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ÍNDIOS DE RORAIMA PEDEM APOIO EM CAMPANHA CONTRA OS ARROZEIROS

Panorama Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Maio de 2008

01/05/2008 Nessa quarta-feira (30 de abril), na sede do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), em Brasília, lideranças de Roraima se encontraram com a imprensa para relatar a tensão vivida pelos povos no local – ainda invadido por arrozeiros. Na coletiva, falaram sobre a real ameaça à soberania e disseram acreditar na manutenção da demarcação integral da Terra Indígena (TI) Raposa - Serra do Sol.

Os representantes da TI Raposa-Serra do Sol, de Roraima, aguardam em Brasília a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a manutenção da área demarcada, após suspensão da operação de desintrusão, no início de abril. “Estamos querendo só ver reconhecido um pedacinho do Brasil para os povos indígenas, pois a grande maioria das terras indígenas brasileiras já está ocupada pelos não-índios”, definiu o coordenador do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Dionito José de Souza.

A possibilidade de o Supremo reverter a decisão de homologação de Raposa em terra contínua preocupa. Dionito afirma que a demarcação em ilhas é inviável, porque afetaria a liberdade dos povos: “Se o STF voltar atrás, não existe lei. Se não fizer justiça, estará violando nossos direitos. Não queremos negociar a presença dos arrozeiros nem o uso da terra por eles. Não queremos viver de migalhas.” Entretanto, a previsão que fazem é positiva: “Acreditamos que o Supremo Tribunal Federal vai fazer valer nosso direito, já que foi o próprio Supremo que determinou a demarcação e a homologação da terra indígena”, disse o indígena, referindo-se a decisões do Supremo em 2005, que garantiram a homologação.

Na conversa com os jornalistas, os líderes disseram que não querem ser vistos pela sociedade como empecilho para o desenvolvimento do país. “Estamos aparecendo como estrangeiros na mídia, mas moramos, nascemos e morreremos em terras brasileiras. Somos brasileiros. Somos povos indígenas deste país”, disse o coordenador do CIR. Ele falou, ainda, que os indígenas são os responsáveis pela preservação ambiental da região e pela defesa da área: "Estamos na nossa casa e vamos cuidar dessa nossa casa preservando a natureza, as matas, os rios. A gente acredita que assim também estamos defendendo nosso país.”

Em resposta às declarações do comandante militar da Amazônia, general Augusto Heleno, de que as terras indígenas em áreas de fronteira ameaçariam a soberania nacional, o líder indígena denunciou ações dos rizicultores: “Paulo César Quartiero (líder dos arrozeiros e prefeito de Pacaraima, município no limite das duas localidades) invadiu a Terra Indígena, não paga um centavo ao Estado, quebrou pontes, incendiou casas dos índios... Os invasores colocaram até uma bandeira da Venezuela na entrada da Terra Indígena e os índios é que são ameaça à soberania do país?”.

O dirigente do CIR contou que os rizicultores ameaçam os índios com pistoleiros, dizem que não querem indenização e que não vão sair. “As pessoas que não querem cumprir a lei brasileira querem violar direitos dos povos indígenas e demonstrar que nós temos que ser dominados ou escravizados. Mas nós queremos viver, trabalhar, com dignidade e com respeito na sociedade”, disse o macuxi.

Lourenço Wapichana, líder da Associação dos Povos Indígenas da Terra São Marcos (APITSM), que representa 5 mil indígenas que vivem na área vizinha à TI Raposa-Serra do Sol, contou que as ações do arrozeiros, como a interdição de estradas e bloqueio de pontes, afetam todos os índios das proximidades. Ele disse que a polêmica “pode abrir precedente para todas as outras TIs no Brasil” e por isso espera que seja feita justiça: “Queremos vencer com diplomacia”. Mesmo assim, não se descarta a possibilidade de conflito com os arrozeiros. “ Nós somos vítimas da violência deles. Se houver confronto, será com a polícia e não com os indígenas”.

Dentro dos próximos dois meses, o STF deve julgar o mérito de uma Ação Popular que pede a nulidade da Portaria nº 534/05, do ministro da Justiça, que declara a terra como indígena. No dia 29 de abril, a Procuradoria-Geral da República encaminhou para o STF parecer que considera válida a homologação de Raposa-Serra do Sol em área contínua.

*Na coletiva, também estiveram presentes outras 10 lideranças indígenas do CIR, Sodiur, Alidecir, Apitsm, Apir, Opir e Cecac, além das organziações que compõem o Fórum em Defesa dos Direitos Indígenas – FDDI (Coaib, Apoinme, CIR, Foirn, CTI, Cimi, Inesc, Isa, CCPY, Anai, ABA e Opan).

Campanha

Em busca do apoio da sociedade, o Conselho Indígena de Roraima (CIR) lançou a campanha "Anna pata Annayan", de solidariedade com os povos indígenas da Raposa-Serra do Sol. A participação consiste no envio de uma carta às autoridades brasileiras, com o pedido de cumprimento o decreto de homologação da TI.
ISA, Katiuscia Sotomayor.

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Ato em Altamira (PA) divulga Encontro Xingu Vivo para Sempre

02/05/2008 Às margens do Rio Xingu, em Altamira (PA), representantes de organizações da sociedade civil promoveram ato público no qual exibiram os cartazes do evento que vai reunir populações indígenas e ribeirinhas, entre 19 e 23 de maio, para debater projetos hidrelétricos e seus impactos na Bacia do Xingu.

No final da tarde da última terça-feira, 29 de abril, representantes das organizações responsáveis pela realização do Encontro Xingu Vivo para Sempre e grupos de jovens e ribeirinhos, reuniram-se no trapiche do Rio Xingu, na cidade de Altamira, para falar sobre o encontro. Aproveitaram para ler poemas e lembrar fatos marcantes na luta pela preservação do rio.

Cerca de mil pessoas, entre representantes de populações indígenas e ribeirinhas, movimentos sociais, organizações da sociedade civil e pesquisadores, organizam o Encontro Xingu Vivo para Sempre para discutir projetos hidrelétricos e seus impactos na Bacia do Rio Xingu. Incluem-se aí a construção prevista da usina de Belo Monte, que faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e as pequenas centrais hidrelétricas (PCHs). Tanto as que já estão prontas, como a do Culuene (MT), quanto as que estão em construção e as que estão planejadas para o Pará e o Mato Grosso. Se forem adiante, tais projetos devem atingir direta e indiretamente cerca de 16 mil pessoas, 14 povos indígenas entre elas.

A mobilização ocorre 19 anos depois do I Encontro de Povos Indígenas, realizado em Altamira, que reuniu três mil pessoas, das quais 650 eram índios. Naquela época, os participantes protestaram contra a construção já prevista de cinco hidrelétricas no Rio Xingu, Belo Monte entre elas. Os protestos tiveram repercussão internacional e levaram o Banco Mundial a cancelar o financiamento previsto para o empreendimento, que até hoje não saiu do papel. (Saiba mais)

O Encontro Xingu Vivo para Sempre vai debater os impactos das usinas previstas para a Bacia do Rio Xingu e as ameaças que representam às populações tradicionais. Os participantes também pretendem propor ações que apontem para um modelo de desenvolvimento alternativo para a região, considerando o planejamento integrado da bacia, além de discutir a formação de um Comitê para a Bacia Hidrográfica do Xingu.

Líderes de movimentos sociais e indígenas, especialistas no tema energia e hidrelétricas, procuradores do Ministério Público Federal e membros do governo devem participar do evento. Foram convidados representantes da Eletronorte, da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), Funai (Fundação Nacional do Índio) e de alguns ministérios.

Histórico

Em 1989, os povos indígenas protestaram contra o projeto de aproveitamento hidrelétrico do Xingu, que inundaria cerca de 1,7 milhão de hectares, com a construção de cinco barragens em trechos do rio. A forte oposição de índios, ambientalistas e movimentos sociais, fez com que o projeto fosse deixado de lado. Correu o mundo a. foto da índia Kayapó Tuíra que encostou a lâmina de seu facão no rosto do então presidente da Eletronorte, José Antônio Muniz Lopes, num gesto de advertência. Lopes continuou ocupando o cargo durante o governo FHC e hoje é presidente da Eletrobrás.

Em 1999, o projeto foi retomado em menor proporção, com a previsão de uma só barragem na chamada Volta Grande do Xingu, em Altamira. Apesar disso, os impactos socioambientais e inúmeras irregularidades nos estudos e no licenciamento da obra levaram o Ministério Público Federal a questioná-la judicialmente repetidas vezes.

Em 15 de abril último, a Justiça Federal acatou o pedido de liminar do Ministério Público Federal que suspendeu a autorização dada a consórcio formado por três grandes construtoras para finalizar o Estudo de Impacto Ambiental (EIA-Rima) de Belo Monte. Vários pesquisadores e instituições vêm questionando a viabilidade técnica e econômica da usina, que teria potencial para gerar até 11,1 mil megawatts, mas que, durante a maior parte do ano, seria capaz de gerar no máximo 4,6 mil megawatts.

Também é preocupante a construção de pequenas centrais hidrelétricas previstas para o Xingu, cujas licenças dependem apenas do governo estadual. O caso mais emblemático é o da PCH do Culuene já construída e nove outras previstas, que se construídas deverão afetar a vida de 18 povos indígenas da região.

O movimento Xingu Vivo para Sempre acredita que as hidrelétricas na Bacia do Rio Xingu podem causar a remoção forçada de comunidades, prejuízos para a pesca e o transporte fluvial, emissão de gases de efeito-estufa pelos reservatórios e o aumento de doenças como malária e febre amarela.

Organizações participantes

Associação Floresta Protegida - Kayapó, Associação Terra Indígena Xingu, Amigos da Terra-Amazônia Brasileira, Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Fórum Popular de Altamira, Prelazia do Xingu, Fundação Viver Produzir e Preservar (FVPP), Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Fórum de Direitos Humanos Dorothy Stang (FDHDS), Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Pará (SINTEPP), Movimento de Mulheres Trabalhadoras de Altamira Campo e Cidade (MMTA-CC), Associação das Mulheres Agricultoras do Assurini, Associação de Mulheres Agricultoras do Setor Gonzaga, S.O.S. Vida, Federação dos Trabalhadores na Agricultura (FETAGRI), STR-Altamira, Grupo de Trabalho Amazônico Regional Altamira (GTA), Fórum da Amazônia Oriental (FAOR), Comissão Pastoral da Terra (CPT), Mutirão pela Cidadania, Associação Pró-Moradia do Parque Ipê, Associação Pró-Moradia do São Domingos, Grupo de Mulheres do Bairro Esperança, Fundação Tocaia, Fundação Elza Marques, Pastoral da Juventude, Sindicato das Domésticas de Altamira, Associação dos Moradores da Resex Riozinho do Anfrisio, Associação dos Moradores da Resex do Iriri e Associação do Moradores do Médio Xingu, entre outras entidades locais, apoiadas pelo Instituto Socioambiental (ISA), International Rivers - Brasil, WWF, FASE, Instituto de Pesquisa da Amazônia (Ipam), Rainforest Foundation, MMCC,CASA, ASW,Fund.BÖLL, Survival International, Rainforest Concern, Indigenous People's Cultural Support Trust, Environmental Defense Fund, Suzuki Foundation.

Índios são baleados na Raposa-Serra do Sol
05/05/2008 O Conselho Indígena de Roraima divulgou nota no final desta manhã dando conta de que índios foram atacados por empregados da fazenda Depósito, de Paulo César Quartiero, deixando cerca de dez índios feridos. Um deles em estado grave.

De acordo com uma testemunha, os índios da alderia Renascer estavam construindo casas, perto do igarapé Tracajá, quando foram atacados com bombas e tiros disparados por motos e um carro que teriam vindo da fazenda Depósito. Os agressores seriam empregados do rizicultor Paulo César Quartiero. Por volta das 16h, a testemunha aguardava na delegacia da PF de Boa Vista para dar seu depoimento sobre o caso.

Ouvido pelo jornal Folha de Boa Vista, Paulo César Quartiero disse que os índios teriam invadido a fazenda com arcos e flechas, provocando a reação dos empregados.

A PF, de acordo com sua assessoria de imprensa, foi acionada pela Fundação Nacional do Índio (Funai) e está na área para garantir a segurança da população e evitar confrontos, enquanto toma pé da situação.

Não é a primeira vez que os índios da TI Raposa-Serra do Sol sofrem ataques e invasões, algumas atribuídas ao rizicultor Paulo César Quartiero. Em novembro de 2004, por exemplo, quatro aldeias –Jawari, Brilho do Sol, Lilás e Homologação - foram atacadas. Leia mais.

Em 2005, quatro dias antes dos festejos em comemoração à homologação da TI, assinada em abril daquele ano, cerca de cem homens encapuzados e pintados invadiram e destruíram os dois prédios do centro de formação da Terra Indigena, na comunidade do Barro. Na época, a Polícia Federal (PF) informou que quatro pessoas ficaram feridas. Saiba mais.

No final de março deste ano, a PF montou a Operação Upatakon 3 para promover a desintrusão da TI. Mas teve de suspendê-la por determinação do Supremo Tribunal Federal. Confira.

No final da manhã de hoje, 5 de maio, o Conselho Indígena de Rorarima divulgou carta às autoridades denunciando o atentado e pedindo a punição dos culpados. Leia abaixo:

Conselho Indígena de Roraima

Carta nº. 355/08 – CIR Boa Vista – RR, 05 de maio de 2008

Às autoridades,

Prezados Senhores,

Vimos a informar que na manhã de hoje (05/05/2008) às 10:00, foram baleados 10(dez) indígenas na Terra Indígena Raposa Serra do Sol em Roraima, por disparos de arma de fogo efetuados por jagunços do arrozeiro Paulo César Quartiero.

Os indígenas são: ALCIDES, JEREMIAS, LENE, GLENIO, TIAGO, ERIVALDO, XAVIER, CLEBER e mais dois. O último indígena está em estado bastante grave, atingido por tiros na cabeça, ouvido e nas costas.

As comunidades indígenas da TI Rapo.sa Serra do Sol estavam construindo suas casas em sua terra, quando uma caminhonete e 05 (cinco) motoqueiros, vindo da Fazenda Deposito, de ocupação do arrozeiro Paulo César, chegaram logo atirando por todos os lados no sentido de impedir que os indígenas construíssem suas malocas.

Um dos pistoleiros foi identificado como “Roberto”. Logo que efetuaram suas armas de fogo fugiram. Os indígenas estão sendo encaminhados a Boa Vista juntamente com a Policia Federal. Inúmeras vezes o CIR e as comunidades indígenas têm denunciado que os arrozeiros invasores tem impedido o livre transito dos indígenas e levado pistoleiros para suas fazendas e nada tem sido feito. Os conflitos ora ocorrido na TI Raposa Serra do Sol, razão da disputa sobre a terra, vem confirmar a necessidade de punir o arrozeiro Paulo César Quartiero, mandante dos atos de violência e retirá-lo imediatamente de nossas terras.

As comunidades indígenas estão bastante revoltadas com tudo que tem ocorrido dentro de sua casa, onde são humilhadas, os bens destruídos e ainda seus membros ameaçados e baleados. O Conselho Indigena de Roraima – CIR, diante das violações dos direitos humanos dos povos indígenas na TI Raposa Serra do Sol, vem solicitar providencias URGENTES e IMEDIATAS.

Atenciosamente, Terencio Manduca/ Vice-Coordenador do CIR

 
 

Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
Assessoria de imprensa

 
 
 
 

 

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