O leão
do desmatamento acordou - e está com fome
de Amazônia
30 de Abril de 2008 Para o governo
do MT, isso não é desmatamento. Mas
esta área, em Marcelândia, no Mato
Grosso, está condenada: vai virar pasto ou
plantação.
Manaus (AM), Brasil — Derrubada da floresta volta
a crescer no primeiro trimestre, ameaçando
tendência de queda apresentada nos últimos
três anos.
Acabam de sair do forno novos
dados que mostram a retomada do ritmo brutal do
desmatamento da Amazônia. Desta vez foi o
Imazon, ONG com sede em Belém, que divulgou
nesta quarta-feira dados de seu Sistema de Alerta
do Desmatamento (SAD) para os três primeiros
meses do ano nos estados do Pará e Mato Grosso.
Somados, os dois estados tiveram um desmatamento
de 214 quilômetros quadrados, o triplo do
mesmo período do ano passado.
O Imazon confirmou o que o Greenpeace
vem observando em seus sobrevôos periódicos
sobre a região, amparados em imagens de satélite:
as motosserras que devastam a Amazônia estão
com fome até mesmo em meses de chuva, período
em que tradicionalmente a derrubada de florestas
é bem menor, e não se intimidaram
com as medidas de repressão anunciadas pelo
governo federal em janeiro deste ano.
“Tanto os dados do Imazon como
os apresentados pelo sistema Deter, do Inpe, há
uma semana, mostram que o desmatamento neste primeiro
trimestre está em níveis alarmantes”,
disse Paulo Adario, coordenador da campanha da Amazônia,
do Greenpeace.
Os dois institutos – o Inpe (do
governo), e o Instituto do Homem e Meio Ambiente
da Amazônia (Imazon), ONG com sede em Belém
– monitoram o desmatamento mensal no Brasil através
da análise de imagens de satélite.
Tanto o SAD, do Imazon, quanto o Deter, do Inpe,
são sistemas ágeis, que utilizam imagens
de satélite de baixa resolução
e fornecem dados freqüentes sobre a cobertura
vegetal da região.
Segundo Adario, os próximos
meses – maio, junho e julho – são críticos,
já que é este é o perído
de maior destruição da floresta.
“Lamentavelmente, é praticamente
certo de que o desmatamento acumulado de 2007/2008
será maior do que no período anterior,
interrompendo a queda de três anos seguidos.
Isso é ruim para a imagem do governo federal,
péssimo para a floresta e suas populações
tradicionais e terrível para o clima”.
A comparação entre
os dados do Inpe/Deter e Imazon/SAD mostram discrepâncias:
os dados do Imazon para o Pará são
maiores do que os do governo federal, enquanto que
para o Mato Grosso os números da ONG são
bem menores do que os do Inpe. Isso deve ter ocorrido
por conta da metodologia empregada por cada um dos
institutos e eventualmente por seleção
de imaqens de satélite diferentes.
O monitoramento aéreo do
desmatamento feito pelo Greenpeace vem documentando
grandes áreas de florestas queimadas e degradadas,
que perderam sua função ecológica.
Muitas delas já estão incorporadas
ao processo produtivo – e abrigam gado por entre
as árvores mortas. Essas áreas passaram
recentemente a ser incluídas pelo Deter em
sua análise mensal de desmatamento. Já
o Imazon considera apenas o corte raso.
Segundo o Greenpeace, a questão
não é discutir quem tem o número
mais correto ou a melhor metodologia. O importante,
para a sociedade, é dispor de dados mensais
mostrando a situação da floresta,
para que ela possa cobrar mais ação
do governo na punição a crimes ambientais
e maior responsabilidade por parte de madeireiros,
agricultores e pecuaristas.
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O governador do Mato Grosso e
a falsa escolha de Sofia
25 de Abril de 2008 Nos últimos
anos, o cultivo de soja se tornou uma das principais
ameaças à floresta amazônica
Manaus (AM) e São Paulo (SP) — Crise de alimentos
acirra debate entre proteção ambiental
e crescimento econômico. Argumento de Maggi
é desculpa para desmatar.
O governador do Mato Grosso, Blairo
Maggi, deu um passo atrás em sua recente
conversão ao meio ambiente. E voltou a defender
o desmatamento da Amazônia, desta vez com
a justificativa de produzir mais alimentos. Em declaração
à imprensa, Maggi afirmou que “com o agravamento
da crise de alimentos, chegará a hora em
que será inevitável discutir se vamos
preservar o ambiente do jeito que está ou
se vamos produzir mais comida”.
Ao reforçar o velho paradigma
meio ambiente versus desenvolvimento, o governador
do estado que mais desmata no Brasil contradiz totalmente
a posição que assumiu em Bali, durante
a reunião da ONU para discutir as mudanças
climáticas, quando procurou mostrar seu lado
“verde” e foi aplaudido por isso, ou por sua participação
em outubro de 2007, no lançamento do Pacto
pelo Desmatamento Zero. Naquela ocasião,
o governador havia advertido que “o leão
do desmatamento não estava morto, mas apenas
dormindo”. Os recentes dados que mostram aumento
na destruição florestal estimulada
pelos preços elevados de grãos e carne
no mercado internacional indicam que o Leão
despertou e está com fome.
“A declaração do
governador vem em um momento em que a Amazônia
se encontra sob fogo cerrado. Depois do anúncio
do aumento nas taxas de destruição
florestal, da apresentação de um projeto
na Câmara dos Deputados que amplia o desmatamento
em áreas privadas da Amazônia e de
uma medida provisória que anistia grileiros,
o agronegócio brasileiro vem querer aproveitar
a crise mundial de alimentos, de maneira oportunista,
como justificativa para o ataque à floresta”,
disse Paulo Adario, coordenador da campanha da Amazônia
do Greenpeace.
Para a organização
ambientalista, o dilema entre desmatar ou passar
fome é falso. A distribuição
injusta de alimentos é um fator-chave para
a crise. Há comida suficiente para alimentar
todos os seres humanos do planeta, mas muitos grãos
estão deixando de ser utilizados como alimento
para serem usados na produção de biocombustíveis
ou de ração animal para atender a
crescente demanda por carne, principalmente nos
países desenvolvidos.
O desmatamento das florestas tropicais
é responsável por pelo menos um quarto
das emissões de gases que provocam o efeito
estufa. No caso do Brasil, o índice sobe
para 75%. Destruir a Amazônia significa comprometer
a capacidade de produção brasileira,
já que as chuvas que caem nas regiões
Centro-Sul e Sudeste do País e em outros
países da América Latina são
produzidas na região. Portanto, a manutenção
da floresta é essencial para manter a grande
produtividade agrícola não apenas
do Mato Grosso, mas do Brasil.