva histórica do tratamento
dado aos resíduos de produção.
Segundo ela, na década
de 70 o principal destino da vinhaça era
o lançamento “in natura” em corpos d’água,
causando a mortandade de peixes. Em razão
desse impacto mais visível, a disposição
passou a ser efetuada no solo, em muitos casos sem
critérios definidos, prática que passou
a ser questionada a partir de estudos realizados
na década seguinte, comprovando os impactos
na qualidade do solo e das águas subterrâneas.
As mesmas pesquisas indicaram, porém, que
a vinhaça possui benefícios agronômicos
e econômicos, o que resultou no interesse
em efetuar a sua aplicação, com base
em critérios de fertilidade e do custo do
transporte.
Entre os desafios a serem enfrentados,
Dorothy incluiu a necessidade de se rever o controle
dos resíduos sólidos e líquidos,
estabelecer a caracterização química
desses resíduos e levantar as informações
sobre os efeitos de sua disposição
na qualidade das águas, diante do crescimento
da produção do açúcar
e do álcool, assim como da área plantada.
Dácio Matheus, do Jardim
Botânico, informou que a Bacia do Piracicaba-Capivari-Jundiaí
foi escolhida como a área para a implementação
do projeto. Ao explicar os procedimentos que deverão
ser adotados na avaliação do impacto
da atividade sucroalcooleira nos recursos hídricos,
destacou a necessidade de padronizar as metodologias
analíticas e de integrar os dados de monitoramento
de qualidade das águas, realizados por diferentes
instituições.
Segundo o diretor do Jardim
Botânico, a padronização deve
ser realizada ainda este ano, quando também
serão estabelecidas as áreas e pontos
para coletas de amostras de indicadores do impacto,
realizados os levantamentos do uso e destino de
agroquímicos na região escolhida,
assim como a instalação de poços
de monitoramento em área com cultivo de cana
e em área ainda não plantada. A coleta
de amostras e a realização das análises
continuam em 2009 e a previsão é que
a avaliação esteja concluída
em 2010, quando seus resultados serão publicados
e divulgados.
Texto: Eli Serenza
Fotos: José Jorge