20 de
Abril de 2008 - Mylena Fiori - Enviada especial
- Valter Campanato/Abr - Acra (Gana) - O presidente
Luiz Inácio Lula da Silva fala durante inauguração
do Escritório da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa) na África
Acra (Gana) - O presidente Luiz Inácio Lula
da Silva disse hoje (20) que está aberto
a discussões sobre os biocombustíveis,
desde que sem preconceito e "ideologismos",
olhando-os como alternativa de desenvolvimento para
os países mais pobres em vez de culpá-los
pela alta nos preços mundiais dos alimentos.
A afirmação foi feita durante a inauguração
do Escritório da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa África) em Gana.
Ele admitiu que nunca pensou que
o programa brasileiro de produção
de bioenergia sofreria tanta resistência mundial.
As críticas se intensificaram com a elevação
dos preços mundiais dos alimentos - 45% apenas
nos últimos nove meses.
"Quando lançamos a
proposta de produzir biodiesel no Brasil, eu imaginava
que não iríamos ter muitos adversários
no mundo desenvolvido. Afinal de contas, todo o
mundo está de acordo que é preciso
diminuir o aquecimento do planeta Terra, de que
é necessário diminuir a emissão
de CO2 [gás carbônico]. Por isso, foi
assinado o Protocolo de Quioto, por todas as nações
desenvolvidas do mundo", discursou o presidente,
acusando os países ricos de não cumprir
sua parte no acordo.
"É importante que as pessoas percebam
que o etanol e o biodiesel são possibilidades
concretas e objetivas de que o Brasil detém
tecnologia de produzir combustível, diminuir
a emissão de CO2 e gerar milhões de
empregos no mundo todo", completou.
Lula disse ainda que toda vez
que está na Europa e ocorrem as críticas,
manda os seus oponentes olharem o mapa mundi e perceber
aonde é que tem terra para plantar: "Não
olhem para o seu próprio território,
olhem para o território africano, olhem para
o Brasil, para a América do Sul, para a América
Latina e Caribe, olhem para alguns países
que não tiveram chances no século
20".
Ele também defendeu a produção
de alimentos nos países em desenvolvimento,
como forma de garantir abastecimento mundial. "O
mundo está a pedir, e nós, países
que éramos chamados do "terceiro mundo"
estamos dispostos a atender", defendeu, frisando
que, para isso, é necessário que os
países ricos abram mão do apoio financeiro
concedido aos seus agricultores e abram seus mercados
para os produtos agrícolas dos países
pobres.
O argumento foi retomado em outro
discurso, mais tarde, na abertura da 12ª Conferência
das Nações Unidas para o Comércio
e o Desenvolvimento (Unctad).
A transferência de tecnologia
também é essencial, na avaliação
do presidente, para que os países mais pobres
possam produzir os alimentos para atender à
demanda do resto do mundo. É justamente para
isso que o Brasil decidiu levar os conhecimentos
da Embrapa sobre agricultura tropical para a África.
De acordo com Lula, desde que
a empresa se instalou em Acra, há pouco mais
de um ano, 17 países africanos foram visitados
pelos seus técnicos e outros 13 países
receberam assistência a distância. "Dessas
missões, vão surgindo projetos para
melhorar a produção africana de mandioca,
arroz, feijão e soja", disse o presidente.
Ele lembrou que o clima do cerrado brasileiro é
muito parecido com o das savanas africanas e que
se as condições de terra também
forem semelhantes, a tecnologia da Embrapa poderá
levar a uma "revolução verde"
na África.
"Daqui a alguns anos, a África
deixará de ser vista pelo mundo como um continente
pobre, onde as pessoas passam fome, e passará
a ser um continente verde, produtor de comida, para
saciar não apenas a fome do povo africano,
mas para saciar a fome daqueles que já não
têm mais terra para plantar e querem comer",
afirmou.
O escritorio definitivo da Embrapa,
inaugurado neste domingo, fica no campus do Conselho
de Pesquisa Científica Industrial (CSIR)
e foi doado pelo governo ganense.
Durante a cerimônia de inauguração,
o presidente do conselho, E.S. Ayensu, disse que
a presença da Embrapa em território
africano é a primeira manifestação
física da tão falada cooperação
Sul-Sul
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Biocombustível “está
longe” de competir com alimentos, diz empresário
de biodiesel
17 de Abril de 2008 - Luana Lourenço
- Repórter da Agência Brasil - Brasília
- A competição entre biocombustíveis
e alimentos por áreas agricultáveis
não faz parte da realidade brasileira e não
fará por muito tempo, de acordo com a avaliação
do diretor da União Brasileira de Biodiesel,
Sérgio Beltrão.
“Estamos muito longe disso acontecer.
Pela imensa área agrícola disponível
para plantio, podemos atender tanto o mercado alimentar
quanto o de biocombustíveis sem o menor problema”,
afirmou em entrevista à Rádio Nacional.
Beltrão disse que é
preciso diferenciar as condições de
produção de biocombustíveis
no Brasil e em outros países, onde pode haver
mais vulnerabilidade à competição
com o cultivo de genêros alimentícios.
“O Brasil ainda é uma das
últimas fronteiras agrícolas do mundo,
a produção de alimentos e a de biocombustíveis
podem conviver sem uma concorrência entre
eles que afete principalmente o setor alimentar”,
defendeu.
Ao longo da semana, o embate foi
tema da 30ª Conferência da Organização
das Nações Unidas para Agricultura
e Alimentação (FAO). Ao participar
do evento ontem (16), o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva rebateu as afirmações
do relator especial da Organização
das Nações Unidas para o Direito à
Alimentação, Jean Ziegler, que classificou
a produção em massa de biocombustíveis
como um “crime contra a humanidade”.