(04/04/2008)
Uma missão formada por representantes da
Ordem dos Engenheiros de Angola esteve esta semana,
no Estado do Ceará para conhecer os projetos
de contenção de dunas que estão
sendo desenvolvidos pela Embrapa Agroindústria
Tropical e pela Universidade Federal do Ceará.
Segundo o presidente da Ordem
dos Engenheiros, Dr. José Dias, Angola enfrenta
sérios problemas com o avanço das
dunas em áreas urbanas, principalmente na
província do Namibe.
“A nossa particularidade é
que a areia não procede do nosso litoral,
mas sim das áreas desérticas da região”,
explica. Por conta disto, a missão veio conhecer
os trabalhos que utilizam subprodutos do coqueiro
para a contenção do avanço
das dunas, causado principalmente pelo vento.
Convênio com prefeitura
A Embrapa Agroindústria Tropical assinou
convênio com a Prefeitura de Fortaleza, com
o objetivo de utilizar mantas geotêxteis -
feitas a partir da fibra da casca do coco verde
- para impedir a invasão da areia sobre as
casas do Bairro do Serviluz.
Para se ter uma idéia do
problema enfrentado pela comunidade, o volume anual
é de cerca de 62m³ de areia por metro
de praia, o que equivale a 10 caçambas de
caminhão cheias. A invasão das dunas
nas casas do Bairro também significa uma
despesa de R$ 600 mil anuais para a Prefeitura,
que atualmente utiliza tratores para a retirada
da areia.
O projeto desenvolvido pelos pesquisadores
e técnicos da Embrapa visa impedir a invasão
das dunas de uma forma definitiva, a partir da instalação
de cercas verticais de contenção,
feitas a partir das mantas.
Essas mantas vão barrar
a ação do vento, evitando que as partículas
de areia invadam a casa dos moradores do Bairro
do Serviluz. As mantas também serão
utilizadas como cobertura horizontal para a plantação
de espécies adaptadas ao ambiente, como cactáceas,
fruteiras e herbáceas, além de canteiros
com diferentes espécies de plantas medicinais.
Plantas medicinais
De acordo com o líder do
projeto, pesquisador João Alencar, a idéia
é que esta vegetação seja a
responsável pela contenção
definitiva da areia. “As plantas medicinais poderão
ser utilizadas como matéria-prima para a
produção de fitoterápicos,
o que vai gerar renda para a população
local, além de melhorar o acesso à
saúde”, analisa.
Alencar também vê
outras vantagens no modelo a ser utilizado no bairro,
como o baixo custo, o menor risco de depredação,
a resistência à maresia, a facilidade
de instalação, além de ser
um material reciclável e biodegradável.
Durante a visita ao local onde
o experimento será instalado, os engenheiros
de Angola elogiaram o alcance social do projeto,
que tem um forte envolvimento da comunidade.
Ela será a responsável
pelo manejo dos recursos vegetais que farão
parte do projeto. O sistema de irrigação
que vai alimentar as espécies plantadas já
está sendo instalado e a colocação
das mantas deve ocorrer na segunda semana de abril.
O projeto tem previsão
de 36 meses e vai incluir assessoria técnica
para o manejo das espécies e capacitação
dos moradores para a manutenção do
pomar e do horto medicinal.
Outras iniciativas
A Universidade Federal do Ceará
(UFC) já vem trabalhando em alguns municípios
da costa cearense, também com o objetivo
de impedir o avanço das dunas nas áreas
urbanas.
Uma das experiências é
em Paracuru, a 90km de Fortaleza. De acordo com
o professor do Departamento de Geografia da UFC,
Jeovah Meireles, desde a década de 11000
que funciona o trabalho de utilização
de palhas de coqueiro e telas de nylon para a contenção
do avanço das dunas na área urbana
do município.
“As telas também funcionam
como guias eólicos, redirecionando o vento
para barrar o transporte de areia para as casas”,
explica. O mesmo trabalho também é
desenvolvido no Pecém, a 80km de Fortaleza.
Teresa Ferreira Barroso