24/04/2008
- O inventário das 100 maiores indústrias
emissoras de dióxido de carbono no Estado
de São Paulo, que acaba de ser divulgado
pela CETESB – Companhia de Tecnologia de Saneamento
Ambiental, foi citado por Xico Graziano, como uma
contribuição do Governo do Estado
para as ações que buscam reduzir a
emissão dos gases de efeito estufa. A declaração
foi feita durante o seminário “As negociações
sobre o clima em fase decisiva: o que está
em jogo, o que querem os grandes jogadores e como
deve jogar o Brasil”, em que o secretário
estadual do Meio Ambiente participou como comentarista,
no último dia 22/04.
O evento, promovido pelo Instituto
Fernando Henrique Cardoso e a Bolsa de Mercadorias
& Futuros, em São Paulo, teve como apresentadores
o embaixador Rubens Ricupero, presidente do Instituto
Fernand Braudel de Economia Mundial, e José
Domingos Gonzales Miguez, secretário-executivo
da Comissão Interministerial sobre Mudanças
Climáticas. Contou também com a participação
de Eduardo Viola, professor do Instituto de Relações
Internacionais da Universidade de Brasília,
além de Graziano, como debatedor. Entre os
presentes, estavam o presidente do IFHC, Fernando
Henrique Cardoso, Manoel Félix Cintra Neto,
presidente da BM&F, Celso Lafer, ex-ministro
do Exterior além de outros embaixadores,
políticos, empresários e especialistas
nas questões relacionadas ao aquecimento
global.
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Graziano apresentou algumas ações
que vêm sendo desenvolvidas pelo Estado de
São Paulo, como forma de contribuir para
a redução das emissões do dióxido
de carbono (CO2). Além da realização
do “Inventário Estadual de Fontes Fixas –
Emissões de CO2 – Combustíveis Fósseis”,
com o levantamento das emissões dos gases
que têm impacto direto sobre o clima, o secretário
citou os programas que visam reduzir o desmatamento
na Amazônia, impedindo a entrada de madeira
sem origem comprovada no Estado; a recuperação
das matas ciliares, que devem resultar no aumento
de 50% na cobertura vegetal do Estado e o programa
do Etanol Verde, que já apresenta como resultado
concreto a redução dos prazos para
a eliminação da queima da palha de
cana. Sugeriu também que sejam criados mecanismos
que estimulem a manutenção da floresta
em pé, como a aplicação de
impostos territoriais “negativos” para os proprietários
que preservem áreas com cobertura vegetal
significativa no País.
O cultivo da cana, como principal
fonte de combustível renovável, também
foi abordada por Ricupero. Ele considerou equivocada
a política brasileira de aproximação
com os Estados Unidos, na expectativa de criar alianças
e ampliar o mercado, e reforçou a necessidade
da adoção de políticas claras,
que confirmem a disposição brasileira
de preservar a Amazônia e impedir a destruição
de sua floresta, além de assumir a posição
de vanguarda na utilização de energias
limpas, a partir dos biocombustíveis e hidrelétricas.
Para Miguez, o Brasil tem feito
muito, embora não se encontre na relação
das nações que já assumiram
metas de redução das emissões
de CO2. Ele destacou posições defendidas
a partir da Conferência de Bali, entre as
quais a necessidade de exigências diferentes
para os países que só recentemente
atingiram a industrialização e que
apresentam alto índice de crescimento urbano,
como é o caso do Brasil. Citou também
a disposição do governo brasileiro
de antecipar metas de redução do CO2,
desde que tenha apoio econômico e tecnológico
que não comprometam seu desenvolvimento.
Especialista em política
internacional, o professor Viola mostrou-se otimista
em relação às próximas
eleições americanas, que podem contribuir
para a mudança de postura do governo dos
Estados Unidos em relação às
metas estabelecidas a partir do Protocolo de Kyoto.
Segundo ele, existe um vácuo na hegemonia
mundial, que pode ser preenchido pelos EUA, como
maior potência econômica, responsável
por 25% da produção industrial global.
Assim como Graziano, ele concorda, porém,
que no Brasil o grande vilão do efeito estufa
é o desmatamento e que é preciso desenvolver
políticas públicas para que seja estancado
drasticamente.
Texto: Eli Serenza
Foto: Pedro Calado