O estudo,
realizado na Estação Ecológica
Serra Geral do Tocantins, é o mais amplo
já produzido na região do Cerrado;
ao menos 440 espécies de vertebrados, sendo
pelo menos 14 delas prováveis novas espécies,
foram registradas e mapeadas.
Palmas, 03 de abril de 2008 —
Durante 29 dias, 26 pesquisadores da Universidade
de São Paulo, do Museu de Zoologia da Universidade
de São Paulo, da Universidade Federal de
São Carlos, da Universidade Federal do Tocantins
e da ONG Conservação Internacional
(CI-Brasil) participaram de uma expedição
de campo na Estação Ecológica
Serra Geral do Tocantins (EESGT) para fazer o levantamento
e mapeamento das espécies de vertebrados
da reserva. A expedição é parte
de um projeto financiado pela Fundação
O Boticário de Conservação
da Natureza, com o apoio da ONG Pequi - Pesquisa
e Conservação do Cerrado, e representa
o maior levantamento de espécies de vertebrados
já conduzido em uma região de Cerrado.
Os pesquisadores registraram pelo
menos 440 espécies de vertebrados, incluindo
259 aves, 61 mamíferos, 52 répteis,
40 anfíbios e 30 peixes. Segundo o coordenador
da expedição, o biólogo Cristiano
Nogueira, do Programa Cerrado-Pantanal da CI-Brasil,
pelo menos 14 prováveis novas espécies
de vertebrados (oito peixes, três répteis,
um anfíbio, um mamífero e uma ave)
foram encontradas. Foram também obtidos vários
registros de espécies ameaçadas, como
a arara azul grande, a suçuapara, o tatu-bola,
o pato-mergulhão e o inhambu carapé.
Os pesquisadores registraram ainda espécies
endêmicas do Cerrado, ou seja, aquelas que
só são encontradas na região,
e coletaram dados que demonstram a ampliação
da distribuição de espécies
nunca antes encontradas no Jalapão.
Nogueira explica que os pesquisadores,
divididos em grupos e turnos de trabalho de acordo
com o grupo de vertebrados estudado, coletaram dados
em mais de 20 localidades da EESGT e de seu entorno,
nos estados da Bahia e do Tocantins. Dessa forma,
puderam amostrar as principais unidades de paisagem
da região, caracterizada pelo contato entre
o planalto da Serra Geral e as planícies
da bacia do Tocantins. “Foram obtidos dados inéditos
sobre a riqueza, a abundância e a distribuição
da fauna de uma das mais extensas, complexas e desconhecidas
regiões do Cerrado”, diz Nogueira. “Os novos
dados geram uma visão melhor da riqueza de
espécies da maior estação ecológica
do Cerrado, cuja fauna ainda era pouco estudada”,
afirma. “Algumas das espécies registradas,
com distribuição restrita à
região da estação ecológica,
dependem do bom manejo na área protegida
e seu entorno imediato”, completa.
A EESGT, a segunda maior unidade
de conservação do Cerrado, com 716
mil hectares, é uma área prioritária
para a conservação da biodiversidade
brasileira, explica Luís Fábio Silveira,
do departamento de Zoologia da Universidade de São
Paulo. “Esse tipo de levantamento é imprescindível
para aumentar nosso conhecimento básico sobre
a biologia das espécies. A partir dele podemos
obter dados sobre a anatomia, a biologia reprodutiva,
o ciclo de vida e a alimentação das
espécies, o que nos auxilia em futuros programas
de conservação”, afirma.
Histórico - As únicas
pesquisas prévias na estação
ecológica foram conduzidas em 2002 pelos
biólogos Cristiano Nogueira e Ana Paula Carmignotto,
que incluíram a região da reserva
em estudos de doutorado sobre répteis e pequenos
mamíferos do Cerrado. “É gratificante
poder retornar e dar continuidade aos estudos, expandindo
a amostragem para todos os grupos de vertebrados
e para porções desconhecidas da estação
ecológica”, diz Nogueira. Até mesmo
no grupo dos lagartos, relativamente bem conhecido
devido às amostragens recentes na região
do Jalapão e no Cerrado, foram encontradas
espécies desconhecidas e novos registros
de distribuição. Uma espécie
de lagarto recém-descrita por membros da
equipe e conhecida de poucas regiões do Cerrado
foi encontrada, por exemplo, na porção
mais ameaçada da unidade, no planalto da
Serra Geral na Bahia.
Apesar de ter sido concluída
boa parte do trabalho de campo, o trabalho não
termina aqui. Começa agora a fase de análise
meticulosa dos dados e comparação
do material obtido, que irá gerar os resultados
finais do estudo. As informações coletadas
estão sendo consolidadas pela equipe de pesquisadores
que participaram do levantamento. Os resultados
finais obtidos serão consolidados em publicações
científicas (incluindo a descrição
formal de novas espécies), em comunicações
em congressos e em relatórios técnicos,
que serão utilizados como subsídios
para a elaboração do plano de manejo
da estação ecológica, criada
em 2001, e ainda em fase de implantação.
“É preciso conhecer melhor nossas áreas
protegidas, especialmente as estações
ecológicas, cujo objetivo principal é
gerar conhecimento científico sobre a biodiversidade
brasileira, tão pouco estudada e já
severamente ameaçada. Infelizmente, áreas
extensas de Cerrado, como a EESGT, estão
cada vez mais raras, o que torna os dados reunidos
ainda mais relevantes. Antes de tudo, é preciso
conhecer para conservar”, conclui Nogueira.
Conservação Internacional
(CI)
A Conservação Internacional (CI) é
uma organização privada, sem fins
lucrativos, de caráter técnico-científico
dedicada à conservação e uso
sustentado da biodiversidade. A CI desenvolve estratégias
multidisciplinares, com embasamentos científicos,
que promovam a conservação de biodiversidade
e o desenvolvimento de alternativas econômicas
sustentáveis, compatíveis com a proteção
dos ecossistemas naturais. Desde 11000 o Programa
do Brasil se transformou em uma entidade nacional
autônoma, com a denominação
de CI-Brasil. Em todos os seus projetos, a CI-Brasil
busca atingir três resultados concretos: evitar
a extinção de espécies; criar
e apoiar a implementação de unidades
de conservação; integrar os vários
usos dos recursos naturais em Corredores de Biodiversidade.
Para mais informações, acesse www.conservacao.org.